O The Hangman Tree não é só um clássico unanimemente para críticos e público, mas sobretudo por ter sobrevivido aos anos.

Para se falar um pouco deste trabalho é preciso reviver um pouco da própria história do Metal no Brasil. O disco foi lançado em 1991, época em que os estúdios saíam de suas fases pré-históricas e começavam a entender como se produzir um álbum de Metal de qualidade. “Beneath The Remains”, do Sepultura, lançado dois anos antes, mostrou os parâmetros que as bandas teriam que seguir para conseguir algo de concreto fora do Brasil. Tanto que “The Hangman Tree”, junto à “Laws of Scourge”, do Sarcófago, foram as produções nacionais mais caras da época. A Cogumelo Records apostou caro nos medalhões da casa.

Vindo de um bem-sucedido disco anterior “Phantasmagoria”, o The Mist entrou em estúdio com um time campeão: Vladimir Korg nos vocais – tremendo compositor e escritor. Seu trabalho com as letras neste disco é, sem dúvidas, majestoso. Mais que um simples cantor, Korg interpreta suas canções; Jairo Guedz (ex-Sepultura) – ocupou com maestria o posto e assumiu todas as guitarras do registro numa fase técnica e de grande qualidade criativa; Marcello Diaz – um exímio baixista. Criou linhas de baixo que independentes das bases da guitarra, deu ainda mais brilho ao trabalho; e Christiano Salles – um monstro na bateria dando alicerce a toda esta estrutura.

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O conceito de “The Hangman Tree” mostra uma onírica e trágica trajetória de um homem que estaria prestes a se enforcar, tendo como fio condutor a solidão humana e o desespero do homem perante a sua inevitável ruína. A precariedade e os conflitos da fragilidade humana são recorrentes por todo registro. Aliás, todo o conceito entendido e transportado de maneira magistral por Kelson Frost na fantástica capa deste trabalho (Frost também havia assinado a capa do registro anterior da banda, “Phantasmagoria”).

A viagem final do Enforcado começa com “God of Black and White Images” e com sua introdução a teclados por Diaz, preparando o ouvinte para o furacão que se segue, com toda a criatividade de Jairo Guedz . Seguem-se “Scarecrow”, com lindas inserções acústicas e um final arrasador, e “Peter Pan Against The World”. Destaque para a cozinha criativa nesta que é sem dúvida uma das melhores letras do Metal nacional. A cadenciada “Falling Into My Inner Abyss” traz o melhor refrão do disco em uma canção cheia de feeling. “The Hangman Tree – Act I” é uma música que contrasta momentos de fúria e calmaria, lindas passagens acústicas costuram o tema, sem dúvida a melhor performance do baixo de Diaz.

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“The Hell Where Angels Live” tem um início a lá Megadeth, com bases poderosas em uma performance irretocável de Korg. Trata-se de um tema rápido, onde mais uma vez Marcello Diaz mostra toda sua criatividade até um final tétrico que se liga à “The Hangman Tree – Epilogue”. Certamente, uma aula de bateria de Salles em uma canção objetiva e inspirada.

“Broken Toys” é um Thrash direto com direito a passagens acústicas em um mistura inteligente de climas e texturas  nas guitarras de Jairo Guedz. A viagem por fim termina em “Leave Alone“, um tema certeiro e perfeito fechando o disco para o irrevogável destino do Enforcado. Ninguém passa incólume à audição deste disco. Como bônus há ainda a faixa “Toxic Diffusion”, uma versão da música-título do debut de outro medalhão nacional, o “Psychic Possessor” .

Com tantos pontos positivos não é por acaso que “The Hangman Tree” se tornou um clássico do Metal nacional, apesar de, para a época, trabalhar com nuances mais conceituais e atmosféricos. Até antecipou o que viria a seguir na música pesada. Sem dúvidas, a banda foi influência de toda uma geração e só não ganhou mais projeção internacional devido ao na época fraco trabalho de divulgação fora do Brasil e ao fato de a banda ter sofrido uma mudança na formação logo depois com a saída de Korg. Houveram boatos não confirmados na época de um interesse da gravadora Music For Nations pelo conjunto.

O The Mist ainda resolveu prosseguir com Marcello Diaz assumindo os vocais, que participou das gravações e lançamento do EP “Ashes To Ashes, Dust To Dust”, de 1993, e do álbum “Gottverlassen”, de 1995 (este último gravado com Cassiano Gobbet no vocal e baixo, Fábio Andrey e Jairo Guedz nas guitarras e Christiano Salles na bateria), onde mostravam uma postura mais direta e com influência de música Industrial. Apesar de não serem trabalhos ruins, os vocais abaixo da média de Diaz e o distanciamento da identidade clássica da banda fizeram com que os discos não fossem bem aceitos pelo público e a banda se dissolveu definitivamente em 1997.

Em 2016 a banda promete relançar “The Hangman Tree” em uma edição especial no formato digipack.

Formação em “The Hangman Tree”:
Vladimir Korg (vocal);
Jairo Guedz (guitarra e violão);
Marcello Diaz (baixo e teclados);
Christiano Salles (bateria).

Discografia:
Phantasmagoria (1989)
The Hangman Tree (1991)
Ashes To Ashes, Dust To Dust (EP) (1993)
Gottverlassen (1997)

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Uma resposta

  1. Bela resenha e o THE MIST é uma banda sem igual, esse álbum sem dúvidas o ápice do thrash metal! Korg o melhor letrista que já vi, dentro do metal \mm/ Diaz toca baixo pra kct, assim como salles na batera, jairo fez seu melhor trampo ae tb !!

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