Ao pensarmos em referência de frontman para o cenário do Metal Extremo, a nível mundial, é impossível não citar o nome Max Cavalera. Em patamar elevado encontra-se também o genial baterista Iggor Cavalera – este músico já foi condecorado com o título de melhor do mundo por mídias especializadas de grande renome. Os irmãos em destaque proporcionaram ao Brasil – um país reconhecido pelo samba e MPB – as mais valiosas conquistas que se pode ter no cenário do Metal: respeito seguido de admiração. É muito bacana poder assistir vídeos e ver fotos dos shows em que Max Cavalera se faz presente e vislumbrar a magnífica flâmula verde e amarela estendida no palco ou estampada numa guitarra. Somos sempre lembrados pelos quatro cantos do planeta Terra, pois majoritariamente o vocalista e guitarrista apresenta-se fora do Brasil – isso é sensacional pois assim vive-se literalmente a expressão “Return to Roots”.

Esperei avidamente, porém sem acreditar que fosse possível, desde a adolescência, a oportunidade de ouvir ao vivo “Arise” – lembro-me de ficar fascinado quando passava o clipe na antiga MTV -, “Beneath the Remains” – acho sensacional a música na versão “Live in Barcelona” de 1991 – e “Troops of Doom” – a primeira música de metal extremo que aprendi a tocar no violão (risos). Ao saber que os irmãos Cavalera anunciaram a tour mundial “Return Beneath Arise” entrei em estado de êxtase, pois com absoluta certeza o Brasil estaria na rota de shows e, mais especificamente, o Rio de Janeiro. Após a confirmação do evento, deram-se início aos trabalhos de pesquisa e divulgação – foi sensacional conhecer o set list previamente e poder ver o quão bacana ficou o tour bus estilizado para transportar os músicos pelo Brasil.

Após escrever matérias, divulgar o evento e somar esforços com a equipe de organização e produção, obtive autorização para credenciar-me e cobrir o show como redator e fotógrafo. Agradeço enormemente à Assessoria do Circo Voador (Marina Cunha) e Agência Sob Controle (Valdinei Freitas); essa oportunidade foi de grandessíssima valia para mim, tanto pessoal quanto profissionalmente. Deixo um abraço para o DJ Terror, pois, ajudou-me prontamente quando precisei e, muito além disso, garantiu a diversão da galera durante os preparativos iniciais e nos intervalos entre os shows – as músicas foram primorosamente selecionadas.

Chegado o grande dia (01/11/18), o Circo Voador abriu os portões exatamente às 20:00 horas e no momento contava com um quantitativo bem modesto de público. O ambiente interno da casa de shows propicia segurança – há revista física e com auxílio de detector de metais logo após as roletas e um número suficiente de profissionais de apoio -, opções diversas de bebidas e alimentos, espaço físico amplo e banheiros limpos. Havia também uma área de vendas de merchs dos irmãos Cavalera – apesar do dispendioso preço, valia a pena adquirir uma recordação, afinal, não há barreiras para o fanatismo musical – e de outros produtos referentes ao Rock.

Soaram então os primeiros acordes somados à chamada do vocalista Relentless para que o público pudesse se aproximar do palco e assistir o show da banda Endrah. Esta foi a primeira oportunidade que tive de assistir a banda oriunda de São Paulo ao vivo;  posso adiantar que achei sensacional a sonoridade extrema fundamentada no Hardcore – porém há traços de Death Metal perceptíveis em algumas passagens. O contrabaixo fretless de 5 cordas conduzido muito bem por Adriano Vilela; a guitarra pesada – afinação em si – criativamente sonorizada com ótimos riffs por Covero; a bateria ora reta, ora pulsante de Henrique Pucci; o vocal gutural com passagens um pouco mais rasgadas de Relentless: tudo isso foi o motivo pelo qual a apresentação do Endrah mereceu nota 10 e abriu a noite com grande estilo e qualidade.  Teoricamente a próxima banda a subir no palco seria o Enterro, porém por uma questão de organização cronológica e consequente respeito ao início do show dos irmãos Cavalera, a banda carioca foi transferida para encerrar a noite com sua sonoridade Black/Death Metal.

Enquanto o palco estava sendo organizado e preparado, foi bacana poder tomar umas cervejas (Heineken) e encontrar com artistas importantes para o Metal Nacional que estavam ali presentes para assistir os deuses, são eles: Cristiano Dias (Quintessente), Paulo Doc  (Lacerated and Carbonized), Ronnie (Forkill) e Angélica Burns (Hatefulmurder).

