Em meio ao clima tenso da apuração do segundo turno das eleições que deixou toda a população brasileira com os nervos a flor da pele, os irmãos Cavalera chegavam ao Recife para apresentar a sua turnê especial, relembrando as principais músicas dos álbuns “Beneath The Remains” e “Arise”, lançados em 1989 e 1991, respectivamente, na época onde os mesmos faziam parte do Sepultura.

De início, tinha alguns receios em relação ao show pelas seguintes razões:

Primeiro, pelo fato do mesmo ocorrer no dia do segundo turno, durante a eleição mais acalorada da história, isso sem falar que o evento ocorreria exatamente após o fim da apuração, sendo assim, tinha receio por conta de como os ânimos do pessoal poderia estar em relação a isso, além desse fator poder ter afastado algumas pessoas que teriam interesse de ir ao show.

Segundo, o show foi marcado com menos de um mês de antecedência, isso sem falar no ingresso caro (200 reais a inteira). Não questiono o valor de ingresso, porque infelizmente um show dos Cavalera realmente custa caro, mas o problema maior foi a “antecedência” que o evento foi marcado que acabou não dando tempo hábil para muitas pessoas que queria ir de guardar dinheiro para comprar o ingresso, até porque com um valor desse a pessoa precisa se planejar bem financeiramente.

E já próximo das sete da noite (horário marcado para a abertura dos portões) já se via um reflexo disso, a movimentação no Clube Internacional estava muita fraca para um show do porte dos irmãos Cavalera.

Os portões foram abertos próximo das sete e meia da noite com um público ainda em número baixíssimo, mas como aqui em Recife é normal a galera só chegar próximo da hora do show principal (às nove e meia da noite, no caso), ainda dava para relevar esse fato.

De início, o show do Exorcismo, banda de abertura, estava marcado para se iniciar às oito da noite, mas surpreendentemente, começou uns dez ou quinze minutos antes disso (primeira vez que vi um show começar antes do horário combinado).

A banda recifense Exorcismo subiu ao palco do Clube Internacional ainda diante de um público baixo, mas mesmo assim, mostraram toda a sua energia e mandaram um thrash metal de respeito, com toda a velocidade e brutalidade possível, apresentando as músicas do seu disco “Exorcise and Steal”, lançado esse ano.

E quero dar um destaque ao baterista e vocalista Denis Andrade, pelo fato que respeito muito os músicos que conseguem fazer essa dupla função, principalmente em um estilo como o thrash metal que exige muita agilidade por parte do baterista. Definitivamente não é qualquer que consegue fazer o que ele faz.

Apesar do som não ter colaborado muito na apresentação do quarteto, eles seguraram bem o tranco. E quando eles já estavam na chamada “saideira”, a produção deu uma boa notícia para a banda, dizendo que eles teriam um tempo extra de apresentação, que eles aproveitaram tocando mais duas músicas.

Infelizmente, o público não ficou em sintonia com o grupo, além do pouco número de presentes no momento, os que estavam preferiram curtir o show mais “de boas”, não tendo nem sequer um principio de mosh pit ao longo de todo o show.

SETLIST:

  1. Dump of Death
  2. Surrounded by Fakes (Kill The Falses)
  3. God Is Dead
  4. Exorcise And Steal
  5. Epidemic Lobotomy
  6. Apocalipse Nuclear
  7. Master Of Reason
  8. Disgrace and Terror

Encerrado a apresentação do Exorcismo, e com o Clube Internacional com um pouco mais de gente, se iniciava a expectativa para o início do show dos irmãos Cavalera, principal atração da noite.

A pontualidade foi seguida a risca, exatamente na hora marcada (nove e meia da noite), surgiam os sinais vindos do palco que o espetáculo estava prestes a começar, tendo assim os headbangers, que já faziam maior número, se aglomerado na pista para esperar a entrada dos Cavalera.

Sob o êxtase da galera, e com toda a banda no palco finalmente, os Cavaleras começam a pedreira da noite ao som da faixa ”Beneath The Remains”. Mas, foi apenas em “Inner Self”, faixa seguinte, que o “pau começou a cantar” na plateia, tendo a mesma finalmente formado os primeiros mosh pit da noite.

O show foi seguindo com as faixas “Stronger Than Hate”, “Mass Hypnosis” e “Slaves Of Pain”, enquanto isso, o público tinha seus picos de empolgação, mas também tinha momento de calmaria onde a roda punk ficava amena, sendo apenas um buraco enorme no meio da pista.

