As coletâneas são uma porta de entrada útil em muitos casos. Algumas chegam a marcar época em nossas memórias afetivas, mas não devem nunca ser encaradas como melhor opção ou a mais viável. Encare apenas como um cartão de visitas, mantendo em mente que determinadas discografias merecem ser conhecidas no todo, determinados discos precisam ser ouvidos na íntegra.

Estou falando disso porque essa foi minha porta de entrada para o Blue Oyster Cult. E a fechadura dessa porta estava emperrada, pois passei um longo período de tempo sem tentar reabri-la. Álbuns de música são obras artísticas e, reunir pedaços de várias obras, juntando-as em um único pacote, não necessariamente vai montar algo que tenha funcionalidade. Ou você acha que poderia fazer um ótimo filme de Martin Scorcese aglomerando os dez melhores minutos de cada uma de suas produções em uma mesma película?

Em algum momento, senti necessidade de retornar para aquela banda tão cultuada – sem trocadilhos – e dessa vez o fiz da forma correta. Tal qual uma fábula bíblica, os véus da incompreensão caíram e eu entendi porque eram venerados, amaldiçoando, na sequência, o tempo que passou por mim perdido e não aproveitado.

Esse disco, “Secret Treaties”, por exemplo, é tão bom que você vai elegendo suas músicas favoritas conforme elas são apresentadas, e, no final, você não consegue mais separar uma das demais do conjunto. A primeira faixa, “Career of Evil”, é um típico Hard americano do começo dos anos 70 e fica na sua cabeça por todo o resto do dia. A mesma representa uma autêntica colaboração entre os músicos da cena novaiorquina, já que a música do BOC é recheada pela letra da grande poetisa punk daquela metrópole, Patti Smith. Eric Bloom, que canta a maior parte das músicas, tem uma voz excelente para o estilo. Está mais para o suave do que para o agressivo e chega até, em alguns momentos, a lembrar o timbre de Bob Dylan, como transparece em certos trechos da segunda música, “Subhuman”.

Ao longo de todo o trabalho, o Blue Oyster Cult passeia por sua mescla de Metal, Hard e Progressivo, que, guardadas as individualidades mais herméticas, coloca a sonoridade do grupo como uma espécie de versão norteamericana do Uriah Heep, havendo similaridades inclusive na parte lírica, dada a predominância pelos temas místicos. “Dominance and Submission” prossegue com a variedade do repertório e é seguida por “ME 262”, que, para quem não sabe, é o modelo do avião que está na capa do disco. Depois de “Cagey Cretins” e “Harvester of Eyes”, o disco encerra com dois clássicos indispensáveis: “Flaming Telepaths” e “Astronomy”. Dois momentos absurdamente divinos. Duas faixas cuja vibração mescla-se com a beleza, daquela forma que faz com que você tenha vontade de entoar cada verso com ênfase. Não faltam bandas no universo para serem conhecidas. Existem aquelas que ultrapassaram os conceitos de gigantismo e existem aquelas que – justa ou injustamente – nunca se erguerão para além dos nichos. Na interseção, estão as bandas que, tenham feito – ou ainda façam – sucesso, conceberam algo tão único que o tempo e as tendências vão passar, mas o nome delas sempre será lembrado e celebrado. Assim é o caso do Blue Oyster Cult. Ouça esse disco, conheça essa banda, e vivencie um pouco do que os músicos que você admira desfrutaram em suas juventudes, os discos que eles escutavam quando estavam aprendendo a tocar.

Formação

Eric Bloom – vocal, guitarra

Donald “Buck Dharma” Roeser – guitarra

Allen Lanier – teclado

Joe Bouchard – baixo

Albert Bouchard – bateria

Músicas

1.Career of Evil

2.Subhuman

3.Dominance and Submission

4.ME 262

5.Cagey Cretins

6.Harvester of Eyes

7.Flaming Telepaths

8.Astronomy

Encontre sua banda favorita