O Circo Voador estava simplesmente lotado quando a primeira aparição de Max Cavalera ao lado do palco gerou um uníssono grito recheado de aplausos vindos do público, todos aguardavam o início do show com grande anseio e expectativa. Iniciou-se então a introdução gravada de “Beneath the Ramains”, que perdurou por mais tempo do que estamos acostumados a ouvir no disco homônimo – isso elevou a sede por Metal dos fãs ali presentes. O mundo foi abaixo quando Max gritou: “Baneath the Remains”, Rio de Janeiro!”.  A sensação que tivemos ao ouvir a velocidade dos instrumentos e o vocal perfeito e maestral de Max Cavalera – superando toda e qualquer expectativa criada – foi que estávamos de volta ao início dos anos 90. Que espetáculo fenomenal!

Iggor Cavalera tocou impecavelmente e, por vezes, parecia que a levada das músicas estava ainda mais veloz do que as gravações originais – como sempre, o músico deu aula de percussão e mostrou que, quem é rei jamais perde a majestade. Ao olhar para os lados, todos estavam maravilhados; pude ouvir comentários muito positivos; observava os olhares dos fãs, alguns mareados pela emoção de presenciar os ídolos e ver que eles ainda encontram-se em plenitude. Eu mesmo mal pude acreditar quando Max Cavalera caminhou até a beira do palco e fez questão de saudar e cumprimentar a grande maioria de fãs que estavam na primeira fila, eu fui um desses felizardos. O frontman estava muito empolgado, agitou o público e relembrou os grandes sucessos – mesmo que não presentes nos discos referentes a tour – “Roots Bloody Roots”, “Troops of Doom” e “Refuse/Resist” – o mestre pediu para que ‘abrissem o mar vermelho’ e começassem a roda punk; questionou quem seriam os corajosos; cantou junto com um fã que subiu no palco e o abraçou. Houve também uma homenagem ao Motörhead com as músicas “Ace of Spades” – nessa hora Max Cavalera pulou na galera e flutuou nos braços do público – e “Orgasmatron”. Marc Rizzo tocou guitarra impecavelmente e demonstrou mais uma vez o quão exímio músico uma pessoa pode ser. Mike Leon destruiu no baixo – caso queira conhecer a destreza do músico, ouça o trabalho dele no Soulfly e também no som da banda Havok quando ele era um integrante – e marcou presença no palco como um dos animadores do público.

O show aproximava-se do fim quando Max Cavalera vestiu a camisa da banda Lacerated and Carbonized e encheu os cariocas de orgulho e satisfação – a banda é referência contemporânea do Metal Nacional; ouça, pois vale a pena. Logo após “Roots Bloody Roots” – todos cantaram com plenos pulmões – veio o desfecho com uma versão mista das músicas “Arise” e “Beneath the Remains”. A banda saudou todos os fãs presentes, demonstrou enorme felicidade com o resultado do show  e posou para a famosa fotografia que utiliza o público como pano de fundo. Max, muito respeitosamente, pediu para que as pessoas não saíssem da casa de show, pois o Enterro faria sua apresentação e encerraria a noite de espetáculos.

Alex Kaffer, Doneedah e Cävaal subiram no palco do Circo Voador e agradeceram grandiosamente a presença dos que permaneceram para assistir ao show – o público era maior em comparação a banda de abertura. Houve muito mais música pesada, riffs insanos e vocal gutural no estilo Barney (Napalm Death) – executado primorosamente, como sempre, pelo mestre Kaffer. A canção de destaque da apresentação do Enterro foi “Drooling Mud Gospel”, que por sua vez aborda o tema de exploração econômica realizada por líderes religiosos que abusam da fé dos menos favorecidos. Com maestral sonoridade Black/Death Metal, a banda carioca encerrou a noite de apresentações e deixou uma sensação de dever cumprido para os organizadores do evento e saciedade para os fãs.

Tudo ocorreu de forma espetacular! Já estou aguardando a próxima tour dos irmãos Cavalera e será um imenso prazer caso as bandas de abertura sejam as mesmas. Parabéns a todos os envolvidos, pois não é fácil realizar um espetáculo como esse.

Realização e Produção: Circo Voador e Agência Sob Controle.

 

Fotografias

 

 

ENDRAH

 

ENTERRO

 

 

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