Resenha: Eternal Champion – The Armor of Ire (2016)

“Do oeste eu ouço os cavaleiros de Tarsul indo
No Norte, eles se juntam a Haiklan na guerra
Deixai-os subir até encontrar meus exércitos, eles estão com fome de batalha
E eu prometi-lhes um banquete do sangue de duas nações”

NR: Trecho extraído de “I am The Hammer” – Eternal Champion

Sangue, batalhas, cavaleiros e heróis – um denso mundo medieval se extende pelas oito faixas de “The Armor of Ire”, trabalho excepcional da banda americana de Epic Heavy Metal Eternal Champion, algo que já fica muito claro na belíssima capa que adorna o CD. A paisagem é uma obra de arte: montanhas, vales, florestas, um castelo em meio à névoa e um radiante pôr do Sol. Com alguma bagagem de conhecimento literário ou gamer, neste breve momento as referências ja inundam a imaginação.

NR: Eternal Champions foi o título homônimo de um jogo de luta desenvolvido e lançado em 1993 pela renomada Sega. Foi um dos poucos jogos de luta de seu tempo desenvolvido desde o início como um título de console doméstico, em vez de ser lançado nos fliperamas primeiro e depois portados para os sistemas domésticos. Quem jogou, sabe o que é sofrer nessa vida…

Game da Sega homônimo

HISTÓRICO: Eternal Champion (a banda) formou-se em 2012, na cidade de Austin, capital do Estado do Texas – EUA. Lançou seu primeiro trabalho em 2013, a demo intitulada de ‘The Last King of Pictdom‘. Um single e um split separaram a banda de seu primeiro full-lengh, que chegou apenas em 2016 -“The Armor of Ire” foi lançado oficialmente em 27 de Setembro, e foi distribuído pela No Remorse Records. O disco é uma narrativa contínua de uma estória. Vale a pena ouvir o disco e acompanhar o letrismo, sendo que há também alguns epílogos narrando fatos que fazem ligação dos momentos na cronologia da trama. Atualmente a banda conta com mais um EP (2017) e um novo single (2019) completando sua discografia. A formação do grupo é a mesma desde seu surgimento.

DISSECANDO O DISCO: um ambiente de mistério inicia o disco, como se dois exércitos inimigos se analisassem a distância. “I am The Hammer” descreve a estória do líder dos Guardas de Lourn, chamado de O Martelo; de como se deu a guerra entre os reinos unidos de Haiklan, Tarsul e Kynara (aliados) contra Lourn. Musicalmente, a ambientação criada é de todo medieval: guitarras cadenciadas, um vocal limpo e poderoso, uma cozinha bem arranjada. Perfeita para iniciar a audição do ouvinte e capturar sua atenção, mantendo-o sobre o transe da marcha dos exércitos para a batalha. Na sequência vem a faixa titulo do álbum, “The Armor of Ire”. Mais rápida e melodiosa que sua antecessora, os riffs traspassam rapidamente seus quase cinco minutos de duração. “The Last King OF Pictdom” trata-se de uma regravação da primeira demo. A música mantém a energia carregando o ouvinte através da melodia. Guitarras poderosas ecoam um solo longo e agudo. “Blood Ice” é a primeira instrumental do disco, e resume-se a sons da já mencionada “ambientação de batalha”, com um final de guitarra provendo algumas escalas. “The Cold Sword” surge: rápida, forte, cavalgada, no melhor estilo Heavy Metal. O vocal de Jason Tarpey é sem dúvida muito marcante, e estiliza muito bem o cenário sugerido pela banda. Com um riff poderoso, pode facilmente ser promovida a uma das melhores do disco. “Invoker” inicia com as fortes características de uma “balada”: bateria levada e dedilhados de guitarra que… logo são substituídos por uma pegada forte, porém ainda assim cadenciada. Na letra, percebemos uma leve referência ao mestre do terror gótico H.P. Lovecraft, contextualizando com o universo criado pela banda. “Sing a Last Song of Valdese”, é a faixa mais longa do disco e tem uma sonoridade mais groovada, com maior quebra de tempo, saindo um pouco daquela marcha rítmica que as demais propuseram. “Shade Gate”, a última do disco e segunda instrumental, mostra um dueto de guitarras ambientando o que poderia ser o gozo da boa campanha conquistada. Encerra os cerca de 34 minutos do disco sem grandes escândalos.

Eternal Champion – The Armor of Ire

Um detalhe que diferencia a Eternal Champion das demais bandas do gênero é a abordagem deles em relação à tradição da fantasia, da qual tantas bandas desse tipo se inspiram: eles adotam uma abordagem muito mais sombria ao seu conteúdo lírico. Enquanto a maioria sempre explorou um conceito de “bem e mal” em suas obras literárias, “The Armor of Ire” trás um contexto mais profundo, destacando o equilíbrio cósmico existente nas forças opostas “ordem versus caos” – uma luta interminável e constante contra a loucura do mundo e todas as coisas horríveis que construímos, seja conquistando reinos ou convocando horrores indescritíveis.

Aos amantes de RPG, do mundo medieval do Senhor dos Anéis e seus contíguos, de Conan – o Bárbaro e de toda fantasia promovida pelos mitos e lendas que tanto já se entranharam em nossa existência, Eternal Champion de fato torna-se um prato cheio. Claro, tirando tudo isso e dedicando-se apenas a audição mais informal, como mero entretenimento, mesmo perdendo a riqueza da estória exposta, faz-se também divertido e agradável. Singelamente, este redator aguarda ansiosamente por uma continuação da Saga, ou mesmo, pela sequência no trabalho da banda, que haja vista, promete muito material para contemplar os fãs do velho Heavy Metal seco, direto e sem firulas.

Eternal Champion – The Armor of Ire
Lançamento – 27 de Setembro de 2016
Gravadora – No Remorse Records

Tracklist:
01. I Am the Hammer
02. The Armor of Ire
03. The Last King of Pictdom
04. Blood Ice
05. The Cold Sword
06. Invoker
07. Sing a Last Song of Valdese
08. Shade Gate

Formação:
Jason Tarpey – vocais
Carlos Llanas – guitarra
Nujon Powers – guitarra
Blake Ibanez – guitarra
Arthur Rizk – bateria

Mídias Sociais:
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