O quão grande deve ser um artista para ter a sua obra estudada e categorizada em fases? Tal qual Pablo Picasso, nas artes plásticas, cujo trabalho foi dividido entre o período azul, o período rosa, o período africano, entre outros, o legado de Bob Dylan para a música tem o mesmo peso que o pintor espanhol teve no seu ramo.

Mas esse diferencial não será percebido na estrutura musical tanto quanto poderá ser feito sob a ótica das letras, porque Bob Dylan é, primordialmente, mais um poeta do que um músico. Um poeta que lançou seus textos em discos, ao invés de livros, e conseguiu, dessa forma obter uma projeção maior para suas palavras. Isso, porém, não significa que as suas músicas não sejam dotadas de belas melodias e é nesse ponto que entram os músicos de sua banda de acompanhamento: Dylan sempre esteve assessorado pela nata, por instrumentistas cujo talento e desenvoltura embelezam as molduras onde ele pinta os cenários confessionais, criados a partir de suas experiências. São músicos de primeiro gabarito, como Al Kooper e Mike Bloomfield, que tornam a audição do disco um momento mais completo e cativante. Vide “Desolation Row”, com seus onze minutos de declamação, que fluem com leveza graças aos talentos envolvidos. E “Desolation Row” é apenas o momento do disco com mais similaridade ao que Dylan tinha feito até então, nos primeiros anos de sua longa carreira, já que “Highway 61 Revisited” é o álbum em que o artista finalmente abraçou o formato de banda, desagradando um pouco os seus primeiros seguidores, que idolatravam o trovador solitário que empunhava apenas um violão e uma gaita. A força de interpretação da banda é o que faz também com que “From a Buick 6”, por exemplo, seja bem mais do que um simples blues acelerado.

Dylan não se tornou o ser semi-mitológico que é à toa. Sua maneira de cantar, com um tom levemente debochado – bem evidente na faixa título – cria um clima mais pé-no-chão para suas letras elaboradas e cheias de simbolismos. O compositor, afinal, veio da escola do Folk, da música que faz com que o povo sinta-se como, realmente, um povo, e o álbum é apenas a versão eletrificada dessa linha. É a soma de tudo isso que gerou canções extraordinárias como “Queen Jane Approximately” e “Ballad of a Thin Man”, e faz com que elas soem tão fortes e tão belas aos ouvidos.

E nós ainda não falamos da música que abre o álbum e que ingressou de imediato no canône da cultura popular. “Like a Rolling Stone” completou cinquenta anos de idade e não envelheceu um dia sequer. Soa tão brilhante e atual quanto deve ter sido lá em 1965. Se merece ou não o topo da lista de melhores músicas, feito pela homônima revista Rolling Stone, vai depender da opinião de cada um, mas que ela merece estar destacada na lista é indiscutível. Dylan se reinventava com esse álbum e tornaria a se reinventar outras vezes, talvez nem sempre com tanto êxito, mas nunca deixando de manter-se na posição inequívoca de um dos maiores artistas do século XX.

Músicas

  1. Like a Rolling Stone
  2. Tombstone Blues
  3. It Takes a Lot to Laugh, It Takes a Train to Cry
  4. From a Buick 6
  5. Ballad of a Thin Man
  6. Queen Jane Approximately
  7. Highway 61 Revisited
  8. Just Like Tom Thumb’s Blues
  9. Desolation Row
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