Quando falamos em evolução, no mundo da música, tentamos entendê-la dentro de um período de tempo razoável, geralmente de alguns anos, com avanços graduais no desempenho dos músicos, tanto como interpretes quanto como compositores.
Por vezes, porém, a evolução dá saltos mais significativos e é capaz de nos surpreender, mesmo quando já estamos com as expectativas em alta.
O Fallen Idol, banda da cidade de Arujá, na região metropolitana de São Paulo, iniciou sua caminhada em 2012 e, em 2015, lançou seu ótimo e autointitulado primeiro trabalho, apresentando um Doom Metal bem tradicional, repleto de melodia e passagens climáticas. Uma excelente estréia, sem dúvida, mas, decorrido o espaço de tempo aproximado de um ano, em 2016, surgiu “Seasons Of Grief” e todas as promessas do primeiro disco foram superadas.
O esmero na escolha da arte de capa é provavelmente o único fator que permaneceu constante. Fora isso, elementos como produção, composição, performance, surgem mais bem estabelecidos e não podemos desprezar, para a obtenção desse resultado, o fato do trio ter mantido a sua formação inalterada ao longo do tempo.
Com muita influência de St. Vitus e, principalmente, Candlemass, o disco abre com a faixa título, de riff bem forte e onde o vocal do guitarrista Rodrigo Sitta, explora, com bastante versatilidade, todas as possibilidades interpretativas e variedade de timbres à sua disposição, iniciando com o predominante vocal limpo e subindo para tons mais altos, de acordo com as necessidades narrativas das poéticas e lúgubres letras do baixista Márcio Silva. Mais à frente, na mesma faixa, quando tem início uma condução de rítmica mais pesada, Rodrigo utiliza também um semigutural, deixando a passagem mais agressiva.
“Nobody´s Life” tem um clima mais soturno e se destaca pelo trecho intermediário em que o baixo executa uma linha e, sobre ela, a guitarra inicia o seu solo. Conforme vai avançando, o baixo vai criando variações sobre a mesma linha, culminando juntos no ápice do solo, em um momento de perfeita harmonia dentro de uma faixa que ainda inclui a utilização de vocais dobrados, em um recurso de muito bom gosto e que é utilizado com sábia parcimônia em outros momentos do disco.
O ataque dos pratos, executado pelo baterista Ulisses Campos, que pontua o riff principal de “Unceasing Guilt”, marca essa faixa carregada de dramaticidade e que é seguida pelo momento mais metal tradicional do disco, em “Heading For Extinction”, cujo resultado nos demonstra como o Judas Priest poderia soar caso fosse uma banda de Doom Metal, além de contar com uma pequena intervenção de teclado, cujo timbre nos remete ao que era utilizado nos filmes de terror da produtora inglesa Hammer, com um ótimo resultado dentro do arranjo.
“The Boy And The Sea” também tem uma condução um pouco mais dinâmica do que se faz presente no contexto geral do disco e é marcada pelo seu solo carregado de wah-wah, criando mais variedade nesse que é um dos pontos que mais foram privilegiados na produção desse álbum em comparação com o primeiro. De fato, os solos nas músicas do Fallen Idol são muito bem colocados, como uma parte essencial da estrutura das composições, mas, no primeiro disco, embora estivessem impecáveis em termos de execução, a sua sonoridade parecia meio deslocada dentro da mixagem do álbum. Aqui a produção trabalhou muito bem nesse sentido e os solos soam tão vívidos quanto melódicos no contexto de cada canção.
Após “Worsheep Me”, outra faixa de interpretação instigante, o disco termina com “Satan´s Crucifixion”, um épico de quase seis minutos, cuja aparente curta duração contrasta com a inspiração abundante em uma música de levada na linha dos norte-americanos do Trouble e um vocal que incorpora o Ozzy Osbourne de começo de carreira. Quando chega a sua sequência final, parece que a música passou rápido demais e essa é uma sensação que pode ser remetida para o disco por inteiro, que é um trabalho de muita coesão e, sem dúvida, um dos melhores álbuns brasileiros do ano passado. Por ser uma banda independente, o Fallen Idol ainda tem um certo caminho a ser percorrido até que alcance o destaque que merece, mas isso não nos furta da oportunidade de desfrutarmos desse álbum.
E lembrem-se: a evolução é uma roda de movimento incessante. Ela está sempre atuando. Se, em dois álbuns, o Fallen Idol já nos agraciou com essa obra que se nos apresenta, imaginem o que podemos esperar de um vindouro terceiro disco?
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9/10