Resenha: Crimson Glory – Transcendence (1988)

Em 1988, a busca por desafios musicais dentro do Heavy Metal entrava em uma fase decisiva, a partir da qual se pode dizer que os parâmetros pelos quais as novas bandas iriam se orientar estavam sendo reformatados. Quando falamos em “desafios musicais”, leia-se “progressivo”. A junção das duas tendências não era bem uma novidade, mas de certo modo ainda era um tabu. Naquele ano, as eventuais resistências foram forçadas além dos limites e discos basilares como “…And Justice For All”, “Operation: Mindcrime” e “Seventh Son Of A Seventh Son” vieram à tona. A estes também podemos juntar “No Exit” (Fates Warning), “Keeper Of The Seven Keys II” (Helloween) e alguns trabalhos mais extremos na linha de “Dimension Hatross” (Voivod), “The Sane Asylum” (Blind Illusion) e “The Music of Erich Zann” (Mekong Delta). Uma banda da Florida, que havia obtido destaque com seu disco de estreia, lançava o seu segundo trabalho, que acrescentava mais um item na lista acima. 1988 foi também o ano de “Transcendence” do Crimson Glory.

A banda na qual o Crimson Glory encontrava mais similaridade era, sem dúvida, o Queensryche. Mas enquanto o grupo de Seattle possuia uma aura de seriedade mais hermética, os habitantes da Florida faziam com que sua música fluisse com mais leveza. Era grandiosa sem precisar ser grandiloquente. De qualquer modo, as duas bandas se encontram no trajeto da origem de nomes que levaram esse modo de fazer Metal para a década seguinte, como Kamelot e Conception.

Vocalistas e guitarristas costumam ser os primeiros nomes mencionados em formações de Heavy Metal. Faz parte da natureza do estilo. Nenhuma injustiça está sendo cometida aqui, pois Midnight – a alcunha de John Patrick McDonald – era realmente um cantor diferenciado. Tendo deixado apenas três álbuns gravados, antes de falecer prematuramente em 2009, estes foram suficientes para que a sua voz fosse reconhecida como a de um dos grandes cantores de sua geração. Os tons altos de “Lady Of Winter”, primeira faixa de “Transcendence” mitigam qualquer dúvida a respeito. O parceiro Jon Drenning faz a devida contrapartida com solos que inserem a melodia dentro da técnica e a técnica dentro da melodia.

“Red Sharks” é um misto de Judas Priest com Helloween, restando como a música mais dinâmica do disco. Midnight e Drenning não poderiam alçar os voos que realizam se não fosse a presença do trio que completa a formação, personificado em Ben Jackson, Jeff Lords e Dana Burnell, guitarra base, baixo e bateria, respectivamente. Depois da bela power-ballad, “Painted Skies”, vem “Masque Of The Red Death” que curiosamente, por ser inspirada no conto do mestre do terror Edgar Allan Poe, soa como algo que poderia ter sido musicado por King Diamond em algum de seus primeiros álbuns.

Atendo-se aos destaques do repertório, “Lonely” soa muito bem, evocando os melhores aspectos das bandas de Hard Metal americanas e com Drenning exibindo uma qualidade quase sobrenatural para inserir seus solos no contexto dos arranjos. Os momentos mais melódicos do disco acabam por ser os que mais cativam a atenção do ouvinte, pois “Burning Bridges” é outra faixa da qual é impossível se desapegar e isso deveria ter sido levado em conta na hora de criar a canção “Eternal World”, cujos detalhes orientais praticamente gritam pedindo que a música demore um pouco mais além do que é sua curta extensão. Caso fosse mais longa, poderia ocupar o espaço da faixa título e encerraria o disco com mais propriedade, pois esta última soa mais como uma espécie de vinheta esticada, com carisma aquém de todas que lhe antecederam.

Mas a verdadeira transcendência não está no nome da canção ou do disco. Ela está na perpetuação da memória de Midnight e no legado de sua banda, que prossegue não apenas entre os seus admiradores, mas também na reprodução implícita ou explícita daquilo que ela criou. A maioria das pessoas pode acreditar que uma discografia de três álbuns é uma herança tímida, mas esse é o entendimento de quem não aprecia a música com o coração.

Formação

Midnight – vocal

Jon Drenning – guitarra

Ben Jackson – guitarra

Jeff Lords – baixo

Dana Burnell – bateria

Músicas

01.Lady of Winter

02.Red Sharks

03.Painted Skies

04.Masque of the Red Death

05.In Dark Places

06.Where Dragons Rule

07.Lonely

08.Burning Bridges

09.Eternal World

10.Transcendence

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