Após “Primitive Futures”, houve um rápido momento em que Iggor Cavalera ficou sozinho no palco, o que me fez achar que iria sair um solo de bateria dele. Mas na verdade, aquela era apenas a brecha para o início da execução do grande clássico “Arise”, onde o público voltou a se empolgar e fez a roda punk rodar no mais alto nível de brutalidade.

E claro, a execução dessa música não é a mesma se não for seguida de “Dead Embryonic Cells”, vindo também logo em seguida a faixa “Desperate Cry”.

Ao longo do show via-se que público e banda estavam em sintonia, sempre que Max conversava com os presentes, os mesmos correspondiam bem. Apesar de ter tido um momento que Max falou em inglês com o público (acontece, afinal, ele mora fora e está mais acostumado a conversar em inglês).

Após “Desperate Cry” houve mais um momento que a plateia acabou acalmando um pouco, tendo eles ficado bastante mornos durante as músicas “Altered State”, “Infected Voice” e “Orgasmatron”, sendo essa última um cover da banda Motörhead.

Interessante foi ver que em “Orgasmatron”, Max largou sua guitarra e resolveu ficar só na voz, mostrando também uma ótima presença de palco, sempre chamando a plateia para o show.

E da mesma forma, ele também chamou o público para que cantasse junto com ele o cover de um dos maiores clássicos do Motörhead, a música “Ace Of Spades”.

Ao encerrar a música, Max saudou mais uma vez o público recifense e perguntou se os mesmo queriam mais. Certamente, o pessoal respondeu de forma positiva, sendo assim, Max disse que se eles gritassem, teriam mais.

Com isso, a banda deixa o palco e começar a esperar pelo clamor do público para que retornassem para o “bis”. E assim os presentes fizeram, primeiramente, clamando pelo nome do “Sepultura”, mas corrigindo logo após para “Cavalera”.

Um rápido riff de guitarra vindo de trás do palco já sinalizava que a banda voltaria, e colocaria ainda mais fogo no Clube Internacional.

Dali em diante tivemos o ponto mais alto do show, onde os Cavalera saíram do “Beneath The Remains” e do “Arise”, tendo eles tocados alguns outros grandes clássicos da época deles  no Sepultura, começando com “Troops Of Doom”, onde uma wall of death foi formada na pista do Clube Internacional.

No mesmo pique, “Refuse/Resist” e “Roots Bloody Roots” foram executadas com a roda punk na plateia intensificada, e todos soltando a voz até o último verso.

Nessas últimas músicas ficava claro o quanto a voz do Max está desgastada, o que é normal, afinal, a idade chega para todos. Tanto em “Refuse/Resist” quanto em “Roots Bloody Roots”, o Max não soltava aquele “berro” digno dos velhos tempos no Sepultura, e o público acabou o ajudando nas partes mais altas.

Antes do show se encerrar, a banda ainda tocou a primeira parte da música “Polícia”, cover dos Titãs, e um “Medley” das músicas “Beneath The Remains” e “Arise”.

Por volta de 11 da noite, os irmãos Cavalera encerravam sua passagem pelo Recife com grande êxito.

SETLIST:

Agora indo finalmente para as considerações finais. O público da noite foi mediano, não ficou aquela coisa feia de meia-dúzia de gatos pingados, mas também o número ficou muito abaixo do esperado para uma atração com o prestígio que os irmãos Cavalera têm. E podemos levar como exemplo a última passagem deles na cidade há quatro anos com o Cavalera Conspirancy, no mesmo Clube Internacional, onde o público foi muito superior.

Os fatores para isso ter acontecido eu já citei no início do texto, e ressalto que o peso maior foi o fato do show ter sido marcado com menos de um mês de antecedência, e falo isso porque os preços das entradas ficaram entre 100 e 200 reais, que são valores muito altos. Com isso, muitos não tiverem nem tempo hábil para juntarem dinheiro e se planejarem financeiramente para o evento.

E sobre o fato do show ter ocorrido no mesmo dia do segundo turno das eleições, fico feliz que mesmo assim nenhuma ocorrência relacionada a isso aconteceu durante o evento, e ressalto que havia pessoas na casa usando adesivos do candidato Fernando Haddad, e outras com camisa do candidato Jair Bolsonaro (poucas, mas haviam).

No mais, para os que estiveram presente, foi um show para se guardar na memória, onde a organização e a pontualidade não falharam.

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