Antes de iniciar a resenha é necessário explicar uma coisa: sabe aqueles momentos que você está focado em algo e para dar uma descontraída e sair um pouco do foco, você simplesmente abre uma porta para o próprio conhecimento e do nada se vê surpreendido com algo inovador? Confesso que esse momento é raro, mas às vezes ele surge e nesses lampejos é imprescindível estar antenado e não deixar isso simplesmente passar. Pois bem, isso acaba de ocorrer e fui surpreendido por uma banda que não sabia da existência, a excelente Dr Kong.
Dr Kong curiosamente é da mesma cidade que o redator que vos escreve, e ainda mais, uma banda que resgata a qualidade musical do Rock nacional dos anos 80. São nítidas as influências em bandas que fizeram a revolução da juventude oitentista como Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Plebe Rude e a influência mais nítida: Barão Vermelho. Um desavisado com toda certeza irá confundir o trabalho da banda com qualquer um relacionado ao cantor Frejat, tamanha a semelhança entre os vocais dele com o do vocalista Flávio Carvalho.
Deixemos as semelhanças e as influências de lado e foquemos na música da banda Dr Kong. Os músicos não se limitam em misturar com sabedoria e muita percepção estilos diferentes em sua proposta. São nítidas linhas que progridem do Hard Rock ao Blues, do Rock and Roll ao Stoner, tudo com conhecimento de causa. Os músicos são excelentes, tudo muito bem executado.
A banda anuncia de forma oficial o lançamento do álbum “Protagonista” em várias plataformas virtuais, mas com pouca divulgação fica complicado encontrar o material do grupo, afinal ainda não foi liberado de forma aberta ao público, apenas há alguns lampejos de faixa a faixa, aguçando o ouvinte a ficar ansioso pelo lançamento do material físico, que tem planejamento de sair em janeiro de 2017, tudo arquitetado e intencional por parte do grupo.
Falando um pouco sobre o álbum, voltamos ao início desta resenha. A banda busca resgatar a essência do Rock nacional, letras inteligentes, Rockão casca grossa com muito punch e feeling são apenas o cartão de visita e tudo isso é nítido logo na abertura do álbum, com a faixa que leva o nome do disco, “Protagonista”. Na sequência das treze faixas, a com cara de Rock britânico “Fale Tudo” apresenta bases solidas com arranjos que se elevam e deixam a faixa gostosa de ouvir e de fácil assimilação. Logo você se encontra cantarolando junto com a banda.
“Honoráveis Primatas” por si só é uma criação fantástica, letra que faz uma analogia à raça humana, que em muitas das vezes age igual a um animal. Os arranjos são criativos e tocados de tempo em tempo. A base é livre e varia a cada segundo. “Olho no Furacão” é a primeira faixa que tem aquela pegada mais Blues, característica que no decorrer do álbum se apresenta como uma das principais vertentes do grupo.
“Consciência” é a personificação do homem em uma moto, um cigarro, uma bebida e a estrada. Levada “abluesada” na medida certa. Uma faixa macia de se descer e fácil de tragar. “Superficial” de superficial só tem o nome. Música forte com uma marcação em cima do tempo e letras de protesto à política brasileira. Música atual e que irá perdurar por muito tempo.
“Indignação” possui um apelo mais comercial em sua proposta, seja na parte lírica quanto na harmonia, que é mais alegre com forte probabilidade de se tornar um hit nas rádios que não são especialistas em Rock. “Não Perca o Humor” é uma balada doce e suave, sem letra apelativa e de sofrimento. O amor é tratado com delicadeza e muita destreza pelo grupo.
“Rarefeito” é complexa e interessante com sua linha Blues com coros estilo Beatles. É uma música com um swing delicioso de se ouvir e se balançar. “Passos” é mais uma balada que trata com respeito o amor entre os seres.
“Me chame Essa Noite” continua com uma levada mais calma e toda sua construção é sobre as harmonias de um violão. O refrão muito bem feito, por sinal. É impressionante como essa banda tem a competência de criar música boa e de fácil entendimento.
“Por Sorte” é mais uma balada que a banda explora, demonstrando e deixando claro que essa será uma marca da carreira do grupo, tocar Rock and Roll, Blues e falar de amor. “Metatonia” de forma inteligente encerra o álbum. Digo isso pelo fato de nessa faixa eles explorarem uma cadência classuda que de imediato nos remete ao Classic Rock dos anos 60/70.
Muitos me chamaram de louco, mas após os anos 90 e o declínio do Rock nacional, eu jurava que seria difícil encontrar no Brasil uma banda que representasse com toda propriedade a bandeira de um estilo que fez história em nosso país. Pois eu quebrei a cara e hoje tenho certeza que uma banda representa o sentimento de resgate de um estilo adormecido. Dr Kong é a certeza que o rock nacional ainda tem muita lenha pra queimar.
Dr Kong – Protagonista
Formação:
Flávio de Carvalho (vocal);
Eliel Carvalho (guitarra);
Gustavo de Carvalho (guitarra);
Gustavo “Cachopps” Silva (baixo);
Wagner “Capucho” Arruda (bateria).
Faixas:
01 – Protagonista
02 – Fale Tudo
03 – Honoráveis Primatas
05 – Consciência
06 – Superficial
07 – Indignação
08 – Não Perca o Humor
09 – Rarefeito
10 – Passos
11 – Me Chame Essa Noite
12 – Por Sorte
13 – Metânoia
Links relacionados:
Facebook
-
9/10