Umbilicalmente ao nascimento do Heavy Metal, nascia o Doom Metal. O debut do Black Sabbath, autointitulado lançado em 1970, é considerado por muitos o marco zero tanto do Heavy Metal quanto do subgênero mais sombrio do estilo, o Doom. As músicas em marcha lenta somadas aos tons menores que criam atmosferas angustiantes e sombrias são fatores preponderantes para que se identifique o Doom Metal. E tudo isso está lá no debut do Black Sabbath e em seus discos posteriores.

Ainda na década de 70, surgia nos Estados Unidos outra banda que se tornaria referência no estilo, o Pentagram. Vivendo durante toda esta década no underground, a banda liderada pelo agressor-de-mãe Bobby Liebling só veio ter seu devido reconhecimento nos anos 80, juntamente com outras bandas conterrâneas como Trouble, Saint Vitus e The Obsessed e a britânica Witchfinder General. Todas estas bandas são consideradas as pioneiras do Doom Metal oitentista. De sonoridade claramente influenciada pelo Black Sabbath, estas bandas pegaram o lado mais soturno e negro da guitarrada de Tony Iommi e sacramentaram de vez a estabilidade do Gênero Maldito. Enquanto isso, na capital da Suécia, Estocolmo, um jovem músico observava toda esta cena se desenvolvendo. Fã incondicional de Black Sabbath e de Pentagram, o jovem chamado Leif Edling também tinha outra paixão musical:

A NWOBHM. Mais especificamente, a banda Angel Witch.

Leif, sendo um músico criativo, resolveu agregar as influências de seus estilos amados na sua banda, o Nemesis, fundada em 1982. Mal sabia ele que sua criação seria bastante influenciadora no meio Heavy Metal. Não do mesmo tamanho que a influência do Black Sabbath, mas, guardadas as devidas proporções, o Nemesis seria responsável por impactar toda uma cena dali para frente.

Após lançar uma demo e um EP e ser rebatizada como Candlemass, Leif Edling recrutou os serviços do guitarrista Mats “Mappe” Björkman e do baterista Mats Ekström. A ideia musical de Leif Edling era praticar o Doom Metal do Black Sabbath e do Pentagram, mas as influências épicas de nomes como Angel Witch tornaram o som da banda mais trabalhado, com músicas maiores com mais passagens, timbres mais pesados e vocais operísticos e dramáticos que narravam as histórias das letras também compostas por Leif. Estava criado o Epic Doom Metal. E o primeiro documento deste filho do Doom e neto do Heavy Metal é o clássico Epicus Doomicus Metallicus, lançado em 1986.

Para a gravação do debut, Leif abdicou dos vocais da banda e trouxe para cuidar deste departamento o cantor Johan Längqvist, que acabara de deixar a banda de curta vida Jonah Quizz. Para completar a formação do debut, chegou o guitarrista-solo Klas Bergwall. O disco abre com a música que talvez seja o maior clássico do Candlemass, Solitude. A voz dramática de Längqvist sobre uma base de violão serve de prelúdio para um riff altamente mortal e penetrante, lento como uma tortura, melancólico como uma solidão. O ritmo lento da música mais parece um funeral que marcha dentro da mente. O álbum segue com outro clássico do Doom Metal, a épica Demons Gate, dona de outro riff magnânimo, lento e poderoso.

Leif Edling, Mats Ekström e Mats “Mappe” Björkman

O clima de contação de histórias continua com Crystal Ball, que em sua parte do meio enlouquece partindo para um Speed Metal que parte em dois o solo do talentoso Klas Bergwall (detalhe: este foi o único trabalho de Heavy Metal gravado por este ótimo guitarrista. Fica na imaginação os estragos que seria causados se ele apostasse no estilo novamente). Black Stone Wilder traz um groove empolgante que conduz um riff safado. Under The Oak, reciclada da demo Tales Of Creation, lançada em 1984 pelo Nemesis, é a única que traz um riff feito em acordes no começo. Um comentário que reforça o clima sombrio de Epicus Doomicus Metallicus é a produção mal asseada e a escolha das timbragens dos instrumentos. Tudo aqui colaborou para ajudar este disco a alcançar o patamar de clássico de um estilo e a torná-lo único. O álbum se encerra com a épica A Sorcerer’s Pledge, dona de um riff agressivo e apocalíptico. Suas mudanças de andamento e melodias grudentas finalizam grandiosamente este álbum.

Epicus Doomicus Metallicus se tornou um dos álbuns mais influentes do Heavy Metal desde então. Tanto que seu título se tornou nome de um dos subgêneros do ramo, o Epic Doom Metal. Uma grande fatia do que viria a se chamar de Doom Metal a partir de 1986 deve sua inspiração ao debut do Candlemass. Bandas como Solitude Aeturnus, Sorcerer, Solstice e tantas outras hoje em dia bebem desta fonte inesgotável. Depois daqui, a banda de Leif Edling lançaria mais clássicos do estilo, mas nunca comparados a Epicus Doomicus Metallicus em status e importância. O Gênero Maldito estava redefinido e reforçado de ideias e possibilidades.

Epicus Doomicus Metallicus – Candlemass (Black Dragon Records, 1986)

Tracklist:
01. Solitude
02. Demons Gate
03. Crystal Ball
04. Black Stone Wilder
05. Under The Oak
06. A Sorcerer’s Pledge

Line-up:
Leif Edling – contrabaixo
Mats “Mäppe” Björkman – guitarra-base
Mats Ekström – bateria

Convidados:
Johan Längquist – vocais
Klas Bergwall – guitarra-solo

 

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