Nos dias 4, 5, 6 e 7 de julho aconteceu o Rock Fest Barcelona. É verão e a cidade já fervilha naturalmente. Mesmo não sendo a melhor época do ano pra usar preto e muito menos jaqueta de couro, 80 mil pessoas participaram do Rock Fest Barcelona, com uma média de 20 mil por dia de festival. As portas abriram as 16 horas e o público teve cerca de uma hora apenas para dar uma primeira olhada na estrutura do festival antes do show começar, literalmente.
Primeiro dia de Rock Fest Barcelona (04/07/2019)
Quem teve a difícil missão de abrir um festival desse porte foi Kilmara. A banda espanhola, formada em 2003 em Barcelona, subiu ao palco Rock com sua nova formação: Daniel Ponce nos vocais, Miguel Laise e John Portillo nas guitarras, Eric Martinez na bateria e Didac Plá no baixo.
Eles foram seguidos pelos veteranos do Raven, no palco Fest. Os irmãos Gallaghers entraram tão pesado no clima do festival que Mark logo se livrou da cadeira e ficou de pé, com um imobilizador para perna, resquícios de um acidente que quase deixou o guitarrista sem tocar. Os representantes do NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal) foram os primeiros a se apresentar na edição 2019 do Rock Fest Barcelona, que teria outros dos principais nomes nos dias em sequência. Raven se apresentou com John Gallagher nos vocais, Mark Gallagher na guitarra e Mike Heller na bateria. Os espanhóis do Imperial Jade abriram o palco chamado Rock Tent.
Enquanto o sol continuava no céu, lá pelas 20 horas da noite, U.D.O trouxe seu heavy metal alemão, cantado em inglês, ao palco Fest. O set list foi “Tongue Reaper”, “Make the Move”, “24/7”, “Mastercutor”, “Independence Day”, “Vendetta”, “Rising High”, o hino “One Heart One Soul”, “Holy”, “Animal House”, “Man and Machine” e “They Want War”. O complexo Udo Dirkschneider nos vocais, Sven Dirkschneider na bateria, Tilen Hudrap no baixo e nas guitarras Andrey Smirnov e Fabian Dee Dammers funciona muito bem em cima do palco e foi um dos pontos altos da noite.
No palco ao lado, o Rock, Demons & Wizards fez um show muito interessante. O setlist foi “Rites of Passage”, “Heaven Denies”, “Poor Man’s Crusade”, “Crimson King”, “The Gunslinger”, “Terror Train”, “Love’s Tragedy Asunder”, “Blood on My Hands”, “Fiddler on the Green”. “Essa música se chama “I Died for You”, eu acho que vocês vão gostar.”, disse o vocalista Hansi Kürsch. O hino do Iced Earth foi seguido pelo do Blind Guardian, trazendo “Valhalla” que foi cantada a plenos pulmões pelo público. O ponto negativo aqui ficou por conta de uns probleminhas técnicos que atrapalharam um pouco. Mas a banda soube contornar até que bem. “Barcelona, son los mejores”, disse Kürsch com seu carisma característico e que todos os fãs agradecem.
As bandas até o presente momento estavam indo muito bem, mas devo dizer que definitivamente o show mais esperado da noite foi King Diamond. O cenário estava sendo montado durante o show do Demons & Wizards, e muita gente já estava em frente ao palco Fest, aguardando para ter uma boa visão. Apesar que era possível ver os palcos em diversos pontos do festival por conta dos dois telões, muita gente, aliás, preferiu ver os shows sentado bem confortável na grama.
Mas voltemos ao Rei.
O cenário tinha uma escadaria que fazia a conexão entre os dois pontos do palco e dava a impressão de um casarão antigo, bem cara de King Diamond. O músico é bastante dramático e traz uma pegada teatral/operística do horror. Mas o ponto principal é que King gosta de contar histórias, com uma pegada de Poe e Byron. E ele faz isso através da música, o que torna o seu show um complexo artístico. Definitivamente King é uma peça única, seja durante seus passos calculados ou um air guitar no microfone em forma de cruz, durante os solos incríveis de Andy La Roque e Mike Wead. Aliás, o solo em “Black Horsemen”, com a troca da guitarra para o violão é espetacular. Ver esse tipo de coisa ao vivo e com tamanha naturalidade e profissionalismo é o que faz valer a ida aos shows. Muita coisa pode ser gravada e refeita, mas nada como ver isso diante dos seus olhos.
