Finalmente chegou o tão esperado dia 04/10, uma sexta-feira quente e com um sol para cada headbanger que se dispôs a ir ao longínquo elefante branco que transformaram o antigo autódromo de Jacarepaguá. O mais curioso é que quando ali se disputavam corridas era chamado de Jacarepaguá, hoje chamam de “Barra”, numa vã tentativa de se elitizar aquela área. Um espaço gigante que é utilizado vez por outra e era a vez de o Heavy Metal dar as caras, o único estilo que esgota completamente todos os ingressos, numa prova de que o equívoco em não ter dedicado uma noite para o som pesado na última edição era irreparável.
E o cast não poderia ser melhor: três bandas nacionais, sendo que duas destas dividiram o palco com a lenda viva chamada Chuck Billy e mais duas bandas do The Big 4. Infelizmente, por conta da logística e desta absurda ordem em que as últimas bandas do palco Sunset revezaram com as do palco Mundo, este que vos escreve teve de abrir mão de assistir o SEPULTURA e o HELLOWEEN em troca de uma posição favorável nas apresentações de ANTHRAX e SLAYER.
Os portões abriram às 14:00 e como todos queriam entrar ao mesmo tempo, óbvio que houve uma demora para adentrar a Cidade do Rock e chegar ao palco. Como o redator aqui estava lá como fã e não à trabalho, não foi me dada a oportunidade de entrar antes e poder se posicionar pontualmente para o show da NERVOSA.
Cheguei e a banda já tocava a primeira música. Era a minha primeira vez in loco, não só com o trio feminino, mas com todas as bandas presentes naquele dia. E a impressão com as meninas Fernanda Lira (vocal/baixo), Prika Amaral (guitarra) e Luana Dametto (bateria) foi a melhor possível, muito embora o som estivesse um pouco embolado, sobretudo a bateria. Mas o baixo pesadíssimo e os bons riffs de Prika anunciavam que era apenas o começo. Conhecidas pelo ativismo, Fernanda dedicou a música “Guerra Santa” aos protagonistas do atual governo federal (N. do R: vale também para o prefeito do Rio de Janeiro); “Raise Your Fist!” foi dedicada à vereadora Marielle Franco, que fora brutalmente assassinada em março de 2018 e ainda mandou bem ao dizer que “as mulheres podem fazer o que elas quiserem, inclusive Metal”. E fizeram bem. Em algumas oportunidades, o público mandava um recadinho bem carinhoso ao presidente da República, que Fernanda disse soar como música aos seus ouvidos e Prika colocava a mão próxima à sua orelha para escutar melhor. Excelente apresentação.
Setlist NERVOSA:
01 – Horrordrome
02 – Intolerance Means War
03 – Hostages
04 – Enslave
05 – Time of Death
06 – Guerra Santa
07 – Kill the Silence
08 – Raise Your Fist!
09 – Fear, Violence and Massacre
10 – Masked Betrayer
11 – Death!
12 – Never Forget, Never Repeat
13 – Into Moshpit
Os shows aconteciam com pontualidade britânica e logo o poderoso CLAUSTROFOBIA subiu ao palco. Era a minha curiosidade em ver a banda ao vivo, com apenas uma guitarra ao vivo, já que eles optaram em seguir como power-trio. Seria um set curto, pois a banda daria espaço para o TORTURE SQUAD e depois ambas as bandas tocariam com Chuck Billy. E trio do interior paulista simplesmente arregaçou com suas cinco músicas, quatro do álbum “Peste” e mais uma, que é o novo single da banda, a música “Vira Lata“. Impressionante como a guitarra de Marcus D’angelo soou pesadíssima ao vivo. Em nenhum momento a segunda guitarra fez falta, e parecia que eram umas cinco guitarras, tamanho o peso e a brutalidade que a banda imprimiu. “Pinu da Granada” abriu a apresentação e quebrou tudo, tendo este redator, sofrendo as primeiras baixas no moshpit: seu relógio e seu tênis ficaram seriamente avariados. Honestamente, o melhor show dentre as bandas nacionais e ainda penso em colocá-los em segundo lugar, superando o ANTHRAX.
Setlist CLAUSTROFOBIA:
01 – Pinu da Granada
02 – Bastardos do Brasil
03 – Vira Lata
04 – Metal Maloka
05 – Peste
Depois dessa destruição causada, o TORTURE SQUAD, mesmo com sua competência elevada, muito pouco poderia fazer, E eles fizeram um set mais curto ainda, com três músicas e a inclusão de uma dançarina encarnando a deusa hundu Maha Kali. A deusa em questão é uma das inspirações do mais recente álbum da banda, “Far Beyond Existence” e aparece no videoclipe de “Blood Sacrifice”, que seria a faixa que abriria a apresentação da banda. Show bom, muito bom, ainda que não tenha superado o “Claustro” nem em peso, nem na brutalidade, entretanto, a banda é mais técnica.
Setlist TORTURE SQUAD:
01 – Blood Sacrifice
02 – Raise Your Horns
03 – Horror and Torture
Era chegada a vez de as duas bandas se juntarem e o vocalista do TESTAMENT, Chuck Billy trazer aos fãs três clássicos de sua banda: “Disciples of the Watch“, “Practice What You Preech” e “Electric Crown” fizeram a alegria dos saudosos ali presentes. Foi bom, mas seria melhor se toda a banda estivesse presente, sem desmerecer a linda homenagem que os brasileiros fizeram a uma das maiores bandas de Thrash Metal da história e que por alguma razão, não fora incluída em um “The Big 5”.
