Resenha: Enforcer – From Beyond (2015)

Embora execute um som que tem amplo potencial para capturar a apreciação dos fãs de Metal old school, não é possível afirmar que o Enforcer seja uma unanimidade. E é melhor que não seja, pois já dizia o velho dramaturgo que toda unanimidade é burra. Existe, porém, uma certa injustiça no âmago da principal crítica a que a banda é submetida.

Falta de originalidade? Não me parece que seja esse o caso. Ok, a música do Enforcer não é algo inovador, longe disso, mas eles têm os méritos de criarem suas composições sem estarem clonando ninguém individualmente. Certos artistas emulam de forma descarada os maneirismos de alguma banda famosa; o Enforcer não traz esse tipo de especificidade, pois o que os influencia, de fato, é uma época, é um contexto temporal, e não uma banda literal. Se esse tipo de resgate for errado, então estarão erradas todas as bandas de Doom/Stoner que se inspiram no Black Sabbath? Ou de Hard Rock setentista? Ou de Prog/Folk, baseadas em música renascentista? Ou guitarristas como Brian Setzer, inspirados pelo Rockabilly? A lista de exemplos pode prosseguir indefinidamente, mas o que importa é a aferição do quão honesto o artista reverente se porta.

O começo dos anos 80 foi um período quase mítico, onde formações como Loudness, Jag Panzer, Savage Grace ou Agent Steel possuiam ares de que iriam para além do ponto que atingiram. Houve uma explosão de bandas das mais diversificadas, mas que flutuavam em uma delimitação ainda não dominada pelos extremismos. A fonte comum era a NWOBHM, sigla mais importante do Metal desde sempre e que, não por acaso, foi adaptada para nomear o movimento em que o Enforcer alcançou posições de liderança, a NWOTHM, sendo que esse “T”, dependendo de quem esteja definindo, pode ser tanto referente a “True” quanto a “Traditional”, não que seja uma diferença tão significativa. O Enforcer consegue, com mais propriedade que seus pares estílisticos, traduzir os maneirismos daquele cenário. Se nos discos anteriores, a identificação de referências, a sensação de já ter ouvido algo e identificá-lo com a fonte precisa, era mais presente, o trajeto até o quarto álbum apurou o talento dos músicos como compositores e formatou canções que associam-se hoje mais à cara de seus autores do que a dos ícones que lhes precederam.

Algumas inspirações, porém, são mais facilmente reconhecíveis e dificilmente afastadas, pois são indissociáveis da produção musical pesada do começo dos 80. O Enforcer apenas compreendeu a necessidade de limar os excessos e condensar as ideias em canções mais diretas e memoráveis. Iron Maiden é uma presença forte ao longo da audição e se faz sentir mais intensamente em momentos como “Below The Slumber”, a épica “Mask of Red Death” e na instrumental “Hungry They Will Come”.

O timbre de voz de Olof Wikstrand nos remete à outra de suas influências mais claras, que seria o Helloween lá do começo, da época de seu primeiro EP, quando havia um toque de fúria mais forte por cima dos aspectos melódicos. Apesar dos tons agudos serem mais constantes, Olof não deveria deixar de explorar o uso das regiões mais médias ou graves, pois a linha vocal da faixa título, “From Beyond”, é certamente um de seus melhores momentos no disco, juntamente com a já mencionada “Mask Of Red Death”. Canções desse tipo são contrapontos bem-vindos a velocidade de faixas na linha de “Hell Will Follow” e ao midtempo de “Undying Evil”, que explora ao máximo o potencial de seu refrão.

Enfim, o segredo está no apuro com que a banda realiza a sua criação. O Enforcer é sério e relevante. Não é caricato, não é satírico e, devo dizer, não é sequer mesmo saudosista, na interpretação pejorativa da palavra. É sincero. Como bons artesões, selecionaram o tipo de argila que lhe pareceu mais adequado e remodelaram em formas sonoras que mostram a sua assinatura, adesivada às referências. O produto entregue tem a essência de sua matéria-prima e apresenta-se como algo novo no contexto de sua geração.

 

Formação

Olof Wikstrand – guitarra, vocal

Joseph Tholl – guitarra

Jonas Wikstrand – bateria

Tobias Lindqvist – baixo

Músicas

01 Destroyer

02 Undying Evil

03 From Beyond

04 One with Fire

05 Below the Slumber

06 Hungry They Will Come

07 The Banshee

08 Farewell

09 Hell Will Follow

10 Mask of Red Death

 

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