Assim como fez em Hellfest, King anunciou a gravação do novo álbum, intitulado “The Institute” e tocou uma das músicas chamada “Masquerade of Madness”. “Alguns de vocês devem ter ouvido que estamos fazendo um novo álbum. É verdade. E é isso que você encontrar.”, disse o vocalista antes de iniciar a música nova. Mas o set list do Rock Fest Barcelona veio recheado com mais uma surpresa. “Eu nunca toquei essa música em um show. Quer dizer, toquei uma vez ao vivo, mas nunca em turnê. The Lake.”, anunciou King. O setlist completo: “St. Lucifer’s Hospital”, “The Candle (without taped intro)”, “Voodoo”, “Funeral”, “Arrival”, “A Mansion in Darkness”, “Let It Be Done”, “Behind These Walls”, “Halloween”, “Masquerade of Madness”, “Out from the Asylum”, “Welcome Home”, “The Invisible Guests”, “Sleepless Nights”, “The Lake”, “Burn”, “Black Horsemen” e “Something Weird”.
Muita gente foi embora após o show do Diamond. Uma das razões aceitáveis, por assim dizer, foi que eram os últimos minutos para se pegar o metrô de volta a cidade. Isso porque o Parc Can Zam fica em Santa Coloma de Gramenet, a uma distância considerável de Barcelona, entre 10 e 12 quilômetros, mais ou menos, de acordo com o ponto de referência. Mas há quem diga que o fato do W.A.S.P sempre se apresentar por ali, com a mesma sequência de músicas do show também foi um fator significativo. De qualquer forma, eles foram os próximos a se apresentarem e quem fechou a noite foi a banda Ankhara.
Segundo dia de Rock Fest Barcelona (05/07/2019)
A sexta-feira começou com o primeiro show às 14h30, com Beast in Black, Thunder, Rage & Barcelona Rock Orchestra, King King. Para os fãs de Rhapsody of Fire foi um momento histórico. Quer dizer, é complicado essa coisa das bandas se separarem e criarem novas bandas, com os integrantes, mas outro nome. E, bem, os ilustres ex-integrantes formaram o Turilli / Lione Rhapsody que teve seu álbum “Zero Gravity (Rebirth and Evolution)” lançado pela Nuclear Blast oficialmente no dia 05 de julho, ou seja, no mesmo dia do festival. O público pode conferir ao vivo as novas “Phoenix Rising”, “Zero Gravity” e “D.N.A. (Demon and Angel)”. E, claro, ouvir na voz de Lione “Dawn of Victory”, “Sea of Fate”, “The Wizard’s Last Rhymes”, “Reign of Terror”, “Lamento eroico”, “Riding the Winds of Eternity” e “Unholy Warcry”.
O palco Rock Tent era uma tenda que ficava a extrema direita, nos limites da estrutura do festival. Apesar do calor, ela era coberta para diminuir a interferência do som, já que era o único palco que tinha apresentação simultânea com os outros dois, palco Rock e palco Fest. Enquanto a banda espanhola Obús se apresentava no palco Fest, os expoentes do Doom Metal tocavam na Rock Tent. “Está realmente calor aqui.”, disse o vocalista Johan Längqvist. No setlist do Candlemass estavam as novas “Astorolus – The Great Octopus” e “Black Trinity”, mas também “The Well of Souls”, “Dark Reflections”, “Mirror Mirror”, “Bewitched”, “Dark Are the Veils of Death”, “A Sorcerer’s Pledge”, “Solitude”. Johan era muito participativo com a plateia e chegava o mais próximo do público para cantar para e com os fãs.
