Resenha: Cathedral – Forest of Equilibrium (1991)

A coisa mais comum do mundo é um músico, após deixar sua banda de origem, ou simplesmente lançar um trabalho solo, afastar-se do estilo que o consagrou. Poucas vezes, porém, um artista se distanciou tanto daquilo que praticava quanto o fez Lee Dorian, depois de deixar o Napalm Death e estrear com sua nova banda, Cathedral.

O Napalm Death era conhecido pelas músicas curtas e velozes e pelos temas voltados à crítica social, características do grindcore, gênero em que se encaixa. Tirando o vocal gutural – que mais tarde também seria abandonado – tudo aqui é totalmente distinto do que o cantor fazia naquela banda.

“Forest of Equilibrium” não foi simplesmente um disco de Doom Metal: ele foi, em sua época, o superlativo do Doom, o Doom elevado ao cubo! O clima tenebroso transmitido pelas músicas nos levavam a imaginar que os temas por ela narrados se passavam naquele universo de seres bizarros da ilustração da capa. Foi também um momento de transição dentro da carreira de Lee, afinal, ele manteve o gutural que utilizava no Napalm, aplicando-o para canções de extrema lentidão. Mais adiante, ele abandonaria esse tipo de interpretação ao mesmo tempo em que as músicas ficariam com um andamento mais dinâmico, adentrando no que hoje chamamos de Stoner Metal. A faixa “Soul Sacrifice” era a única que quebrava um pouco o ritmo do disco, mais acelerada – mas não muito – e era, de certa forma, o prenúncio do que a banda iria, com igual brilhantismo, fazer adiante na carreira, explorando cada vez mais fundo as influências setentistas.

Em sua estreia, o Cathedral explorava uma forma de fazer Doom que hoje já está assimilada, mas que soou muito distinta no período. Era o tempo da explosão do Death Metal, no começo dos anos noventa, e, embora a banda percorresse outro caminho, a utilização do gutural na voz fazia a ponte entre os estilos. Tirando a já mencionada faixa “Soul Sacrifice”, todas as demais músicas refletem a autêntica sensação de horror, beleza e angústia que chamaram imediata atenção para a qualidade de sua obra. Embora o Cathedral tenha sofrido o estigma de ser mais um dos desafortunados grupos que sofreram mudanças constantemente em sua formação, Lee teve a sorte de manter ao seu lado, de forma permanente, a parceria com o guitarrista Gary Jennings, inclusive nas colaborações criativas. Foi a união dos dois que concebeu esse disco que, goste-se ou não, representou um dos caminhos alternativos que o Metal tomou durante a sua fase de incertezas, e que conduziu o Cathedral para o status de referência absoluta do Stoner/Doom metal, ocupando por direito seu espaço ao lado de monstros absolutos do estilo, como Trouble, St. Vitus e Candlemass. “Forest of Equilibrium” é um disco que eu tenho o prazer de recuperar, de tempos em tempos, e me deleitar com sua musicalidade.

Embora tenha lançado dois trabalhos históricos com o Napalm Death, a saída de Lee Dorian da banda teve efeito positivo dos dois lados. Barney Greenway foi para o Napalm e tornou-se sua representação definitiva; Lee formou o Cathedral e ajudou a formatar o novo Doom Metal, tornando-se referência até os dias de hoje.

Formação

Lee Dorrian – vocal

Garry Jennings – guitarra

Adam Lehan – guitarra

Mark Griffiths – baixo

Mike Smail – bateria

Músicas

1 Picture of Beauty & Innocence (Intro)/Commiserating the Celebration

2 Ebony Tears

3 Serpent Eve

4 Soul Sacrifice

5 A Funeral Request (Ethereal Architect)

6 Equilibrium

7 Reaching Happiness, Touching Pain

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