Se tem um festival que é um ponto fora da curva a parte na cena recifense é o Stoned Festival. E antes de falar da edição especial de 8 anos do festival (que ocorre várias vezes no ano), que ocorreu no dia 16 de novembro na Torre Malakoff, gostaria de relatar aqui a minha primeira experiência com o evento para vocês entenderem a importância do mesmo.
Foi a primeira edição que ocorreu em 2018 (primeira edição daquele ano, não no geral, para que não ocorra nenhum mal-entendido), a mesma foi sediada no bar Apollo 17 (onde normalmente o evento ocorre na maioria das vezes), localizado no Recife Antigo, e eu tinha ido para ver uma única banda das quatro que iriam tocar naquela noite.
Na ocasião, iriam tocar as bandas Mocama, Mojica, Surt e Mondo Bizarro (N.R: Na ocasião, a última acabou cancelando de última hora por motivos de força maior), e eu tinha ido para ver a Surt, mas mesmo assim fiz questão de ver tudo.
Na hora, eu achava que aquele iria ser mais um dos muitos eventos undergrounds do Recife onde o público seria pífio (que infelizmente é o normal), mas felizmente eu estava errado. Naquela noite o Apollo 17 ficou entupido de gente do início ao fim, e o mesmo cenário se repetiu em outras duas edições que eu fui no mesmo lugar.
Como eu disse anteriormente, a edição ocorrida no último sábado, dia 16 de novembro, comemorou os 8 anos de existência do festival, e por isso o mesmo foi realizado na Torre Malakoff, também localizado no Recife Antigo, cujo o espaço é muito maior do que o do Apollo 17, contando dessa vez com cinco bandas no cast (normalmente tocam 3 ou 4 bandas por edição), sendo elas as locais Mojica, Buffalo Lecter, AMP, Mondo Bizarro, e a potiguar Deaf Cruiser.
Tendo como base as experiências que tive com o evento nas edições anterior, eu já esperava que um público de peso fosse comparecer a Torre Malakoff naquela noite, tendo esse cenário se confirmado.
De início, o evento estava marcado para se iniciar às 18h, mas como de praxe, o horário não foi cumprido, tendo a Buffalo Lecter, primeira banda da noite, subido ao palco por volta de 15 para as 7 da noite.
Quando a Buffalo Lecter iniciou sua apresentação, a Torre Malakoff ainda não estava no seu pico de movimentação, mas ainda assim um bom número de pessoas já se encontravam no local para prestigiar o trio, que traz uma proposta bem diferente no seu som.
As músicas do Buffalo Lecter são completamente instrumentais, e se eu for coloca-los em algum dos “rótulos” do rock/metal, diria que eles são um rock progressivo com distorções do Stoner, sendo algo bem experimental.
Apesar de ter seu peso, o som da banda não chega a ser algo que faça o público abrir uma roda punk, tendo o mesmo ficado assistindo a apresentação de boa em seus respectivos lugares.
No palco, a banda fez uma apresentação bem técnica e consistente, o trio tocou tanto músicas do seu EP homônimo, lançado em 2018, quanto outras autorais que ainda não foram oficialmente lançadas.
De qualquer forma, o show da Buffalo Lecter foi um bom “esquente” para o início do evento. Em seguida, seria a hora da pedrada atingir o ouvindo dos presentes com o show da banda Mojica.
Essa foi a hora em que o público começou a mostrar a que veio, pois o som do Mojica é do tipo para deixar qualquer headbanger instigado, com bastante peso, e com sonoridade e letra bastante sujas.
Podemos dizer que o show do Mojica foi o ponto alto da noite, pois foi no show deles onde o público formou a roda punk mais intensa e violenta daquele Stoned, sendo a mesma realizada durante a execução da música “Quando Minha Alma Acordar”, faixa presente no EP “Truculento”, de 2015.
E essa foi a pegada do show do Mojica em todos os seus 45 minutos de apresentação do início ao fim, sem dar um minuto de descanso aos presentes, tocando porradaria atrás de porradaria.
