A renovação diária que o Heavy Metal passa, com novas bandas surgindo em todos os recantos, é o melhor termômetro da força e longevidade desse estilo que ainda vai avançar por décadas à frente. Mas, tão salutar e empolgante quanto essa renovação, é o fenômeno da revitalização de antigas bandas inativas. Ocorre com menos frequência, naturalmente, mas mostra que esse é um tipo de música realmente diferenciado.
As pequenas bandas underground não voltam para os palcos porque receberam uma oferta para uma turnê rentável ou coisa do tipo. Voltam pela paixão, por aquele incômodo interior que a inércia promove, quando você sabe que ainda tem espaço para participar do jogo e a sede de bola lhe fará entrar literalmente matando.
O Faces of Death é a representante do Death e Thrash Metal da cidade de Pindamonhangaba, estado de São Paulo, que vem engrossar as fileiras dessa estatística. Tendo estado ativa durante a década de 90, a banda lançou duas demos e depois se desfez. O fundador Laurence Miranda convocou o seu irmão e agregou mais dois companheiros ao time para, em 2017, reformular o projeto. No mesmo ano foi gravado e disponibilizado o EP “Consummatum Est”, com cinco faixas que demonstram que o grupo não foi afetado pelas tendências mais modernas e pratica uma sonoridade old school, com o vocal gutural de Laurence declamando as letras por cima de riffs que priorizam o peso, fazendo com que a velocidade surja como ornamento nos momentos certos, sem ser usada gratuitamente.
O som do EP está bem orgânico e remete ao padrão daquela década, soando por vezes como se estivéssemos escutando algum dos primeiros discos do Benediction em vinil. As faixas escolhidas demonstram competência dentro da proposta da banda e mantém coesão entre o todo, mas “Anno Domini” merecia ser mais trabalhada. Sua curta duração me deixou com a sensação de que poderia haver mais desenvolvimento em seu andamento, de que a canção pedia por mais tempo e não lhe foi concedido. Também faço ressalvas para a utilização do fade out no final de “New Age”, que é um recurso que poderia ser evitado em prol de uma solução de arranjo mais apropriada, mas que não chegou a comprometer a pegada da faixa.
“Killer in the Name of God” surge como destaque no disco e a sua qualidade é ampliada pela bem trabalhada introdução instrumental. A música que nomeia o EP ganha bastante agressividade nos momentos em que a letra é proferida com cadência quase silábica e “13 Lost Souls”, a última, faz o encerramento confirmando a tendência do guitarrista Talles Donola em apresentar solos econômicos, mas que casam perfeitamente com o resultado que cada música necessita.
Talles já deixou a banda e foi prontamente substituído por Felipe Rodrigues. Vamos ver como ele contribuirá para a sonoridade do full length que a banda está preparando. O passo principal – o retorno – já foi dado. Este está consumado, de fato, mas aguardemos para que essa atual encarnação seja mais longeva, pois, a trajetória no Metal, essa não se consuma nunca.
Formação
Sylvio Miranda – baixo
Sidney Ramos – bateria
Talles Donola – guitarra
Laurence Miranda – vocal/guitarra
Músicas
1.Killer in the Name of God
2.Consummatum Est
3.New Age
4.Anno Domini
5.13 Lost Souls