Após este encontro histórico, os dois últimos e mais aguardados shows do Sunset teriam um longo hiato, uma vez que começaria o estúpido revezamento entre os palcos, que me obrigaram a ignorar o som do SEPULTURA em troca do ANTHRAX. E a banda de Scott Ian subiu ao palco pouco mais de dez minutos de encerrada a apresentação dos brasileiros e chegaram chegando com os riffs de “Cowboys From Hell“, uma homenagem linda, justa e honesta a maior banda de Metal dos anos 1990: PANTERA, E logo emendaram com um setlist curto, mas recheado de clássicos. E eu pergunto: qual show pode dar errado, tendo uma sequência, músicas como “Caught in a Mosh“, “Got the Time”, “Madhouse” e “I am the Law” abrindo? Não há chance de fracasso. Scott Ian falou com o público sobre a satisfação da banda em tocar pela primeira vez no Rock in Rio. Joey Belladona em ótima forma, cantando muito e o baterista Charlie Benante soltando o braço na melhor performance de um baterista neste dia. Em “Indians“, que fecharia a apresentação, Chuck Billy retornou ao palco para fazer uma participação especial e o público atenderia aos pedidos de Scott Ian para que abrisse uma roda imensa… Seria a maior do festival não tivesse a apresentação do SLAYER logo depois. E no final, a banda tocou os riffs finais da mesma “Cowboys From Hell“, que abrira o show dos caras. Um belo show desta banda, que se por um lado, é a menos badalada do “The Big 4“, certamente é a mais técnica dentre todas elas.
Set list ANTHRAX:
01 – Caught in a Mosh
02 – Got the Time
03 – Madhouse
04 – I am the Law
05 – Now It’s Dark
06 – Efilnikufesin (N.F.L.)
07 – A.I.R.
08 – Antisocial
09 – Indians
Enquanto o palco do SLAYER era arrumado, o HELLOWEEN tocava no palco mundo e nem se a mãe deste redator estivesse lá acompanhando os “Punpkins”, ele iria lá. por sorte, a minha progenitora não curte som pesado e o caos foi anunciado logo na introdução. Aos primeiros riffs da afiada dupla Kerry King e Gary Holt, parecia que o fim do mundo era ali, naquele mosh gigantesco criado. Para se ter uma ideia, eu me perdi dos dois amigos que me acompanhavam ali, fui jogado para a frente do palco, próximo ao gargarejo, depois em “War Ensemble” fui jogado para o fundão e aos poucos eu fui recuperando não só o ar, mas terreno para voltar e procurar quem estava comigo por ali. Por razões óbvias, eles reduziram o set, retirando sete das vinte músicas que eles estão tocando na “Final World Tour“. É claro que o fã quer mais e mais, se eles tocassem músicas como “Dittohead“, “Blood Red“, “Born of the Fire“, seria melhor, mas todos nós ficamos contentes com clássicos como “Hell Awaits“, “Seasons in the Abyss” e “Angel of Death“, que fechou brilhantemente a apresentação, passando pela densa e nada rápida, porém, pesadíssima “Dead Skin Mask“, a preferida deste que vos esceve. A banda pouco falou com o público, que estava interessado em testemunhar pela última vez a banda em terras tupiniquins, mas Tom Araya fez questão de mandar em bom (N. do R: é bondade do redator) português um “E ai porra?”, ao público que respondeu com o coro “Olê, olê, olê, Olê, Slayer, Slayer”. Ao que ele respondeu, como sempre fala em seus shows: “Obrigado por comparecerem aqui hoje.” Que showzaço. Memorável, Impecável.
Ao final da apresentação, pessoas procuravam seus pertences perdidos naquele que foi o maior mosh que presenciei na minha vida. Até postei em minhas redes sociais que até aquele momento, o moshpit mais brutal que eu havia presenciado, tinha sido o do CANNIBAL CORPSE, mas depois da apresentação de Tom Araya e Cia., a roda do poderoso grupo de Death Metal mais parecia com animação de festa infantil. Foi o maior público do palco Sunset em todas as sete noites de festival e isso se explica por conta de todo o contexto envolvendo a mais brutal das bandas do “The Big 4” e pela escolha corretíssima das bandas que a acompanharam. O caro leitor pode até ter suas restrições quanto ao “Rock in Rio” e eu certamente compartilho com muitas delas, um festival que elitiza e segrega, mas que de vez em quando, acerta em cheio, mesmo que o Heavy Metal esteja presente em apenas uma das sete datas.
Daria tempo de eu acompanhar as apresentações do IRON MAIDEN e SCORPIONS no palco Mundo, mas eu optei em reencontrar meus amigos perdidos na roda do SLAYER e sentamos para bater um papo no gramado do palco Sunset enquanto escutávamos a bela apresentação de Bruce Dickinson e Cia., e ver o que restou da comida que levei na mochila: o biscoito de maisena havia virado paçoca e os sanduíches, origamis. Assim mesmo comi, descansei e depois dei um rolê pela Cidade do Rock. Quem tem o prazer de escutar deitado clássicos como “Flight of Icarus“, “Sign of the Cross“, “2 Minutes to Midnight” ou “Blackout”? E o melhor, tocados por aqueles que os compuseram.
Setlist SLAYER:
01 – Deslusions of Savior (playback)
02 – Repentless
03 – Postmortem
04 – Hate Worldwide
05 – War Ensemble
06 – Disciple
07 – Seasons in the Abyss
08 – Mandatory Suicide
09 – Hell Awaits
10 – South of Heaven
11 – Rainning Blood
12 – Black Magic
13 – Dead Skin Mask
14 – Angel of Death