Na época em que essa banda me surgiu, eu entendia que Dan Beehler era uma espécie de mutante. Enquanto todos os demais seres humanos são divididos fisicamente em cabeça, tronco e membros. Dan parecia ser anatomicamente dividido em cabeça, tronco, membros e bumbos!!! Bateristas que cantavam já não eram novidade, mas com a pegada do Exciter??? Não me lembro de nenhum outro que fizesse o que Dan fazia, tocando daquela forma e gritando como gritava!
Certamente que, do boom de bandas canadenses da década de 80, o Exciter foi a mais popular no Brasil. E isso não se deveu ao fato de ter vindo tocar aqui junto com o Venom. O Exciter já tinha status de gigante perante nosso underground. Como poderiam os fãs de Heavy Metal serem indiferentes, quando o som do grupo era um cruzamento anfetaminado entre Judas Priest, Motorhead e Saxon? Sem desmerecer o talento do baixista Alan Johnson, o alicerce do Exciter era a performance vocal/instrumental de Dan Beehler e o timbre personalíssimo, no estilo motoserra, da guitarra de John Ricci. Essas características se mantiveram inalteradas no decorrer dos três clássicos de sua primeira fase, desde a dobradinha fulminante “Stand Up And Shout/Heavy Metal Maniac”, do primeiro disco, até o último acorde do disco aqui presente.
“Long Live The Loud”, terceiro álbum de sua discografia, é certamente o trabalho mais completo do grupo. A estreia “Heavy Metal Maniac” era pura crueza e explosão, onde a produção precária e cheia de reverb acentuou o timbre característicamente rasgado do som da guitarra. “Violence and Force” foi o clássico-mor, que consolidou o Exciter como mais do que uma promessa e “Long Live the Loud” restou como a ampliação das intenções de “Violence and Force”: melhor composto, executado e gravado. Músicas mais longas e desenvolvidas: “Sudden Impact”, “Beyond the Gates of Doom”, “Long Live the Loud”, “I Am the Beast”, “Wake Up Screaming”… a listagem de destaques desse álbum exige que todas sejam mencionadas!
Porém, a passagem do tempo guarda alguns mistérios e, como tantas outras histórias do universo Heavy Metal, o Exciter teve sua ascenção prejudicada pelas mudanças de formação. O álbum seguinte, “Unveiling the Wicked”, já não tinha John Ricci na formação e, apesar de ser um excelente disco, houve uma quebra na pegada. Quando Ricci voltou, o estrago já estava feito e o Exciter já tinha perdido um terreno que nunca mais conseguiu recuperar, tendo que se acomodar no mesmo nicho do underground onde repousam praticamente todas as grandes bandas de Metal do Canadá. Evidente que isso não é demérito nenhum, muito pelo contrário. Autenticidade e sucesso comercial nem sempre se dão bem, mas uma melhor sorte na carreira privilegia tanto a banda quanto os fãs, que poderiam desfrutar da obra de artistas mais prolíficos, menos dependentes de fatores outros para produzirem sua música. Dizer que o Exciter original deixou “apenas” três discos é um erro, pois parece diminuir a importância desses discos, mas, de qualquer forma, não tem problema. A relevância dos três supera, com folga, a obra mais extensa de muitos outros artistas por aí e mantém a banda viva e atuante, principalmente agora que retornou com a formação consagrada no coração e na mente dos fãs.
Formação
Dan Beehler − vocal, bateria
John Ricci − guitarra
Allan Johnson – baixo
Músicas
01.Fall Out
02.Long Live the Loud
03.I Am the Beast
04.Victims of Sacrifice
05.Beyond the Gates of Doom
06.Sudden Impact
07.Born to Die
08.Wake Up Screaming