Resenha: Dio – Sacred Heart (1985)

Para muitos um Deus, para outros um homem com um talento inconfundível e uma capacidade ímpar de alcance e técnica, assim resumo o que foi a lenda Ronnie James Dio. Um ser que deixou seu legado marcado para sempre na história da música, independente do estilo que abordamos eis aqui um dos que irá perdurar por toda a humanidade, independente da época, banda, situação, mas sim pela sua obra como um todo.

Para iniciarmos de fato a impressão que “Sacred Heart”, terceiro álbum de estúdio da carreira solo do vocalista, é necessário ponderar alguns pontos fundamentais, o primeiro deles é que após sua saída do Black Sabbath, muitos o tinham como um vocalista pretensioso e que não iria durar por muito tempo sem o encalce de um grande grupo por trás de sua voz, mas o “baixinho” provou logo em sua estreia, com o álbum Holy Diver (1983), que as dúvidas não iriam ser um problema, tanto que na sequencia o mestre Dio, lançou outro aclamado é clássico absoluto do Heavy Metal, The Last In Line (1984), deixando claro que música boa e de qualidade ele sempre iria fazer.

O grande problema da carreira de Ronnie foi seu gênio difícil de lidar, exigente e muito perfeccionista, o músico que já dividiu os palcos com guitarristas como Toni Yommi e Richie Blackmore, era exigente no andamento e criação das harmonias musicais de sua carreira, tanto que em “Sacred Heart” a banda sofreu problemas de relacionamento, entre eles, o mais grave se deu com o prodígio guitarrista Vivian Campbel, que durante as gravações do álbum, quis apresentar novas ideias para o vocalista que de imediato rechaçou todas, criando um conflito de egos, de um lado a maior voz do momento e do outro um dos guitarristas com maior potencial há sua época, esse conflito gerou durante a turnê de divulgação do álbum, a saída de Vivian Campbel e a entrada de Craig Goldy.

O disco em si é outra obra-prima feita pelo mestre da voz, claro que não supera os dois primeiros, mas Dio estava em forma, em plena criatividade como letrista, com todas as ideias planejadas e o principal, ele sábia exatamente o que queria, o disco pode apresentar um momento menos inspirado, mas não o suficiente para que ele seja criticado.

Logo de início a rápida e empolgante “King of Rock and Roll”, um fato que para mim ate hoje é inexplicável, é como ele conseguia uma timbragem única para suas músicas, os instrumentais por mais dissonantes que sejam se encontra em perfeita harmonia, o groove criado por Dio é algo assustador e inconfundível. Aqui ele já de cara prova ser “O Reio do Rock And Roll”.

Sacred Heart é ou não é um clássico absoluto da carreira do músico? A música é um épico emocionante, sua voz embargada em paixão elava o sentimento de qualquer ouvinte, quem nunca cantarolou os refrãos da música, se imaginando estar no lugar da lenda? Um fator importante ao analisar a parte técnica, é que, é nítido que após sua passagem pelo Sabbath, o vocalista trouxe muita influência das bases criadas por Toni Yommi e Geezer Butler, basta prestar atenção nas linhas de baixo e nos riffs, que logo irá se lembras de “Mob Rules”.

Cheia de “punch” e com cara de Rock and Roll, “Another Life”, possui quebradas empolgantes, letra dinâmica e andamento cheio de variações, mas sempre com a proposta de ser uma música mais na cara e direta. Como não imaginar duas correntes sendo comprimidas por uma tonelada de aço com as braçadas de Vinny Appice na bateria.

Flertando com o Hard Rock e o Heavy Metal, a lidíssima e cheia de emoção, “Rock’ n ‘ Roll Children”, essa música possui um dos refrãos mais marcantes da carreira do músico, a música em si é construída nas bases dos teclados, que direcionam a atmosfera musical de toda a faixa, destaque para o guitarrista Vivian Campbel que executa um dos solos mais bonitos de todo o álbum. Acho que a voz de Dio dispensa qualquer comentário, não é mesmo?

Outra música que foi apresentada ate a ultima turnê da carreira solo do baixinho, se tornando um clássico de sua carreira, “Hungry For Heaven”, é outra que facilmente irá alimentar o sentimento nostálgico nos “bangers” que sentem a falta desse grande músico, uma música cantada aos coros, é importante detalhar a importância que Ronnie James Dio, dava ao refrão, tanto que ele sempre o fazia de forma que o público pudesse cantar junto a ele nas apresentações. A música em si é mais uma aula de competência e gigantismo desse cara.

Mais com cara de Black Sabbath, “Like the Beast of A Heart”, tem todo aquele punch Doom/Groove, criado para os discos que o vocalista interpretou quando estava a frente do grupo britânico, mais riffs, menos solos, mais bases e contratempos, menos liberdade e variações. Uma música mais simples, mas que ainda sim se faz merecedora de estar nesse álbum.

Rápida e com uma batida envolvente, essa é a injustiçada “Just Another Day”, explico o porque, Dio não gostava de tocar essa faixa nos shows, por achar ela muito simples e sem criatividade, discordo do mestre, mas se ele disse isso, quem sou eu para questionar. Ainda sim acho uma bela canção!

“Fallen Angels” em todo o contexto do álbum é a música mais fraca, não que isso queira dizer que a música é ruim, muito pelo contrário, mas ao analisar a faixa, percebemos que Dio canta de forma diferente de todo o álbum, sua voz está mais afônica nas bases harmônicas e mais estridente que o comum nas partes altas, sem contar que ele em certos momentos, poucos por sinal, soa mais debochado que o comum.

Encerrando o álbum “Shoot Shoot”, outra faixa forte e com destaque para as mudanças rítmicas, hora mais pesada e grave, outras mais harmônicas e melódicas, coisas que somente Dio conseguia criar com tamanha destreza, o solo de Viviam Campbel no meio da música também tira o ar, uma faixa linda e emocionante.

Sacred Heart é um disco de tamanha importância, que mesmo após seu lançamento, exatos 27 anos depois, o disco ganhou uma edição de luxo da “Universal Music Catalog”que oferecia um disco bônus, o EP ao vivo Intermission de 1986.

Dio é para muitos a maior voz já nascida na história do Metal, um homem que jamais terá outro a sua altura, o criador do sinal dos chifres com os dedos, a lenda que transformou e manteve a grandeza de gigantes como Black Sabbath e Rainbow, o ser que além de ser era simplesmente um DEUS.

Track-List:

01 – King of Rock and Roll

02 – Sacred Heart

03 – Another Life

04 – Rock ‘n’ Roll Children

05 – Hungry for Heaven

06 – Like the Beast of A Heart

07 – Just Another Day

08 – Fallen Angels

09 – Shoot Shoot

Formação:

Ronnie Jamer Dio – Vocal

Vivian Campbel – Guitarra

Jimmy Bain – Baixo

Vinny Appice – Bateria

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