Mas ainda assim, os presentes ainda tinham energia de sobra para a próxima atração, que era a única de fora do estado naquele Stoned Festival, sendo ela a potiguar Deaf Cruiser.
A pegada do show do Mojica se manteve durante a apresentação do Deaf Cruiser, que é uma das seletas bandas onde o baterista também assume o papel de vocalista (apesar dos integrantes revezar no microfone em alguns momentos).
O som continuou, intenso, pesado, e as rodas punks continuaram a ser formadas na pista da Torre Malakoff.
Mas, foi durante o show do trio potiguar onde se foi registrado uma pequena tensão entre a plateia e a produção do evento. Isso ocorreu por conta de uma garota que constantemente subia no palco, e vez ou outra roubava o microfone para pedir um mosh só de mulheres, isso até chegar o momento em que membros da produção começaram a tira-la de lá.
Foi ai que o clima acabou esquentando um pouco, e constantemente via-se algumas pessoas da plateia batendo boca com a produção por conta disso enquanto o show rolava.
Já perto do fim da apresentação, a própria banda decidiu liberar o público para subir no palco e dar mosh, mas aparentemente após o ocorrido, os mesmos não se animaram tanto com a ideia. Mas mesmo assim a pegada do show se manteve.
Tirando esse detalhe, a energia tanto da banda, quanto do público (pelo menos os que não participaram da treta) foi a melhor possível, mantendo o terreno bem preparado para a próxima atração, que traria muito mais peso para aquela noite.
Naquela noite, a banda Mondo Bizarro era uma das atrações mais esperadas, se não a mais esperada, tanto que o mosh pit e a energia do público foram bastante intensas ao longo de toda a apresentação.
Claro, a energia do público com a banda estava boa, mas tecnicamente, apresentação do Mondo Bizarro foi a que mais deixou a desejar, e isso por duas razões. A primeira foi por conta de uma questão que a maioria das bandas do estilo pecam ao vivo, que é a equalização do som.
Por que falo isso? Porque por se tratar de Stoner, os caras costumam prezar muito mais pelo peso do som do que pelo resto, com isso, eles acabam colocando as distorções no talo com os amplificadores praticamente no último volume, fazendo com que a voz acabe sendo engolida pelo resto.
E a segunda razão foi que provavelmente por conta disso, o vocalista e guitarrista Júnior Supertramp parecia não estar se entendendo com o seu equipamento, ocorrendo frequentemente dele ficar afinando corda no meio da música.
De qualquer forma, os 45 minutos de show do Mondo Bizarro transcorreram com bastante peso, muito mosh pit, e quase nenhuma conversa fiada por parte da banda.
Mas, a maratona de shows da noite ainda não tinha se encerrado, com o relógio marcando mais ou menos 11 da noite, era hora da veterana AMP fechar aquele Stoned Festival com chave de ouro.
Como é bastante comum de acontecer quando o evento se aproxima do fim, muitos já começaram a deixar o local por conta do cansaço (ao contrário de como ocorre nos grandes festivais, não há prestígio nenhum em fechar o evento nessas ocasiões), mas mesmo assim, um quantitativo considerável ainda permaneceu na Torre Malakoff para prestigiar a AMP.
Apesar da equalização também não ter ficado muito boa em alguns momentos, a apresentação da AMP manteve a mesma energia de todo o evento, com o público batendo cabeça freneticamente e formando rodas punks em frente ao palco.
E com mais ou menos 45 minutos de apresentação, com muito peso e distorções, a AMP encerrou oficialmente aquela edição especial de 8 anos do Stoned Festival, quando o relógio já marcava um pouco mais de meia-noite.
Obviamente, o saldo desse Stoned Festival foi o mais positivo possível, o evento transcorreu tranquilamente, e o público compareceu em peso a Torre Malakoff para prestigiar essa noite de muito rock pesado, mostrando o quanto a cena Stoner é forte aqui em Recife.
No mais, fica aqui meus parabéns para todos os envolvidos no evento, que é a prova que o underground resiste forte.