É sério que esse é “apenas” o segundo disco do Brutallian??? São em momentos assim que eu questiono a necessidade que ainda temos de dividir nossas listas de destaques do ano entre bandas estrangeiras e bandas nacionais. Não é justo fazer isso aqui, pois esse é certamente um dos grandes trabalhos de 2018.
A capa replica, de forma muito criativa, a temática do punho fechado presente na arte do primeiro álbum, mas traz isso com uma gama de detalhes que poderá ocupar o fã mais atento por algum tempo… E tempo é, cada vez mais, uma palavra chave para o nosso hábito de desfrutar da música. Fique bem claro: estou falando de desfrutar, não de simplesmente escutar. Nessa época atual, em que tudo é corrido, estamos passando sempre para o próximo disco, o próximo lançamento, e a fila não para de crescer. Decerto que muitos discos não resistem a necessidade de uma nova audição, mas esporadicamente nos deparamos com aqueles que queremos revisitar. “Reason for Violence” é assim.
Passados os poucos segundos da introdução, as primeiras notas da faixa título explodem cristalinas em nossa face. Impossível não ser atraído pela qualidade da produção. Tudo muito alto, muito definido, muito pesado! A música força a mão em nossa nuca já em suas estrofes, mas fica mais intensa com a levada locomotiva da ponte e, sem aviso, comprime nossas reações com a condução voz/bateria do refrão.
Depois de décadas escutando música pesada, tenho passado por muitos álbuns que começam maravilhosos e mantém o nível até a quarta ou quinta música, para depois perderem um pouco do fôlego. O Brutallian conseguiu prender minha atenção e empolgação ao longo de toda a audição. O impulso headbanging de “Fear Inside Rage Outside” reforça a frequência cardíaca antes de oferecer-nos uma pausa com a breve instrumental “Matracada”.
O quarteto de São Luís demonstra que tem domínio de seu ofício e visão do que pretendem atingir. Sabem como levar sua música e sua personalidade do ponto A para o ponto B, alcançando os efeitos desejados. A variedade vocal apresentada por Pablo Barros deleita-se nos riffs de Lex Wave e nos graves poderosos de Fábio Matta. Raul Campos põe a cereja no bolo com uma performance impecável nos bumbos, chamando a atenção em cada momento de maior intensidade.
“The Ride” traz alternância de cadência, privilegiando os elementos de peso da composição, até a volta da velocidade em “Love Is All Around (But The World)”, com tons altíssimos na linha vocal. Depois de “Rear Naked Choke” vem a ótima e tradicional “From Hell We Are”, com um refrão tão marcante quanto o de “Real Life Is Not What You´re Looking For”. Dizer que o Judas Priest está presente no som do Brutallian é redundante, afinal o Judas está em todos os lugares, mas a marca mais evidente na rifferama e nos backing vocals são de Pantera e Anthrax, mesclados com os traços próprios dos ludovicenses. “A Tomorrow´s Nightmare” reforça algumas dessas características já percebidas em momentos diversos antecedentes, mas “Sagacious Amra”, a última faixa, impõe o lado brutalliano em primeiro plano, iniciando com força e encerrando com a perpetuação de seu coro, elaborado com carisma que poderia mantê-lo ressoando por ainda mais tempo.
Orgulha-me dizer que este trabalho foi realizado por uma banda do Nordeste, mas da mesma forma que sugeri a desconsideração dos limites nacional/estrangeiro, lá no começo, prossigo com a proposta aqui. É uma banda brasileira. É uma banda de Metal autêntica e as fronteiras geográficas ou estilísticas devem ser desconsideradas.
É uma banda de Heavy Metal.
Formação
Pablo Barros – vocal
Lex Wave – guitarra
Fábio Matta – baixo
Raul Campos – bateria
Músicas
01 Reason for Violence
02 Fear Inside Rage Outside
03 Matracada
04 Cast in Iron
05 The Ride
06 Love Is All Around (But the World)
07 Rear Naked Choke
08 From Hell We Are
09 Real Life Is Not What You’re Looking For
10 A Tomorrow’s Nightmare
11 Sagacious Amra