Em meio a um período onde no Recife Antigo a cada dois passos que se dar você “tropeça” em um bloco carnavalesco, o festival independente Rock Na Calçada teve sua 24ª edição realizada no Royal Bar e Comedoria, sendo essa a primeira a dedicar todo o seu cast apenas para bandas de rock.
Na ocasião, os shows se iniciaram ainda no período da tarde com as bandas Allbedos, Ausfahrt, Rockalito, Ugly Boys e Demoniah.
As apresentações estavam marcadas para se iniciarem às 16 horas, mas como de praxe, deu aquela atrasadinha, tendo a Allbedos, primeira atração do dia, subido ao palco faltando dez minutos para às cinco da tarde.
Mas antes de começar a falar do show da Allbedos, tenho que elogiar a montagem do palco feita pela produção no Bar Royal, pois para os que não sabem, como não é comum o local servir como casa de shows, não há um palco da casa.
Por isso, a produção fez sua própria montagem de palco, a qual ficou muito boa ao meu ver se tratando de um montado na hora, tudo bem que reduziu o espaço do local que já é pequeno, mas isso era o de menos.
Mas falando finalmente das apresentações, vamos voltar ao início do show da Allbedos.
A Allbedos apresenta um som que gosto de denominar de “rock urbano”, já que é difícil rotular a música deles. No mais, eles fazem um rock cru, pesado, e com temáticas referentes ao dia a dia de todos que vivem as dificuldades da Região Metropolitana do Recife.
É interessante observar também o fato que o vocalista Romero Baltar, e o baterista Marlon Pierre se apresentaram usando uniforme de rodoviários, já na intenção de dar esse ar suburbano para a banda.
Como sempre, por se tratar da primeira banda, o público ainda estava acanhado e ainda não se encontrava em peso no lado de dentro do Royal, tendo o mesmo nem interagido tanto com o quarteto.
Tecnicamente, a banda se saiu muito bem em cima do palco, a única coisa que não estava boa era o fato que não se ouvia muito bem o microfone de Romero em certos momentos, mas claro, não estava em um nível em que a voz do vocal ficava inaudível.
SETLIST:
01 Hedonistas Viciados em Endorfina
02 Boa Vista Metafísica
03 Prisma
04 Garota do Deserto
05 Severino, Vulgo Biu
06 Democracia da Bala
Após um pouco mais de meia-hora de show, a Allbedos deixava o palco para dar espaço para o hardcore melódico da banda Ausfahrt.
O sol começava a deixar o céu de Recife, e a lua começava a dar o ar de sua graça quando a Ausfahrt iniciou sua apresentação. Nesse momento, o Royal já se encontrava bem mais cheio no lado de dentro.
E por conta disso, o show deles também acabou sendo bem mais energético do que o anterior, e o peso de suas músicas fez questão de acentuar esse detalhe ainda mais.
O show da Ausfahrt foi o segundo mais pesado do evento (o primeiro vocês saberão daqui a pouco), faltando apenas uma roda punk dos presentes para combinar com o rápido hardcore apresentado por eles, com letras falando de questões sociais.
O som do grupo lembra um pouco o Dead Fish, que claramente é uma das influências da banda, já que uma das músicas tocada por eles foi um cover do consagrado grupo capixaba da faixa “Tão Iguais”.
Além de tudo, a apresentação também contou com participações especiais de Gustavo Henrique. Heverton Ribeiro e Kássio Luiz, e com “parabéns para você” para o baixista Italu.
Assim como a apresentação da Allbedos, o show da Ausfahrt também teve uns probleminhas técnicos, que no caso foi um algum equipamento (era muito mais agudo para ser microfonia) que ficava soltando um apito de minuto em minuto. Além de um dos microfones ficando mudo em alguns momentos do show.
SETLIST:
01 Face a Face
02 Despertou
03 Impaciente Suicida
04 Ao Terror das Armas
05 Tão Iguais (Dead Fish cover)
06 Mundo Hóstil
07 Incógnita
08 Tropeços
09 Olhos Fechados
10 Ausente
Com a lua já iluminando o céu de Recife, após a Ausfahrt encerrar sua apresentação, era a hora da Rockalito subir ao palco, representando a cidade de Caruaru no 24º Rock Na Calçada.
