“O REDATOR ADVERTE: se você é um TRUZÃO rabugento nem comece a ler essa resenha, tampouco ouça esse álbum. Nenhum dos dois foi concebido pensando em você”.
Uma das coisas mais legais de produzir um programa de rock é apostar em uma banda e ver, anos depois, que você estava certo. Mais legal ainda é quando os caras da banda em questão são boa gente e que ralam na estrada pra fazer aquilo que acreditam.
Há cerca de quatro anos recebi uma indicação de um clipe de hard rock para apresentar no Programa Mult Rock, então veiculado pela Infinite TV. Não tive dúvidas de que se tratava de uma banda diferenciada assim que ouvi “Mr. Jack” pela primeira vez. O clipe foi ao ar e a partir daí fui acompanhando a evolução da banda pela internet.
Semana passada tive o prazer de receber em casa uma cópia do álbum “Mind the Gap”, primeiro registro fonográfico oficial da DIRTY GLORY. Coloquei o CD pra ouvir numa manhã chuvosa de segunda feira ainda sob o efeito dos remédios que preciso tomar para controlar uma diabetes recém descoberta, ou seja, não podia ter escolhido momento pior pra fazer a primeira audição de um álbum. Meu humor e motivação não eram apropriados pra ouvir porra nenhuma.
Para minha felicidade não precisei mais do que três faixas para reverter meu estado de espírito. No meio da primeira faixa eu já havia aumentado o volume da vitrola da minha carroça!
Quem me conhece sabe que sempre circulei tranquilamente pelas diversas vertentes do rock, do mais leve ao mais pesado e extremo. Nunca escondi que minha preferência fica em algum ponto entre o hard rock, o heavy e o thrash metal.
As 12 faixas de “Mind The Gap” nos fazem viajar até a segunda metade dos anos 80 quando o hard rock californiano estava no topo das paradas americanas. A cada faixa é possível perceber citações melódicas sutis das influências dos músicos sem que isso transforme a canção em cópia desta ou daquela banda. Você está ouvindo uma canção e de repente algo soa familiar em meio aquela mistura de rock/blues/metal que caracterizam o som dessa banda paulistana.
Pra que fique bem claro ao leitor o que estou tentando dizer vou destrinchar faixa a faixa observando as tais citações melódicas quando perceptíveis. Claro, nem todos vão conseguir enxergar as mesmas qualidades que eu, pois se trata de uma opinião pessoal e não uma regra.
Com uma produção impecável o álbum abre com a contagiante “Sticks & Stones” cujo clipe já está disponível no Youtube. “Failing the Test” segue a mesma linha e destila doses homeopáticas do velho Poison.
“20 Years Moving On” tem um riff inicial que faz uma citação melódica pra lá de tênue, proposital ou não, a “Love Removal Machine” do The Cult que dá um peso extra à canção.
“Beyond Time” começa tranquila e vai tomando corpo ao longo da faixa com uma levada ao estilo Bon Jovi nos áureos tempos do álbum “New Jersey”. A melodia é extremamente agradável e de bom gosto.
“Black Lightning” talvez seja o momento mais pesado da banda em todo o trabalho e mostra uma perfeita harmonia entre baixo/bateria, além de um riff poderoso e faz uma ponte perfeita para uma das faixas mais alegres e empolgantes do álbum, “Fire”. É daquelas que possuem um refrão pegajoso e uma melodia contagiante. Provavelmente o momento mais Pop Rock do trabalho, sem nenhum demérito. Nos anos 80 ela serviria de trilha sonora para qualquer festa.
“Down The Human Race” começa com uma introdução digna de qualquer filme de Faroeste e logo emenda com uma levada meio Ratt com vocais bem colocados. Fácil imaginar o público cantando o refrão junto.
Todo álbum e todo show de hard rock, ou glam metal como queiram, precisa do momento baladona empolgada com direito a arranjos acústicos, guitarras em solo e isqueiros para cima. Isso tudo é plenamente concretizado ao se ouvir “Every Time I Think About You”. Uma faixa puramente “Aerosmithiana”.
“Whats Her Name Again” tem aquele arranjo que agrada quem curte aquele rock dançante. Batida agradabilíssima, piano marcante ao estilo Jerry Lee Lewis, mini solo de gaita, refrão pra cantar junto e muito alto astral.
“Mr. Jack”, uma das primeiras canções compostas pela banda, mostra um clima mais sério e pesado sem ser necessariamente baixo astral.
A “festa” termina na penúltima faixa com “Modern Gods”, minha preferida. Consegues vislumbrar uma mistura de Poison com Offspring? Então, é isso que você vai encontrar aqui. Uma levada deliciosamente rítmica com vocais dobrados em abundância e um clima de fim de filme com final feliz. Essa música ficou grudada na minha mente por dias.
Como disse no parágrafo anterior a “festa” terminou na penúltima faixa, não o álbum que se encerra com uma canção bem romântica pra agradar a garotas da primeira fila. Nada de festa, só um piano. Assim é “The Sentence”.
Esse álbum acertou em cheio a minha memória afetiva e me levou de volta aos tempos em que eu era apenas um adolescente que ouvia de Motley Crue à Slayer com a mesma alegria. Definitivamente, um dos meus álbuns preferidos de 2015.
Ouvir o DIRTY GLORY me fez lembrar o quão divertido pode ser o rock&roll sem as rabugentisses de quem acha que só a agressividade representa o estilo. Entretenimento é a característica básica da música e isso tudo eu encontrei em “Mind The Gap”.
DIRTY GLORY é:
Jimmi DG (vocal)
Dee Machado (guitarra e backing vocals)
Reichhardt (guitarrra)
Sas (bateria)
Vikki Sparkz (baixo)