A próxima atração do palco Rock foram os alemães do Böhse Onkelz. Na metade do show, após “Lack und Leder”,“Gehasst, Verdammt, Vergöttert”, “Keine ist wie du”, “Ich bin in Dir (Version 2001)”, “Das ist mein Leben”, “Leere Worte”, “Keine Amnestie für MTV”, “Fahrt zur Hölle”, “Stunde des Siegers”, “Dunkler Ort”, eles tiveram um problema sério com o som. As caixas de som pararam de funcionar e somente quem estava muito perto conseguia ouvir. A banda não se deixou levar por vencida e mesmo na metade da “Hier sind die Onkelz”, continuou com o público cantando e acompanhando nas palmas. O show acabou e todo mundo bateu muita palma, inclusive a banda. Era possível ouvir a afinação das guitarras do palco ao lado, que estava se preparando para o Gamma Ray. Mas eis que o problema foi resolvido e guitarras distorcidas do Böhse Onkelz foram ouvidas para além da estrutura do Rock Fest Barcelona, anunciando “Auf gute Freunde”, e na sequência “Der nette Mann” e “Danke für Nichts”.
Entombed A.D. se apresentou na Rock Tent na sequência. Entre as novas “Midas in Reverse”, “Second to None”, “Dead Dawn” e “Fit for a King”, eles tocaram as do antigo Entombed: “Stranger Aeons”, “Eyemaster”, “Living Dead”, “Out of Hand”, “Chaos Breed”, “Revel in Flesh”, “Wolverine Blues” e “Left Hand Path”. O vocalista L-G Petrov apresentou a banda e o guitarrista brasileiro Guilherme Miranda falou algumas palavras em espanhol, agradecendo ao público por estarem ali prestigiando o festival.
Já no palco Fest, Gamma Ray começou com “Heaven Can Wait” e “Gardens of the Sinner”. “Barcelona, é bom estar de volta. Nos últimos dois anos eu estava ai como público e agora estou tocando.”, disse o vocalista Frank Beck. O setlist ainda contou com “Man on a Mission”, “Master of Confusion”. “Eu estou surpreso que o sol está se pondo e vocês ainda tem energia. Vocês são verdadeiros heavy metal e são uma importante parte do universo heavy metal”, disse ele anunciando a próxima música: “Heavy Metal Universe”, seguida por “Dethrone Tyranny”, “Rebellion in Dreamland”, “Land of the Free”, “Send Me a Sign”.
“Buenas tardes Barcelona”, disse o vocalista Attila Dorn enquanto os outros membros da Powerwolf se estabeleciam no palco com suas saias longas pretas. Importante dizer que apesar de visualmente parecer fim de tarde com o sol se pondo, já eram 22 horas. Os dias de verão são realmente muitos longos por lá. O setlist foi composto por “Fire and Forgive”, “Army of the Night”, “Incense & Iron”, “Amen & Attack”. “Mulheres, vocês estão aqui?”, perguntou Dorn. “Cara, você não é uma garota. Cara, olha pra mim. Meu amigo, se você tem uma barba, você não é uma garota.”, emendou discutindo com alguém da plateia. Ele pediu ajuda das mulheres para a próxima música, claramente uma alusão ao clássico na voz de Marilin Monroe: “Demons Are a Girl’s Best Friend”. Logo depois vieram “Armata Strigoi”, “Blessed & Possessed”, “Resurrection by Erection”, “Werewolves of Armenia” e “We Drink Your Blood”.
O show do ZZ TOP foi um dos momentos muito esperados do dia. O trio Billy Gibbons na guitarra, Dusty Hill no baixo e Frank Beard na bateria é uma coisa de outro mundo capaz de transportar o público para uma outra época. O show faz parte da turnê de 50 anos do grupo. O setlist responsável por essa viagem no tempo teve “Got Me Under Pressure”, “I Thank You”, “Waitin’ for the Bus”, “Jesus Just Left Chicago”, “Gimme All Your Lovin’”, “Pearl Necklace”, “I’m Bad, I’m Nationwide”, “I Gotsta Get Paid”, “My Head’s in Mississippi”, “Sixteen Tons”, “Beer Drinkers & Hell Raisers”, “Just Got Paid”, “Sharp Dressed Man”, “Legs”, “La Grange”, “Tush”, finalizando com um cover de Elvis que fez todo mundo dançar “Jailhouse Rock”.
