A noite de sábado do dia 18 de agosto de 2018 prometia agitar o Burburinho Bar, localizado no Recife Antigo, pois essa era a data marcada para ocorrer a segunda edição do Terra Fest, festival organizado pela banda recifense Terra Prima. A primeira edição ocorreu em 2016 no mesmo local.
Para o evento desse ano, além do próprio Terra Prima, também se apresentariam as bandas recifense Final Age e Avaken, onde todas elas (incluindo o Terra Prima) tocariam músicas do próprio repertório e grandes clássicos do rock/metal.
Já ressaltando aqui que nesse texto eu não farei comparações em relação a primeira edição do festival porque não compareci a mesma na ocasião.
As apresentações estavam marcadas para se iniciar às dez da noite, mas para variar, isso não foi cumprido (o que não é novidade). Cheguei no Burburinho quase dez e meia e os shows ainda estavam para começar, mas como eu disse, isso já era algo previsível.
Ao chegar no bar me deparei com duas coisas: A primeira, com o fato de já ter um grande público dentro e fora do local para ver o festival (dada as proporções do Burburinho, certamente), e segundo, o fato do evento ocorrer no piso inferior do Burburinho, e não no superior.
Essa segunda parte foi a surpresa negativa ao meu ver, pois a parte de baixo é onde funciona o “bar” propriamente dito, ou seja, a parte que teoricamente é aberta para o público que simplesmente quer chegar lá e comer um pastel e tomar uma cerveja gelada, e eu não vejo sentido em fazer um evento “fechado” ali, principalmente porque o piso superior é mais propenso para essas coisas, isso acaba prejudicando até mesmo o pessoal que teria intenção de ir para o Burburinho sem querer ver o evento.
Mas claro, o que pesa mais é a questão estrutural, porque no piso inferior o palco é MUITO baixo, isso sem falar que é cheio de cadeiras e mesas, o que na minha opinião atrapalha um pouco na interação entre público e banda, porque na GRANDE MAIORIA dos shows do Burburinho realizados ali o pessoal fica bem mais sentado bebendo do que em pé acompanhando o show (mas claro, direito deles acompanhar dessa forma, cada um faz o que quiser). No piso superior o palco já tem uma estrutura melhor e é mais alto, o que não atrapalharia a visão dos mais baixinhos, e a pista também é mais propensa para o público interagir com as bandas.
Mas de qualquer forma, pensando justamente naqueles que querem acompanhar o show de pé, um vão foi aberto na parte da frente do palco, mas infelizmente não havia como resolver o problema de ter uma pilastra no meio que atrapalhava a visão do mesmo.
Agora, falando finalmente dos shows, às onze e quinze da noite a Final Age subiu ao palco para abrir os trabalhos na segunda edição do Terra Fest.
A Final Age é uma banda bastante nova no cenário underground recifense, e por isso, seu repertório autoral é curto, possuindo eles apenas um EP lançado com três músicas (entre elas uma intro), e obviamente por conta disso o seu setlist teve bem mais covers do que autorais.
Logo nos primeiros acordes de sua apresentação o público do Burburinho se levantou em bom número e se aproximou do palco para acompanhar o show, onde eles apresentaram o melhor do Power Metal em nível profissional.
Além das autorais “It’s The Final Age” e “Intense Dream”, o grupo também tocou clássicos como “March Of Time” do Helloween, “Lisbon” do Angra, “Father Times” do Stratovarius, “Reach Out Of The Light” do Avantasia, que teve a participação do vocalista Henrique Freire da banda Sticky Riot, e algumas outras.
O público, apesar de ter chegado mais próximo, preferiu curtir o show deles mais de boas, tendo apenas cantarolando algumas músicas em certos momentos, mas isso não tirou toda a maestria da banda, sem esquecer de destacar a grande performance do baterista Renato Alexandre.
SETLIST:
- Intro
- March Of Time (Helloween)
- It’s The Final Age
- Lisbon (Angra)
- Believer (Myrath)
- Solo Ariel (guitarra)
- Intense Dream
- Breaking Away (Avantasia)
- Solo Renato (bateria)
- Father Times (Stratovarius)
- Reach Out Of The Light (Avantasia)
Com um show de mais ou menos quarenta minutos, a Final Age encerra a sua participação no Terra Fest 2, deixando o palco livre para a principal atração da noite e anfitriões da festa, a banda Terra Prima.
De início estranhei o fato do Terra Prima ser a segunda banda a tocar, pois esperava que os mesmos fossem fechar o evento, mas deixei para lá porque isso não é uma coisa tão incomum de acontecer.
Eram pouco depois de meia-noite quando o Terra Prima subiu ao palco ao som da faixa “Once Upon a Time”, do álbum “Second”, e nesse momento, ficou claro que eles realmente eram a atração mais esperada, tendo a pista do Burburinho ficado simplesmente lotada com todos delirando com o início da apresentação.
Há muito tempo que a banda é um dos principais nomes da cena recifense, e o público presente não deixou dúvidas nisso, tendo se agitado ao som de todas as músicas do repertório, fossem elas autorais ou covers.
E por ser uma banda mais rodada e com repertório maior, diferente da Final Age, o setlist do seu show foi muito mais focado nas suas autorais. E além disso, os covers tocados não foram escolhidos a toa, segundo o vocalista Daniel Pinho, todos eles são de bandas que os influenciaram de alguma forma, e que eles já tocaram em alguma apresentação ao longo dos seus 14 anos de carreira.
