Resenha: Deep Purple 1968-1976

Vamos iniciar este texto pelo seu ponto mais importante: esse livro é essencialíssimo e surge para preencher uma lacuna que há muito encontrava-se escancarada.

Explico: as editoras brasileiras têm avançado muito na publicação de livros sobre artistas de Rock, sejam biografias ou ensaios sobre suas obras. Mas há um claro desequilíbrio. Quantos livros já não temos disponíveis sobre Queen, Beatles, Black Sabbath, Nirvana, AC/DC, entre alguns outros privilegiados? Não apenas sobre os conjuntos, mas também sobre seus integrantes individualmente? Talvez não tantos suficientes quanto de fato mereçam, não há questionamento sobre isso, mas bastantes dentro de nossa realidade.

Sendo assim, onde estava o Deep Purple dentro desse acervo? Uma banda com um peso histórico tão equânime quanto essas outras, não tinha, até então, nenhum livro dedicado à sua trajetória ainda lançado entre nós. Como justificar? Não foi essa banda, afinal, que lançou o disco ao vivo mais aclamado de todos os tempos? Essa falta foi agora solucionada pela Editora Estética Torta com a publicação de “Deep Purple 1968 – 1976”, um livro que conta toda a primeira fase de existência da lenda inglesa, antes de seu retorno em 1984.

O texto original é assinado por Jerry Bloom, um especialista no tema, autor de outras obras sobre a banda e também sobre o Rainbow, além de ter escrito livros focados especificamente em Ritchie Blackmore e em Jon Lord. Contando com a tradução sempre precisa de Marcelo Vieira, a edição nacional possui uma capa simples e bonita e que já acusa, de imediato, um detalhe que – sob nossa perspectiva atual – parece incrivelmente surreal: tudo aquilo aconteceu em oito anos! A formação inicial, a criação de todos os clássicos, as mudanças de formação… uma história tão rica, que se desenrolou em menos de uma década, e que agora pode ser devidamente apreciada em seus detalhes.

E o texto não perde tempo em entrar nesses detalhes, tanto que, logo na segunda página, já temos Blackmore falando sobre o seu primeiro contato com o violão. A partir de então, mergulhamos nos encontros entre os músicos, nas várias tentativas até a escolha de um nome, na busca de uma sonoridade que buscava inspiração no que bandas como, por exemplo, o Cream, estavam fazendo e que enxergava que os seus objetivos só seriam alcançados através da mudança de integrantes, pois os seus três primeiros álbuns ainda não continham a fórmula ideal, enquanto contemporâneos como o Led Zeppelin e o Black Sabbath já estavam ganhando terreno.

Apesar de ter se desligado da banda em 1975, não há como negar que Blackmore personifica o fio condutor dessa fase da banda e sua dominância sobre os fatos permanece mesmo após a sua saída. As idiossincrasias do guitarrista estavam presentes desde a sua juventude e o seu ego não precisou de muito esforço para ser inflado, razão pela qual, ao ter encontrado outra presença forte, na figura de Ian Gillan, originou-se a histórica rivalidade até hoje não resolvida entre as partes.

No geral, o livro peca apenas pela completa ausência de fotos. O Deep Purple ainda necessita, com urgência, de alguma publicação que conte para os leitores brasileiros os anos seguintes, após o reencontro da MKII para a gravação do clássico “Perfect Strangers”. Esse período consta de forma resumida na parte final do livro, onde o autor realiza uma síntese impressionante contendo a sucessão de fatos até os dias atuais, apesar de não ter tido tempo de registrar a morte de Jon Lord. Acredito que, em algum momento, novos trabalhos sobre a banda deverão ser lançados, mas a porta foi aberta da maneira correta, pois qualquer novo lançamento será respaldado pela história que aconteceu naqueles oito anos e que, agora, está aqui narrada e em nossas mãos.

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