Terceiro dia de Rock Fest Barcelona (06/07/2019)
O terceiro dia do festival parecia mais um teste de amor pelo metal. Os portões abriram 13 horas e o calor, ainda mais nesse momento do dia estava praticamente insuportável. Grande parte do gigantesco gramado parecia vazio. As pessoas estavam se acotovelando para conquistar um lugar a sombra, ou na barraca de bebida, alguns ainda se atreviam a ficar no sol, mas em frente aos grandes ventiladores que soltavam água refrescante. O primeiro show do dia 06 de julho foi Leo Jimenez, seguido de Avatar, Gun, Combichrist, Cradle of Filth e Def Con Dos.
Hammerfall se apresentou no fim da tarde, mas nada de achar que o calor tinha passado e estava mais fresco. O vocalista é um excelente frontman, Joacim Cans consegue interagir com o público de uma maneira única, além disso a banda tem muita energia e passa aquela sensação de prazer de estar no palco, que deveria ser comum, mas na verdade é muito raro. “Quantos de vocês estão ouvindo Hammerfall pela primeira vez? Nossa bastante gente. Nós estamos na estrada há 20 anos. Onde vocês estavam?”, disse Cans. Ou ainda: “Eu digo hammer, vocês dizem…”, quando não teve muita participação do público, ele provocou: “vocês sabem o nome da banda, certo? Hammerfall? Então vamos lá mais uma vez.”, e aí então os fãs responderam em peso. O setlist teve “Legion”, “Riders of the Storm”, “Renegade”, “(We Make) Sweden Rock”, “Any Means Necessary”, “Blood Bound”, “Hero’s Return”, “Last Man Standing”, “Let the Hammer Fall”, “Hammer High” e “Hearts on Fire”. “Em agosto nós vamos lançar um novo álbum. Escute o álbum. Alguns de vocês vão amar, alguns de vocês vão odiar. Mas isto é Hammerfall.”, disse Joacim. Como não gostar de Hammerfall depois desse show?
As apresentações se seguiram com Deldrac Legion na Rock Tent. Um som de guilhotina indicou a primeira música de Angelus Apartida no palco Fest, “Sharpen the Guillotine”, que se seguiu por “One of Us”, “Vomitive”, “Immortal”, “Of Men and Tyrants”, “Violent Dawn”, “Downfall of the Nation”, “End Man”, “Serpents on Parade”, “Give’Em War”, “You Are Next”.
A chuva deu as caras no festival um pouco antes da próxima banda subir ao palco. Quem estava por lá correu para se proteger. As tendas com camisetas, canecas e souvenirs do festival ficaram repletas por praticamente 10 minutos de enxurrada forte. Alguns produtos que estavam em exposição ficaram completamente encharcados porque não deu tempo de colocar tudo para dentro.
O público do Krokus pegou o resquício da chuva que aquela hora parecia mais um refresco de um dia quente de verão. E para quem não conhecia a banda, a voz de Marc Storace atraiu muita gente para perto do palco Rock para ver se não era mesmo o Bon Scott, afinal a voz é muito, mas muito parecida mesmo. “Barcelona, vocês não tem só o melhor futebol, vocês tem os melhores fãs de metal também.”, disse o vocalista, após tocar “Rock ‘n’ Roll”, “Hoodoo Woman”, “Fire”, “Come on”, entre outros.
