INFEKTOR SELF FESTIVAL #4

20 de outubro de 2018, Teresina/PI

Espaço D’car – Teresina/PI

Por Juciê Lord e Pedro Hewitt / Fotos: Caverna Produções e Flávio Lopes

Em 09 de outubro saio de São Paulo/SP com meu “purga” Fiat Uno 97, rumo ao Nordeste por passarelas de asfaltos onde também desfilam, com o seu vai e vem frenético, automóveis, motos e caminhões pequenos, médios e grandes. Lá se vão 3200 km de entoadas metálicas saltando dos autofalantes. Meu destino: Teresina/PI, mas antes passei em Fortaleza/CE para conferir o show do Accept. Deu certo! Pego-me na estrada novamente rumo ao berço das bandas oitentistas Vênus, Avalon e Megahertz onde rolará a quarta edição do Infektor Self Festival. Chego sob uma temperatura de 38º com sensação de sei lá, talvez uns 44º. Isto não é para os fracos! Cedo, em frente ao evento, era aquela mancha negra de bangers concentrados tomando o quarteirão, então, sabidamente, a produção solicita o fechamento da rua para evitar acidentes.

Às 19h a banda Escrotos sobe ao palco fazendo um thrashcore violento com riffs animais e pesados. Em março de 2017 lançou pela Caverna Produções um EP intitulado “Sistema”. Atualmente é composta por Cláudio Costa (guitarra e vocal), Geovane Oliveira (baixo e vocal) e Marcelo Pesseghini (bateria). Destacando, após a terceira música, a entrada do produtor Pedro Hewitt, chamado ao palco para uma participação que jogou uma boa dose de pimenta no evento, com vocais eletrizantes e performance de tirar o fôlego. O cara simplesmente ficou possuído. Sensacional, mesmo com atraso por conta de um problema no equipamento. A segunda banda, Pacto Selvagem, que faz um thrash metal sem firulas, entrou com muita energia detonando um som pesado e estridente. A banda seguinte, Leopard Machine do Maranhão despejou seu speed metal no ambiente já bastante lotado. O trio formado por André “Helldorado” (vocal e guitarra), Felipe “MadDog” (baixo) e “Luki Napalm” (bateria) apresentou bom trabalho com um som cunhado sob referência de nomes do metal de raiz.

Diversão e raça foram parceiras na apresentação de Dead Enemy de Fortaleza/CE, e seu crossover/thrash com grande aproveitamento de tempo. Foram executados vários sons com participação da galera, que exaltava a banda com “mosh pits” a cada música, ignorando o calor de Teresina “Hell”. Belo show de Fernando Gomes (vocal), Júnior Linhares (guitarra), Mateus Sales (bateria) e André Lima (baixo), com direito a “stage dive” de cima da coberta do palco! O duo PISA do sertão piauiense, conta com “Gafanhoto” no baixo e Nando na bateria e vocal. A dupla deu seguimento à festa com seu hardcore cru e elétrico, com um set baseado em sua demo “Peste Urbana” (2016). Muito bom ver cenas raras como esta onde dois caras seguram toda a galera e a faz participar ativamente do show.

Passavam das 23h30 quando a Facing Fear subia ao palco. Com astúcia e profissionalismo, em menos de 15 minutos arrumou o equipamento e já estava pronta para o set. O quarteto foi uma das bandas mais rápidas na preparação de palco que contou com a ajuda da produção. A introdução começa a rolar com um misto de “Full Moon” do Demon e sons de sirenes, a expectativa do público é estampada nos olhares curiosos sobre a primeira música que tocariam. “Prisão Mental” inicia a apresentação com muitos presentes cantando. Todos os membros estavam caracterizados com visual oitentista, como “Terry Painkiller” (vocal) com seu visual em couro e óculos escuros. O “frontman” instiga o público a cantar e é prontamente atendido. O repertório foi lindo com canções como “Licantropia” e “Until the End”, seguidas por uma das músicas mais cantadas, “I Wanna Play the Sound”, que já se tornou hino. Não esquecer que a obrigatória “Lutaremos pelo Metal” se tornou um clássico da banda. Facing Fear fez o aço derretido escorrer nas veias dos piauienses, maranhenses e muitos de outros estados presentes. Show divertido, participativo e emocionante receptivo pelo público.

A sétima banda da noite, Atomic Blast, apresentou seu thrash metal ríspido e sem paradas, influenciado na velha escola, fazendo o público – mesmo com horário já avançado – pirar em seu “setlist”. Sem muita conversa, a banda mostrou qualidade em palco ficando clara a sua técnica incrível. Destaque para a execução de “Nuclear Dust”. Opera Decay, felizmente, mesmo com todos os imprevistos conseguiu segurar o público madrugada a dentro. Em meio a um som que merece respeito e atenção especial, nem mesmo na música mais “Leve” decepcionou na qualidade. Tirando o detalhe da curta duração do set, conseguiu representar muito bem o cenário underground do Nordeste e fez um show em alto nível em sua meia-hora.

Agora estava prestes a começar uma bela e coesa apresentação da banda Samanttha, que passou bom tempo em hiato, mas agora retornou com força total. Os músicos fizeram um repertório curto, mas não brincaram em serviço esbanjando técnica e qualidade. Apesar de o público começar a se dispersar, a maioria de quem estava ali esperava para ver a Hell Poison. O galo começava a cantar e, nisso, a última banda assumia sua força diabólica. O show iniciou com o microfone de “Deathammer” exercendo agressão sonora e uma pegada speed metal punk 80′ nos PAs. Nos momentos finais do festival, a banda tocou seu “setlist” de ponta a ponta. Vale ressaltar que a formação deste show é especial, com membros das bandas Blight, Dead Enemy e Devouring no elenco. Quem já conferiu o grupo em ação, ficou impressionado nesta apresentação. “Speed Metal Burns Your Mind”, por exemplo, é digna de hino.

Após mais de 14 horas de evento, às 5h30 chega a hora do encerramento com um sol lindo trazendo mais um dia. E lá vou eu para a estrada, pronto para os mais de 600km que me esperam até Fortaleza e mais 3.200km até São Paulo. Um total de aproximadamente 8.000km com muito heavy metal rolando no talo, dentro do “purguinha” 97. Isto em pró do heavy metal nacional que, nos quatro cantos do Brasil, é representado não apenas por bandas de qualidade imensurável, mas também por dedicação e paixão.

Edição: Leonardo M. Brauna

Encontre sua banda favorita