Entre todas as bandas que tocou no evento (já incluindo as que vieram depois), a Rockalito foi a que apresentou um som mais limpo, tendo a sonoridade do rock n roll tradicional setentista.
Mesmo sendo um som “old school”, a música da Rockalito não é aquela coisa enjoada e batida, isso sem falar nas pitadas de Blues colocada por eles em algumas músicas que ficou simplesmente sensacional.
O único problema técnico registrado em sua apresentação foi durante o início em que pouco se ouvia a guitarra do vocalista Vinícius Presteio, mas o mesmo foi resolvido logo depois com uma simples troca de amplificador.
Mesmo com o Royal estando com um público menor em relação a banda anterior, a energia do trio no palco foi ótima, o grupo caprichou na técnica, principalmente durante os solos psicodélicos. Tendo seu highlight quando Vinícius desceu do palco por um momento e solou em meio a galera.
A apresentação também teve direito a três covers de clássicos do rock (Black Sabbath, Rush e AC/DC) com a participação de David Alves no vocal, que se portou no palco como se fosse realmente um dos integrantes do grupo de tão bem entrosado que estava com eles, sendo esse um dos highlights da noite.
SETLIST:
01 You Got Me
02 Fire Amp
03 Dance of Life
04 Sanctuary of the Crazy
05 Fairies Wear Boots (Black Sabbath cover)
06 Working Man (Rush cover)
07 It’s a Long Way To The Top (AC/DC cover)
Após o fim da apresentação da Rockalito, a produção avisou sobre uma mudança na ordem do line-up resultou na troca de horários entre as bandas Ugly Boys e Demoniah.
Sendo assim, o trio punk liderado por Geydson Menezes, que de início iria fechar o evento, acabou sendo a apresentação seguinte aos caruaruenses da Rockalito.
Com 22 anos de atividade, a Ugly Boys encarnou o espirito de uma verdadeira banda punk old-school, não apenas por conta de sua sonoridade referente ao clássico punk dos anos 70/80, mas também por conta dos problemas técnicos ocorridos durante do show em maior escala, sendo o primeiro o fato do pedal da bateria ter quebrado na primeira música.
Mesmo com o pedal danificado, a banda arriscou tocar a segunda música, tendo após o fim da mesma, parado o show novamente para ajeitar o problema, que foi resolvido após uma boa alma disponibilizar um pedal novo.
E também foi durante a apresentação da Ugly Boys onde o microfone menos ajudou, principalmente o do backing vocal que estava praticamente inaudível. Isso sem falar na microfonia que o microfone dentro do bumbo estava causando no som.
Mas desconsiderando todos esses problemas, o som da Ugly Boys me fez lembrar dos meus tempos onde eu era um projeto de headbanger (aos 13/14 anos), quando comecei a adentrar no rock ouvindo as bandas punk old-school, entre elas, duas que o trio fez cover, o Misfits e os Ramones. E no momento em que eles fizeram um som mais puxado para o Ska, me lembrei da época quando ouvia bastante Rancid.
Além dos covers já citados anteriormente, também rolou uma versão punk do clássico “Three Little Birds” do cantor Bob Marley, e um cover da banda Buzzcoks.
O show poderia ter tido bem mais energia por parte do público, mas a dança que alguns faziam ao som das músicas mais “Ska” já fizeram valer toda a apresentação.
SETLIST:
01 Marcado Pra Morrer
02 The Radio
03 Hybrid Moment (Misfits cover)
04 O Diário e a Vida
05 Make To Happen
06 Three Little Birds (Bob Marley cover)
07 Futilidade Cultuada
08 Bem-Vindo ao Clube
09 Do You Remember Rock and Roll Radio (Ramones cover)
10 Maior Inimigo
11 Te Ver
12 Chapolin
13 What Do I Get (Buzzcoks cover)
Lembram quando falei que o show do Ausfahrt tinha sido o segundo mais pesado do evento? Pois bem, falarei agora da apresentação que ficou com esse título, sendo certamente a última do festival, o Demoniah.
