Resenha: Dolores Dolores – IDSuperpower (2014)

Sou da filosofia de nome de banda e capa de álbum também são partes importantes do produto musical de uma banda – por isso, serem belos na vitrine faz parte do negócio. Dizem que não se julgue um livro pela capa, e é verdade. Mas que uma bela capa e um belo nome incentivam, incentivam.

Por isso eu comecei com expectativas baixas em relação ao Dolores Dolores, banda assentada em Belo Horizonte e em atividade desde 2007. O nome é genérico, fazendo até, em certo ponto, lembrar aquelas bandas brasileiras de Rock dos anos 80, que tinham nomes estranhos, embora suas musicalidades fossem ótimas. A capa do álbum da vez, “IDSuperpower” (2014), o segundo da discografia e que sucede “Songs of Experience”, debut lançado três anos antes, também é genérica, o que não ajuda muito.

Porém, embora essas impressões iniciais e involuntárias ocorram, não são motivo para julgar todo o produto musical de antemão. Por isso, uma bela ouvida foi necessária, reforçando as velhas máximas – a musicalidade é excelente.

“IDSuperpower” é um trabalho calcado principalmente no Hard Rock, mas que, ao longo de seus 55 minutos de duração, apresenta variações rítmicas, mesclas e distanciamentos que tornam esse registro algo interessante e bem feito. Foi dito mais acima que o nome Dolores Dolores soa antigo, e assim também soa a musicalidade até certo ponto. O Hard Rock apresentado pelo quarteto varia entre aquele amplamente executado nos anos 70, que é mais aberto e Rock ‘n’ Roll, e aquele mais característico dos anos 80, sendo mais pesado e batedor de cabeça, flertando com o Metal. A pluralidade musical se estende ainda até estilos musicais que contracenaram com o Hard Rock naquelas décadas, como o Alternative Rock, o Progressive Rock e até mesmo algo de Blues.

Vide como músicas como “Confused”, “Nothing To Lose”, “I Was Wrong” e “Dramatic Lover” apresentam uma pegada firme de Hard Rock, enquanto outras como “Behind The Hills”, “Crystall Ball”, “In Spite of Me” e “Time To Confess” variam em seus andamentos entre o Alternativo e o Progressivo. Tais mesclas também estão presentes em canções mais Hard, como a própria já mencionada “Confused” – segunda do trabalho, sucedendo a excelente intro “Infant Sorrow (Prelude)”, que abre o trabalho com uma bela composição à base de violão -, cujo andamento nos versos é Hard, mas o refrão é intenso, cadenciado e Alternativo.

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Essas posturas são possíveis graças às experiências de Wille Muriel (vocal), Humberto Maldonado (guitarra), Rodrigo Cordeiro (baixo) e Alessandro Bagni (bateria), cuja filosofia musical faz oposição a uma postura musical enrijecida e retilínea. Se a voz é a alma de uma banda, certamente o Dolores Dolores está no caminho certo com Wille Muriel, uma vez que seu timbre é alto e agudo, realmente excelente, favorecendo o tipo de musicalidade proposta. Gosto muito de solos de guitarra, e eles infelizmente não estão tão presentes assim no trabalho. Quando aparecem, são muito bons, como em “Perfect Man” ou “I Was Wrong”, mas poderiam ser mais abundantes no decorrer do trabalho.

No que diz respeito à produção de “IDSuperpower”, ela não é top de linha. Sente-se, a princípio, aquele incômodo sonoro de um estúdio que não tem recursos completamente satisfatórios. No entanto, como geralmente acontece, em poucos minutos os ouvidos se ambientam e isso passa a não ser necessariamente um problema. É evidente que questões orçamentais foram um travamento para os mineiros, o que pode ser confirmado pelo próprio material físico, onde o encarte é dobrável, não contém as letras das músicas (apenas fotos dos integrantes) e não há arte no fundo de caixa, logo abaixo do CD.

Mesmo com alguns fatores técnicos que prejudicam a imagem de profissionalidade do conjunto, o objetivo foi atingido: um excelente álbum foi lançado. Um álbum cujas músicas merecem atenção e respeito e melhoram a cada audição, demonstrando cada vez mais suas riquezas. Não temos aqui, ainda, uma banda segura e em seu auge, mas temos criatividade e a sensação de que renderão ainda mais no futuro.

Um novo álbum está a caminho para 2017. Resta ver o quanto o quarteto terá amadurecido e entrosado.

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Formação:
Wille Muriel (vocal);
Humberto Maldonado (guitarra);
Rodrigo Cordeiro (baixo);
Alessandro Bagni (bateria).

Faixas:
01 – Infant Sorrow (Prelude)
02 – Confused
03 – Behind The Hills
04 – Crystal Ball
05 – Perfect Man
06 – Nothing To Lose
07 – Waiting For A Train
08 – Mama Technology
09 – I Was Wrong
10 – In Spite of Me
11 – Time To Confess
12 – Dramatic Lover
13 – Infant Sorrow

Contato:
alessandro_bagni@yahoo.com.br

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