Mas quem atraiu os fãs de verdade foram os Los Barones na Rock Tent. Foi um dos únicos shows em que a tenda ficou realmente lotada, não sendo possível entrar ou sair, e no máximo se acotovelar lá trás para poder ver um pouquinho do show. Entre as músicas tocadas (e cantadas a plenos pulmões pelo público enquanto se abraçavam e derrubavam a cerveja) estão “El pobre”, “Barón Rojo”, “Vive Hoy”, “Son como hormigas”, “Breakthoven”, “Se Escapa el tiempo”, “Siempre estáis allí”, “Concierto para ellos”, “Larga vida al Rock and Roll”, “Hijos de Caín”, “Los Rockeros van al infierno”. É bonito ver esse carinho do público com uma banda que teve tamanha importância para o rock espanhol nos anos 80, ou melhor, para alguns ex-integrantes da banda Baron Rojo, Sherpa no vocal e baixo e Hermes Calabria na bateria, junto dos novos guitarristas Marcelo Valdés e Sergio Rivas. Afinal, o sucesso de uma banda é a combinação de música e público.
Sucesso= música (trabalho+material) + público.
Público esse que muitas vezes é esquecido, que a tudo é exigido e quase nada doado. Afinal, o público sempre tem que comprar os álbuns lançados (ou não, segundo o Peter Byford que você verá na sequência), tem que acompanhar a banda nas redes sociais, tem que ir nos shows. Enfatizei bem os “tem que” de propósito mesmo. Mas isso é uma crítica para outra hora. Aliás, palmas para o Byford novamente que tem um carisma tão grande que fez com que eu me apaixonasse perdidamente pelo Saxon e compreendesse pessoas como a Paula, que apresentarei na sequência.
Voltando à ordenação cronológica do show. Venom se apresentou com muito fogo no palco Fest. Não, não estamos falando daqui de energia, de vontade de fazer um grande show, apesar de isso também estar lá. Pirotecnia pura. O tempo todo. Quando você se distraia, bum, lá vinha o calor. Músicas como “Welcome to Hell” e “Don’t Burn the Witch” faziam todo o sentido literal ali. Lembrei da observação de um amigo que dizia que pirotecnia em excesso é usada para esconder a limitação da banda. Não foi o caso aqui. Palmas para os britânicos que trouxeram um som pesado de responsa para o evento. O engraçado é que eles realmente parecem gostar disso, fica difícil descrever a cara de satisfação dos músicos a cada efeito. Ainda no setlist teve “Black Metal”, “Bring Out Your Dead”, “Bloodlust”, “Countess Bathory”, “Long Haired Punks”, “The Death of Rock ‘n’ Roll”, “Suffering Dictates” (Live debut), “In Nomine Satanas”, “100 Miles to Hell”, “Dark Night (Of the Soul)”, “The Evil One” e “Warhead”.
Como prometido vamos falar aqui da Paula. Paula Monteiro é brasileira e vive na Espanha há mais de 10 anos, é muito fã de metal, em especial do Saxon. Quase uma hora antes de começar o show, ela estava na grade, em frente ao palco com uma pequena bandeira do Brasil. “Eu os acompanho há muitos anos, os amo e sou louca por eles.”, disse ela, que emendou que eu estava prestes a ver um dos melhores shows do Rock Fest Barcelona. Fã sempre defende seu artista. É uma adoração que às vezes se torna incompreensível, ou digna de estudo pelos grandes publicitários da humanidade. Mas a questão é que ela tinha razão, realmente foi um dos melhores shows do festival. A energia, o carinho e o respeito que os integrantes transpassam para o público é incrível e digno de poucas bandas.