Ao subir ao palco do Royal, a banda fez jus ao seu nome e causou um verdadeiro pandemônio na casa mostrando todo seu Stoner Metal de peso.
A pista do Royal ficou simplesmente lotada quando o Demoniah começou seu show, dando inclusive a impressão de que eles eram o headliner da noite. Isso sem falar na energia entre público e banda que chegou em seu mais alto nível com o pessoal batendo cabeça, e fazendo finalmente o primeiro mosh pit do dia.
Outra coisa que ajudou a deixar o show do Demoniah ainda melhor, além da energia da banda e do público, foi o fato que a apresentação deles foi a que menos teve problemas técnicos entre todas, e onde também se ouvia com mais perfeição todos os instrumentos.
A única coisa que acabou estragando a apresentação foi uma completa pisada de bola por parte do Royal, pois quando a roda punk estava em seu mais alto nível de intensidade, o dono do bar pediu para que não houvessem mais esse tipo de manifestação por parte do público, para que nada fosse danificado (detalhe que nem sequer havia nada para ‘ser quebrado’ na pista).
A própria banda deu esse recado do dono ao público demonstrando descontentamento por isso, mas o que eles podiam fazer, né? De qualquer forma, o show seguiu seu curso ainda na mesma intensidade, tendo dali sido executada mais duas músicas.
Antes da última música, o vocalista Jeovani Morais alegou no palco que a banda teria preparado um repertório maior para o show, mas que eles estavam tendo sua apresentação reduzida. Inclusive, ele falou que não sabia se era por conta do peso da banda, ou por causa da reação do público.
Segundo a produção, o Demoniah não teve sua apresentação reduzida, tendo seu show durado 40 minutos, assim como o de todas as atrações do evento, sendo esse o combinado.
De qualquer forma, a mesma energia de todo o show se manteve na última música, tendo o público feito de novo uma roda punk, mesmo após o pedido da casa para que não fizesse (além de um stage diving do próprio Jeovani).
SETLIST:
01 A Wolf Wanting Fresh Meat
02 Enemy
03 Before Your Lies
04 Devils Inside
05 Uncontrolled
06 Monster
Então por volta de nove horas da noite, se encerrava no Royal Bar a 24ª edição do Rock Na Calçada.
Apesar dos problemas técnicos relatados ao longo dos shows, o saldo do Rock Na Calçada foi positivo, as bandas fizeram ótimas apresentações e o público compareceu em peso ao Royal. E a produção do evento também fez um ótimo trabalho na organização, e também na coleta de doações de brinquedos para o movimento Pró-Criança.
O principal ponto negativo ficou por conta da administração do Royal Bar ao pedir que o público não fizesse roda punk durante o show do Demoniah, o que sinceramente é uma das coisas mais absurdas a se pedir para um público de show de rock.
E o mais engraçado é o fato do mesmo Royal ter sediado um outro evento de rock nos mês anterior onde tocaram três bandas de Hardcore, infelizmente não deu para eu presenciar o mesmo, mas vi vídeos mostrando o público fazendo roda punk no local tranquilamente, e detalhe, nem sequer havia palco nessa ocasião.
Mas o recado que deixo para o Royal é o seguinte: “Se não sabe brincar, não desce pro play”.
Ou seja, se não aguenta a intensidade que um show de rock proporciona, não abra a sua casa para um, e se por acaso abrir, não seja chato a ponto de pedir para o público não agir da forma que eles têm direito de agir em um show, pois a roda punk faz parte do espetáculo.
Com isso, também deixo meu apelo aqui para a Cubo8, produtora do festival, para que não se faça mais eventos do tipo no Royal, pois o local não é uma casa de show, e a administração do estabelecimento já deixou claro que não irá agir como uma.
E também não posso esquecer de elogiar a produção pela pluralidade de estilos no cast, pois mesmo tendo sido apenas bandas de rock, eles conseguiram juntar várias vertentes da música pesada no evento, isso do rock n roll setentista até o metal.
No mais, ficamos no aguardo para a próxima edição do ‘Rock Na Calçada’, que já tem data para ocorrer. Dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres.