Sem desmerecer os clássicos intermediários, os reinícios do Deep Purple sempre foram discos excepcionais. Vamos conferir: “In Rock”, “Burn”, “Perfect Strangers”, “Purpendicular”… Podemos incluir “Come Taste The Band” também. Cada vez que o Deep Purple passou por alguma grande mudança, ressurgiu com um trabalho magnífico.
“Infinite” não é um novo ponto de partida. Muito pelo contrário. Está sendo divulgado como a despedida da banda. Devemos ficar tristes por isso? Não creio. Esses caras já fizeram muito. Fizeram demais, além de qualquer expectativa. Percorreram uma carreira cujo primeiro álbum está completando 49 anos. Cumpriram sua missão e podem curtir sua aposentadoria de cabeça erguida e, sendo bem realista, esse é o momento. Ian Paice passou recentemente por problemas sérios de saúde e a voz de Gillan, ao vivo, já não tem o rendimento necessário. Isso, é claro, não é nenhum demérito. Trata-se apenas do tempo e o tempo das pessoas não se relaciona com o infinito.
Mas a obra do Deep Purple, essa sim se prolonga para o infinito e esse álbum não poderia ter sido melhor intitulado, pois não deve ser considerado como algo tão melancólico quanto um epitáfio, mas sim um novo reinício, onde o Deep Purple deixa a condição mítica metafórica para assumir a condição concreta. “Infinite”, cuja grafia na capa do disco pode ser entendida também como uma sinalização para o encerramento (in finite), fecha de forma brilhante o ciclo que se iniciou com “Purpendicular” há 21 anos, quando Steve Morse assumiu a quase impensável tarefa de substituir Ritchie Blackmore, mudando, naturalmente, o som da banda sem desvirtuar sua essência.
Quando “Time For Bedlam”, a primeira faixa, foi divulgada em dezembro do ano passado, já foi o suficiente para elevar as nossas expectativas. Tratava-se de uma música absurda, como o Purple não fazia há algum tempo, com guitarra e teclado se digladiando e se completando, em timbres e melodias que referenciavam e renovavam o que Ritchie Blackmore e Jon Lord faziam lá atrás e cravaram como marca registrada da banda. Depois veio “All I Got Is You”, de começo suave e refrão bombástico, reiterando que esse não seria apenas mais um trabalho para fazer número na discografia.
Produzido por Bob Ezrin, que também atuou no disco anterior, “Now What?!”, o vigésimo álbum de carreira do Purple irá lhe deixar tanto com lágrimas nos olhos quanto com um sorriso no rosto, graças a canções cativantes como “Hip Boots”, “Get Me Outta Here”, “The Surprising” ou a inusitada cover para “Roadhouse Blues”, do The Doors, bem mais bluesy que a versão original. O Purple passou por muitos percalços, muitos conflitos, mas chega ao fim de forma serena, integrados e em harmonia, como deveria ser a regra. Nunca será um adeus, mas será sempre um obrigado. Obrigado a Ian Gillan, a Roger Glover, a Ian Paice, a Steve Morse, a Don Airey, a Ritchie Blackmore, a Jon Lord, a David Coverdale, a Glen Hughes, a Tommy Bolin… Infinita é a nossa gratidão e infinta é sua música.
Infinito e eterno é o seu legado.
Formação:
Ian Gillan – vocal
Steve Morse – guitarra
Roger Glover – baixo
Ian Paice – bateria
Don Airey – teclado
Faixas:
- Time for Bedlam
- Hip Boots
- All I Got Is You
- One Night in Vegas
- Get Me Outta Here
- The Surprising
- Johnny’s Band
- On Top of the World
- Birds of Prey
- Roadhouse Blues
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9/10