Antes do show começar, passou uma retrospectiva no telão, que ia dos primórdios a banda até os dias atuais. O mesmo recurso usado por Paul Mccartney no show no Brasil. Válido para quem tem história e agrada aos fãs que podem relembrar bons momentos antes do show começar. Assim que o Saxon subiu no palco Rock, o público foi à loucura. Em determinado momento alguém jogou um colete jeans, customizado com diversas logos de bandas, mas na parte de trás havia um espaço grande de homenagem ao Saxon. Ele aproveitou a deixa e “Bem, essa música é sobre jaquetas.”, antes de anunciar “Denim and Leather”. O vocalista vestiu e depois perguntou de quem era para devolver e o fez. Bom, o que se seguiu diante disso foi que diversas pessoas se aproximaram do palco para jogar coletes. Um deles era tão pequeno que não coube em Peter e ele colocou no pedestal do microfone. Mas os coletes continuaram a aparecer, mesmo ele pedindo para que não jogassem. Fernando era jovem e estava pela terceira vez tentando jogar o colete quando fez sinal para o vocalista que veio em sua direção. Byford pediu que o menino o jogasse e caiu novamente no limbo entre o palco. O vocalista então pediu a um dos funcionários para pegar o colete e o vestiu. Ele não precisava de mais um colete jeans, mas atendeu ao pedido do fã. Ele não precisava atender ao pedido do Fernando, mas o fez mesmo assim, com a maior humildade e graciosidade. Em pequenos gestos, Peter Byford conquistou meu respeito e admiração, como o fez com todo mundo que estava ali. Além de ter uma voz incrível e não vacilou nem um minuto sequer. Um profissionalismo admirável. Conversou com o público o tempo todo. “Aqui é Barcelona, certo? Barcelona com grandes cojones?”, provocou enquanto pedia para o público cantar com ele. Vale aqui dizer sobre a pirotecnia. Teve sim, mas foi na medida. Byford falou sobre o novo álbum que vai ser lançado em agosto. Disse para o público comprar e “se você não puder comprar então roube, mas saia correndo para ninguém te pegar.”, emendou com uma risada. O setlist foi composto por: “Motorcycle Man”, “Battering Ram”, “Wheels of Steel”, “Strong Arm of the Law”, “Denim and Leather”, “Thunderbolt”, “Backs to the Wall”, “They Played Rock and Roll”, “The Eagle Has Landed”, “Battalions of Steel”, “Dogs of War”, “Solid Ball of Rock”, “And the Bands Played On”, “To Hell and Back Again”, “Power and the Glory”, “Heavy Metal Thunder”, “Crusader”, “747 (Strangers in the Night)” e “Princess of the Night”.
Arch Enemy ficou com o encargo de ser uma das últimas bandas da noite em um dia muito cheio. Cabe dizer que nesse momento a maior parte do público estava sentado na grama em frente aos dois telões, ou então no pequeno auditório com bancos que tinha lá trás, mas que era possível assistir aos shows. Poucas pessoas, em comparação aos shows anteriores, tinham se prostrado em frente ao palco. Fãs dignos de palmas, diga-se de passagem. Alissa ainda perguntou: “Barcelona, vocês ainda tem energia para esta noite? Então me mostrem.”. Palmas para o Arch Enemy também que soube administrar ser o último show de um festival e não deixar a peteca cair. O set list teve “Set Flame to the Night”, “The World Is Yours”, “War Eternal”, “The Race”, “My Apocalypse”, “You Will Know My Name”, “Under Black Flags We March”, “Dead Eyes See No Future”, “The Eagle Flies Alone”, “First Day in Hell”, “Saturnine”, “As the Pages Burn”, “No Gods, No Masters”, “Nemesis” e “Enter The Machine”. “Vocês estão se divertindo? Eu não acredito em vocês, me mostrem, quero provas. Pulem”, disse a vocalista. Palmas para quem tinha energia quase às duas da manhã depois de um dia intenso. Enquanto isso, Boikot estava tocando no Rock Tent.
Quarto dia de Rock Fest Barcelona (07/07/2019)
O domingo não estava tão ensolarado. O tempo meio nublado marcou o último dia do festival que abriu as portas ao meio dia com Big Mouthers, Michael Monroe e Therion. Sonata Artica começou com “Closer to an Animal”, “Black Sheep”, “X Marks the Spot”, “The Day”, “I Have a Right”, “Tallulah”, “A Little Less Understanding”, “FullMoon”, “Life”, finalizando com “Vodka”, uma espécie de versão da canção folclórica “Hava Nagila”, cantada fielmente pelo público.
