Se, totalmente desavisado, você se deparasse com uma banda chamada Cavera, o que imaginaria? Uma musicalidade pesada? Se sim, acertou. Guturais avassaladores, completando uma banda de sonoridade Death Metal? Nesse caso, bem, então só está parcialmente certo.

Não se julga um disco pela capa ou uma banda pelo nome, assim como sugere o ditado popular, originalmente aplicado ao mundo da Literatura. Mas não tem como impedir a imaginação de trabalhar, então involuntariamente já criamos expectativas pré-concebidas. Cavera é um nome sugestivo. Por isso, à primeira audição, o álbum de estreia interessantemente intitulado “Unfit For Rational Consumption” soa estranho. Pega de surpresa. Mas logo, logo a mente entra na mesma sintonia que a musicalidade e começa-se a analisar o disco da forma como deve ser analisado.

A banda, fundada em 2012 e originária de Carlos Barbosa, no Rio Grande do Sul, lançou o ‘full’ “Unfit For Rational Consumption” em 2014, coroando o lote que, um ano antes, havia entregado o EP “Mental Killer” como aperitivo. Somando 51 minutos de duração, o álbum conta com 13 faixas, dentre as quais cinco são as mesmas presentes no EP anterior, porém, claro, regravadas. O resultado sonoro é absolutamente moderno e peculiar.

Cavera

Rotular o estilo executado pelos caras para se ter um norte não é uma tarefa fácil, já que há muitos elementos diluídos e somados a certa autenticidade própria. Contudo, determinadas influências de System of A Down e Slipknot são claríssimas e embasam as perspectivas do trabalho. Essas influências se manifestam principalmente no vocal de Rodrigo Rossi, que lembra exageradamente ao de Serj Tankian, tanto em timbragem quanto em vibrato e na própria composição das linhas vocais em si. Mas outros recursos vocais se fazem presentes; ocasionalmente emerge alguma passagem onde Rossi canta de forma mais grave e em ritmo falado, algo também muito explorado por Corey Taylor. Também ocasional é a introdução de vocais guturais rasgados, indo contra a impressão que se tem ao ler o nome da banda. No entanto, a performance em si é excelente.

Essa excelência se estende ao instrumental, que é muito bem arquitetado com riffs que, embora poucos sejam marcantes, dotam de uma potência e criatividade dignas de aplausos. As músicas têm andamento acelerado e energético, algumas vezes chegando até a ser divertido. A postura é bastante moderna e exala um alto teor de familiaridade com o estilo System of A Down de ser, mas não se limitando apenas a isso, mesmo que a sensação seja aguçada pelo vocal. Basta observar como os instrumentos transitam coerentemente por estilos como Nu Metal, Death Metal e até mesmo Hardcore, com certa dose Punk. Vai depender da música. Esse passeio rotular não provoca oscilações na vigorosa musicalidade, que mantém sempre o nível e homogeneidade, mesmo quando a língua cantada é alterada – vide “La Strega Rossa/Senza Cura”, faixa que fecha o disco em italiano.

Todas as músicas são excelentes, vigorosas e bem compostas. Uma vez que se canta limpo na maior parte do tempo, desenvolve-se a necessidade das músicas terem refrões memoráveis. Nem todas o têm, à exceção de “Mental Killer”, por exemplo, mas isso não ofusca a competência empregada em todos os processos que tangem esse álbum.

Cavera 2

“Unfit For Rational Consumption” é um disco sólido e consistente de uma banda de muito potencial. Mas pouco adiantaria tanta qualidade sem os valiosos empurrões da estupenda produção de Ernani Savares no Soundstorm Studio, em Bento Gonçalves (RS), e da marcante identidade artística do disco, elaborada por Diego Gedoz de Souza. Com co-produção da própria banda, Ernani alcançou um som vívido, com muita energia, e bem polido, polidez essa requisitada numa sonoridade contemporânea.

Todos esses elementos juntos fazem do Cavera uma banda plenamente profissional e complicada de resumir em apenas um rótulo, podendo se tornar forte no mercado. Talvez o maior “inimigo” venha a ser o próprio nome “Cavera”, que além de não condizer exatamente com o tipo de som que fazem, passa a ideia de se tratar de uma banda de adolescentes apenas começando na música. Poderiam ter escolhido um nome mais criativo e chamativo. Certamente, essa é uma sensação errada e estereotipada, mas que ainda assim surge na mente das pessoas involuntariamente. No mais, grande trabalho.

Formação:
Rodrigo Rossi (vocal e guitarra);
Catiano Alves da Silva (guitarra e backing vocals);
Leandro Mantovani (contrabaixo e backing vocals);
Emerson Luiz dos Santos (bateria).

Faixas:
01 – Collision
02 – Creatures
03 – Mental Killer
04 – Controlled By The Hands
05 – Little General
06 – Glistening Lips
07 – Seven
08 – Snuff Box
09 – Time To Die
10 – Calhordas
11 – Unnamed Pills
12 – More Lies
13 – La Strega Rossa/Senza Cura

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