Resenha: Danzig – Black Laden Crown (2017)

Tirando o período meio conturbado, entre os discos “Blackacidevil” e “I Luciferi”, podemos considerar que o Danzig teve duas grandes fases em sua carreira: a primeira, dita clássica, que cobriu de “Danzig” até “Danzig 4”, quando contava com a presença de John Christ nas seis cordas; a segunda sendo a época atual, consagrada pela parceria com o monstruoso Tommy Victor, líder do Prong, na guitarra.

Essa combinação de forças teve início em 2004 e gerou, contando com o presente lançamento, três discos. Ou quatro, se você for muito purista e quiser incluir o álbum de covers “Skeletons” nesse meio, mas eu prefiro esquecer que esse equívoco existe. “Black Laden Crown” é o mais novo rebento da dupla e foi produzido pelo próprio Glenn Danzig, para lançamento pela Evilive em parceria com a Nuclear Blast, tal qual ocorreu com “Skeletons”. Na ausência de uma formação estabelecida para a efetivação da gravação, Tommy assumiu também o contrabaixo e, para a função de baterista, quarto músicos foram utilizados: Dick Verbeuren (Megadeth), Karl Rockfist, Johnny Kelly (Type O Negative) e Joey Castillo (Queens Of The Stone Age), sendo que os dois últimos já participaram de trabalhos anteriores da banda.

“Circle Of Snakes” e “Deth Red Sabaoth” estão longe de serem álbuns absolutos, mas tem seus bons momentos. “Black Laden Crown”, porém, surge como o trabalho mais coeso dessa fase do Danzig, até o momento. É certo que todas as composições são de autoria de Glenn, mas Victor é uma presença musical de muita força e imprime suas iniciais em tudo que faz. O talento de Victor consegue, inclusive, deixar bem distinto para nós, que estamos do outro lado das caixas de som, as suas personas – e timbres – quando atua como Prong ou quando atua como Danzig.

De qualquer forma, após a introdução lânguida e arrastada, com a faixa título, e o leve aumento de velocidade com “Eyes Ripping Fire”, temos a sensação de que esse seria o disco ideal para suceder “Danzig 4”, de 1994. Um trabalho onde a melodia e o tom sinistro/melancólico superam a utilização das levadas mais rápidas nos arranjos das músicas. Mesmo “Devil On Hwy 9”, que esfrega em nossos narizes que Glenn Danzig influenciou o Metallica em sua fase mais áurea, não avança muito dentro da contagem dos bpms.

Embora o seu timbre ainda esteja impecável, a voz de Glenn soa, hoje, um pouco menos cheia. Ainda sobrexiste a sensação de “Jim Morrison cantando no Black Sabbath”, mas em menor grau. Curiosamente, essa impressão transparece mais fortemente nos trehos mais suaves das composições. Quando as músicas apresentam mais ataque, como em “But A Nightmare”, podemos perceber que aquele sujeito, que fez história a frente do lendário Misfits, permanence no comando da situação, embora hoje privilegie o clima e a melodia para espalhar sua peculiar forma de poesia.

Não espere aqui o Danzig de “Possession”, “Long Way Back From Hell” ou “Twist Of Cain”. Espere o Danzig de “Cantspeak”, “Dirty Black Summer”, “Sistinas” ou “She Rides”, que é igualmente válido e carrega a mesma mensagem e a mesma musicalidade, embora com tons e cores diferenciadas. Mesmo que hoje não experimente mais a popularidade que já desfrutou, o Danzig conseguiu finalmente encontrar o ponto de conexão entre suas fases e apresentou um disco que manterá incólume a sua base de seguidores sem que, para isso, precisasse soar repetitivo ou monótono como parecem preferir fazer alguns artistas de mais renome que teimam em não querer passar o bastão. Nesse cenário, Glenn tem a vantagem de poder correr por fora e, no processo, permanecer fiel à sua arte.

Músicas

01.Black Laden Crown

02.Eyes Ripping Fire

03.Devil On Hwy 9

04.Last Ride

05.The Witching Hour

06.But a Nightmare

07.Skulls & Daisies

08.Blackness Falls

09.Pull the Sun

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