No Rock Tent estava Elvellon. A banda alemã de metal sinfônico agradou bastante ao público. “Que incrível ver todo mundo nessa tenda.”, disse o guitarrista. Eles pediram ajuda do público para cantar algumas músicas, ensinando as vogais que precisavam ser cantadas, quase como uma afinação de coro. “Não está ruim”, bradou a vocalista antes de decidir ir para a música.
Quem chegou causando no palco Rock foi Sebastian Bach. O músico disse algumas palavras em Catalão, o que dividiu veemente a plateia. O público local adorou a atenção e vibrou a cada palavra dita. Já, quem era de fora, não gostou tanto assim. Havia muita gente de diversos países que começaram a reclamar imediatamente. “Por que ele está falando em Catalão?”, perguntou um inglês ao amigo, lá pela terceira ou quarta tentativa de falar a língua. Vale sim dizer que foi um gesto muito bacana do cantor, a crítica aqui fica por conta de ter sido o show inteiro e que ele poderia ter dito também em inglês para o público de fora. O ex-vocalista do Skid Row trouxe aquele ar de irreverência dos anos 90 ao palco do Rock Fest Barcelona. Chamou uma moça ao palco e tascou um beijão de faltar ar na garota, que ficou uns cinco minutos tentando compreender o que estava acontecendo. Em determinado momento, questionou: “Vocês estão prontos para o Dee Snider? Para o Testament? Para o Def Leppard? Eu estou pronto para um ar condicionado.”, disse ele enquanto limpava o suor da testa com as mãos. Fica até difícil explicar o transporte ao passado aqui, mas totalmente verdadeiro, apesar de Bach parecer mais interessado em interagir com o público do que cantar. O setlist foi praticamente quase que exclusivo com as músicas do Skid Row, coisa que os orfãos da banda adoraram: “Slave to the Grind”, “Dream Forever”, “Here I Am” , “18 and Life” , “Piece of Me” , “I Remember You” , “The Threat” , “Big Guns” , “Sweet Little Sister” , “American Metalhead” (PainmuseuM cover), “Monkey Business” , “Rattlesnake Shake” e “Youth Gone Wild”.
Lá pelas 18 horas, Children
of Bodom trouxe o metal pesado para a
cena do Rock Fest Barcelona 2019. A banda finlandesa de metal
melódico surpreendeu no palco Fest. O set list foi “Are You
Dead Yet?”, “Under Grass and Clover”, “In Your Face”,
“Platitudes and Barren Words”, “Angels Don’t Kill”, “This
Road”, “Hate Me!”, “Downfall”, “Bodom Beach Terror”,
“Hate Crew Deathroll”, “If You Want Peace… Prepare for War”.
Mas foi um aperitivo para o que viria na sequência.
Testament foi um dos grandes shows do dia, no quesito música. Eles tocaram: “Brotherhood of the Snake”, “The Pale King”, “More Than Meets the Eye”, !D.N.R. (Do Not Resuscitate)”, “Eyes of Wrath”, “Low”, “Into the Pit”, “Practice What You Preach”, “Electric Crown”, “Over the Wall”, “Disciples of the Watch”, “The Formation of Damnation”. O público realmente parou para ver o show. O que é um pouco difícil em festivais com tantas atrações de comida, bebida, além do trem do terror, cadeira elétrica, grandes instrumentos, diversas tendas com relíquias para compras e tudo o mais que o Rock Fest Barcelona 2019 poderia oferecer. Até John Petrucci foi para a plateia, próximo do palco para assistir. Mas ao ser reconhecido pelos fãs, voltou discretamente para os portões que separam a entrada do palco.
O Dream Theater foi a próxima banda no palco Fest. O telão atrás do palco mostrava um cenário com máquinas ao fundo, onde as luzes dos robôs acendiam. “Isso é muito legal, de ver todos vocês aqui, celebrando música, certo?”, disse James LaBrie. Petrucci interagiu o tempo todo sorrindo e balançando a cabeça para os fãs. O setlist foi “Atlas (Instrumental Alt)” (Nick Phoenix & Thomas J. Bergersen song), “Untethered Angel”, “As I Am”, “Fall Into the Light”, “Peruvian Skies”, “Barstool Warrior”, “The Dance of Eternity”, “Lie”, “Pale Blue Dot”.
