Terminei agora de ler “Confesso”, autobiografia de Rob Halford, vocalista do Judas Priest, escrita em parceria com Ian Gittins e recém lançada no Brasil pela Editora Belas Letras.

O que posso dizer a respeito é que… estou ansioso para recomeçar! Que livro cativante! É daquele tipo que, quando você se aproxima do final, confere quantas páginas faltam, com pena de estar terminando.

A história de Rob Halford – que subliminarmente é, em boa parte também, a história do Heavy Metal – é contada de forma completa. Na memória de quem começou a acompanhar sua carreira desde 1984, não há lapsos ou ausência de fatos importantes na narrativa. O lançamento nacional aconteceu seis meses após a edição original e, portanto, o texto é atualíssimo, com a história sendo concluída já durante a pandemia da Covid-19.

E Halford é realmente um personagem fascinante. Com um senso de humor único e uma atitude completamente pé-no-chão. Entre tantas bios que tem chegado às prateleiras, há os mais diversos personagens: existem aqueles arrogantes e cheios de si, mas também aqueles que não permitiram que o sucesso subisse à cabeça. Geralmente, estes últimos produzem as melhores narrativas, sendo que Rob Halford se classifica neste último tipo. Uma simples constatação disso que estamos falando pode ser identificada na relação do músico com seus pais, que sempre foi excelente. Em livros dessa natureza, acontece bastante de, a partir de determinado trecho, os pais serem mencionados muito pontualmente ou desaparecerem por completo do texto, enquanto que, em “Confesso”, os genitores de Halford são presença constante e fundamental em toda sua história.

É claro que a homossexualidade do cantor é um tema predominante. Seus relacionamentos e sua frustração por sentir que não poderia sair do armário, bem como a paz e plenitude que teve quando enfim decidiu se assumir. Essa plenitude somou-se aquela decorrente de sua benvinda sobriedade, pois os problemas de Halford com o álcool e as drogas foram seríssimos e, por vezes, chegaram a terminar em atos de violência. 

Como nasceu a ideia de “Living After Midnight”? A entrada no palco com a moto? Em qual disco ele entende que a banda não se esforçou? Esses e tantos outros detalhes e histórias são dissecados de forma sincera e direta, bem como quais foras as verdadeiras motivações e razões que levaram ao seu período de afastamento da banda que tanto ama. O leitor irá se divertir também com os momentos onde os papeis são invertidos e Rob assume o papel de fã ao encontrar com figuras públicas que admira, inclusive algumas conversas inusitadas com personalidades do cinema.

Enfim, há livros que se arrastam em nossas mãos e há livros em que as páginas voam. A confissão de Halford é assim e, se houvesse uma edição ampliada, valeria a pena ser adquirida, embora não pareça ser o caso, pois o autor realmente conseguiu sintetizar tudo, sem quaisquer atropelos. Se você não é fã do músico, certamente se tornará fã da pessoa; se já é, irá ampliar sua admiração e acrescentar uma nova perspectiva sobre sua discografia.

Avisem-me caso algum dia seja lançada uma versão em escrita em yam-yam (se não entendeu, leia o livro para saber do que se trata)!

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