O conceito de superbanda, que eu imagino ocupar a cabeça da maioria das pessoas, é o de um agrupamento de músicos com talento acima da média, já consagrados no meio, e que ostenta aquela aura de superioridade, se aproximando algo do solene. Asia é o primeiro nome que sempre me ocorre nessa seara e que me passa essa sensação.
Mas, e se distorcermos um pouco apenas essa última parte? E se a tal superbanda for uma formação que possua a inclinação para o espetáculo tão evidenciada quanto o talento de cada um? E se a banda, ao invés de ter um elemento central, como é tão comum, for composta por quatro exibicionistas, quatro acrobatas, chamando a atenção tanto para si individualmente, quanto para o todo?
Depois que deixou o Van Halen, David Lee Roth continuou sendo David Lee Roth, sem tirar nem por. Mesma forma de cantar, mesma forma de se vestir, mesma atitude de fanfarrão e mesma diretriz musical. Gravou um bem sucedido EP, “Crazy From The Heat”, enquanto organizava sua investida principal e, para tal, montou um verdadeiro dream team, uma banda que hoje parece ser quase impensável de existir, com dois monstros do virtuosismo, Steve Vai, na guitarra e Billy Sheehan, no baixo, e com o baterista Greg Bissonette, um músico mais voltado para as sessões de estúdio, mas que embarcou no projeto e assimilou bem o espírito da empreitada, realizando sua parcela de exibicionismos atrás do seu kit, para não ficar ofuscado pelos três maníacos que faziam a comissão de frente.
Tirando os covers de “Tobacco Road”, “I´m Easy” e “That´s Life”, sendo que essas duas últimas são naquela linha de boogie e jazz standarts que David Lee Roth sempre gostou, e na qual ele faz como ninguém o papel de crooner, o resto do álbum foi inteiramente composto pela parceria Lee Roth e Vai, restando ainda para Sheehan apresentar a faixa “Shyboy”, cujo título, aliás, parece até ser contraditório, quando se olha para a banda em ação.
A primeira música, “Yankee Rose”, inicia com um quase inacreditável diálogo entre Roth e a guitarra de Vai. Uma abertura brilhante que já entrega, de cara, qual será o clima do disco! E para aqueles que, à época, ainda não estavam conformados com Roth fora do Van Halen, a ponte dessa canção, antes do refrão, soa absolutamente como soava sua antiga banda!
O mesmo disco que tem canções mais despojadas como “Goin Crazy”, também traz faixas como “Elephant Gun”, que parece ter sido incluída para satisfazer o desejo dos virtuosos músicos em debulharem seus instrumentos, executando linhas bem rápidas e complexas. Billy Sheehan, com toda sua capacidade sobrehumana, domina a parte intermediária da música, levando ao desespero os inúmeros aspirantes a baixista que se proponham a replicar o que ele consegue fazer com tanta naturalidade.
“Eat´Em And Smile” é um disco extremamente divertido e que demonstra que a capacidade musical absoluta não precisa vir acompanhada de soberba. Lee Roth é o maior mestre de picadeiro que surgiu no rock e não deixou que as coisas esfriassem em sua carreira, muito pelo contrário, afinal, o show sempre deve continuar!
-
8/10