Na parte autoral do setlist, eles dividiram igualmente a quantidade de músicas dos seus dois discos (And Life Begins e Second) com cinco cada (isso considerando “Time to Fly” e “Life Carries On” como uma só, já que na ocasião elas foram tocadas como dobradinha).
Um dos momentos que mais me chamou a atenção na apresentação foi quando a faixa “Gain” foi tocada, do disco “And Life Begins”, música essa que provavelmente o Pinho gravou na época em um tom muito alto o qual ele não consegue mais alcançar, e após terminar de tocar a mesma Daniel falou “Devia ter feito que nem o Angra com o Angels Cry e gravado meio tom abaixo”. Todos riram na hora, mas de qualquer forma, era perceptível que ele teve dificuldades para cantar a canção.
O único ponto negativo que ressalto no show do Terra Prima foi a execução da música “Thomas”, do álbum “Second”, onde o backing vocal do resto da banda durante o refrão acabou fazendo muita falta.
E falando em “Thomas”, espero um dia poder ter uma oportunidade de entrevistar a banda para saber quem foi esse Thomas, já que Pinho sempre faz questão de perguntar isso ao público, mas nunca explicou.
Na parte dos covers, foram escolhida as musicas “I Want Out” do Helloween, “Nothing to Say” do Angra, “The Evil That Men Do” do Iron Maiden, “Highway To Hell” do AC/DC, e “Here I Am” do Shaman (que contou com a participação especial de Renato Alexandre, baterista da Final Age).
Como a banda escolheu os covers se baseando em vezes que tocaram as músicas em questão no passado (tendo citado várias vezes o primeiro show deles no antigo Docas, inclusive), uma faixa que poderia ter sido inclusa seria “Enter Sandman” do Metallica, por ela ter sido executada por eles quando a banda fez a abertura do show do Iron Maiden em Recife no ano de 2011 (ocasião onde eu os conheci, inclusive).
E como sempre, a banda fez questão de levantar a bandeira pernambucana (como sempre faz em todos os shows) mostrando todo apoio não apenas a cena, mas também a cultura do estado (tendo até uma palhinha do hino de Pernambuco ao final de “Life Carries On”).
SETLIST:
- Intro
- Once Upon a Time
- Coming Home
- You Won’t Stop Me
- Nothing to Say (Angra)
- Wheels of Time
- Await the Story’s End
- I Want Out (Helloween)
- Step By Step
- Gain
- Thomas
- Essence
- Here I Am (Shaman)
- The Evil That Men Do (Iron Maiden)
- Gatez/Time to Fly/Life Carries On
- Highway to Hell (AC/DC)
Após uma hora e meia de show onde público e banda interagiram como toda a energia possível, o Terra Prima encerra mais um ótimo show (o sexto que vejo deles ao vivo), dando espaço para a Avaken, última atração da noite.
Como tinha dito anteriormente, estranhei o fato do Terra Prima ter sido a segunda atração a tocar, e a Avaken tocado por último, isso pelo fato da segunda ser uma banda muito nova, tanto que se você procurar sobre eles nas redes sociais poucas informações são encontradas.
Segundo Daniel Pinho disse durante a apresentação do Terra Prima, a escolha da Avaken para fechar o evento foi feita porque eles queriam uma banda que tocasse mais covers para encerrar.
De qualquer forma, o problema deles terem feito isso foi porque como a maioria dos que estavam no Burburinho foram para ver o Terra Prima, e após o fim do show dos mesmos boa parte do público deixou o bar, tendo a Avaken tocado para menos pessoas do que teria se tivesse sido uma das bandas de abertura.
Mas a diminuição do público não foi empecilho para o grupo, que fazia ali a sua segunda apresentação da carreira, intercalando no setlist covers de clássicos do rock e metal, e músicas autorais.
Mesmo em menor número, a plateia teve uma boa interação com a banda, tendo inclusive vários momentos de descontração entre eles, além da presença de palco do guitarrista Ben Canto que fez todo o diferencial.
A atuação técnica do vocalista Ítalo Targino foi simplesmente impecável, apesar de ter tido momentos em que ele ficou visivelmente perdido em algumas letras.
Por volta de três e meia da manhã a Avaken encerrou sua apresentação em grande estilo com “Living After Midnight”, do Judas Priest, fechando com chave de ouro a segunda edição do Terra Fest.
SETLIST:
- Holy Diver (Dio)
- Hearts On Fire (Hammerfall)
- The Herald
- For Whom The Bell Tolls (Metallica)
- Enter Sandman (Metallica)
- The Sin
- Gates of Gold
- Symphony of Destruction (Megadeth)
- Thought The Hell
- Living After Midnight (Judas Priest)
Fazendo um rápido balanço geral do evento, as minhas únicas críticas são em relação a escolha do piso inferior do Burburinho para o festival ocorrer (por motivos já ditos no início do texto), e o fato da Avaken ter sido deixada para tocar por último, sendo essa uma banda que ainda está tentando garimpar seu espaço na cena, então, toda visibilidade possível é importante para eles.
De resto, o Terra Fest não deixou a desejar, as três apresentações foram em alto nível, a organização funcionou bem e o som estava na melhor qualidade possível, sendo possível ouvir todas as bandas de forma precisa.
E assim, esperamos que o Terra Prima não demore dois anos novamente para organizar outro festival, e que esse seja um evento garantido no calendário do metal recifense.