Foi por causa do Dream Theater que Ilyes Bensalem resolveu ir ao Rock Fest Barcelona, ele não pensou duas vezes, comprou os ingressos e a passagem para curtir o festival. O que ele achou do show? “Como um fã imenso do Dream Theater eu fiquei um pouco desapontado porque eles anunciaram que iriam tocar o 20° aniversário de seu álbum e tocaram metade do novo álbum ‘Distance Over Time’. Mesmo assim, eu estava sentado uma hora antes em frente ao palco para ver eles de perto e vê-los tocar de perto que qualquer coisa que eles tocassem, mesmo que fosse Britney Spears eu iria gostar. Só para ter uma ideia do que foi.”, disse o argelino que mora na Irlanda há alguns anos.
Dee Snider é Dee Snider. Não tem como ir a um show dele e ficar parado. Ele é extremamente ativo e interage muito, mas muito mesmo com o público. Ele é tão querido pelo público que foi convidado para um casamento no meio do show. “Vocês estão me convidando pro casamento? Mas que dia é? Não tem data no meu convite.”, disse o vocalista. O setlist foi basicamente o mesmo do show que ele fez em Curitiba: “Lies Are a Business”, “Tomorrow’s No Concern”, “You Can’t Stop Rock ‘n’ Roll”, “American Made”, “Under the Blade”, “I Am the Hurricane”, “Become the Storm”, “We’re Not Gonna Take It”, “Burn in Hell”, “I Wanna Rock”, finalizando com o cover de “Highway to Hell”. Claro que as músicas que mais fizeram sucesso com o público foram os clássicos do Twisted Sisters “We’re Not Gonna Take It” e um “I Wanna Rock” cantando veemente pelo público debaixo de chuva.
Quem subiu no palco depois disso foi o Europe. O setlist foi “Walk the Earth”, “The Siege”, “Rock the Night”, “Scream of Anger”, “Prelude”, “Last Look at Eden”, “Ready or Not”, “War of Kings”, “Carrie”, “Nothin’ to Ya”, “Superstitious” (with snippet of “No Woman No… more ), “Cherokee” e “The Final Countdown”.
Cannibal Corpse é Death Metal na veia. Eles se apresentaram na Rock Tent com o setlist composto por “Code of the Slashers”, “Red Before Black”, “Staring Through the Eyes of the Dead”, “Devoured by Vermin”, “I Cum Blood”, “Stripped, Raped and Strangled” e “Hammer Smashed Face”. O vocalista George Fischer jogou garrafas de água aos fãs no meio do show, porque o calor dentro da tenda estava beirando o insuportável. Mas parecia mais um jogo “Ei, você derrubou”, disse Fischer e logo depois jogou mais uma. “Você também derrubou”, reclamou o vocalista.
Def Leppard ficou com a missão de fechar o festival. Ou o festival teve a missão de fechar sua turnê europeia. “Há 42 anos atrás nós tivemos um sonho e decidimos ver o que ia acontecer. E agora estamos aqui.”, disse o vocalista. O repertório acompanhou um pouco essa trajetória e foi cheio de sucessos que fizeram os britânicos estarem ali como uma das atrações principais do Rock Fest Barcelona como “Love Bites”,“Pour Some Sugar on Me”, “Rock of Ages”, além de “Personal Jesus” (Depeche Mode song), “Rocket”, “Animal”, “Let It Go”, “When Love and Hate Collide”, “Let’s Get Rocked”, “Armageddon It”, “Rock On” (David Essex cover), “Two Steps Behind”, “Man Enough”, “Bringin’ on the Heartbreak”, “Switch 625”, “Hysteria”, “Photograph”.
E assim terminou o Rock Fest Barcelona, com certeza com um gostinho de quero mais.