Resenha: Blasphematorium – Blasphematorium (2019)

Capa original de “Blasphematorium”

O primeiro detalhe que constatei nesta estreia do Blasphematorium e que achei formidável foi o seu tempo: 28 minutos! Em tempos de vida corrida, onde até mesmo o sagrado sono da madrugada é encurtado por conta dos afazeres diários, ouvir um álbum curto chega a ser confortante. Enquanto várias bandas extrapolam o tempo máximo dos CD’s com álbuns múltiplos onde grande parte do material musical ali contido é entediante ou “encheção de linguiça”, resumir um full-length a 28 minutos é um forte indício de que a banda tentou comprimir no menor tempo disponível aquilo de melhor que ela poderia oferendar.

E é exatamente esta a ideia que o Blasphematorium pôs em prática em seu debut autointitulado. Lançado em maio deste ano através da parceria de vários selos, o álbum apresenta um grupo que se propõe a praticar um Heavy Metal extremo com influências que vão do Black Metal ao Heavy Metal. É como se o Darkthrone encontrasse o Cirith Ungol e o Hellhammer, sendo que nessa mistura foi incluída uma pitada de Autopsy. Os integrantes optam por não revelar suas identidades, mas isso se torna um mero detalhe quando colocamos o álbum para audição.

Rosnados que parecem emergir de profundos calabouços do infra-mundo servem de introdução para The Four Horsemen, faixa que dá início a destruição perpetrada pelos próximos 28 minutos. Um riff melódico com a palhetada tremolo típica do Death Metal nas regiões agudas do braço da guitarra, que vai sendo seguida pelo destacado contrabaixo, dá a tônica da faixa antes que ela desacelere um pouco para um trecho mais Heavy Metal. Tem-se a impressão de que os vocais furiosos foram gravados no mesmo calabouço que mencionei no início deste parágrafo graças aos realçados reverbs. Uma levada cavalgada lenta em ritmo “cirith-ungoriano” conduz a faixa 2, Monolith To Foolishness, que é uma faixa simples mas eficiente tendo em vista que é montada somente por dois conjuntos de arranjos que se alternam. É de se admirar também a excelente dicção do vocalista, o que nos permite entender o que ele vocifera mesmo que ele lance mão de um gutural sufocante e cavernoso. A veia Metal tradicional continua em evidência durante a música Decay Of Man, desta vez com seu ritmo em tercina.

Parece que o mesmo riff de The Four Horsemen será repetido em Found In The Dark, mas a impressão fica só nas primeiras notas. Em sua metade, o ritmo cai para um Doom Metal sabbathico belíssimo e de muito bom gosto. Neste momento, os vocais guturais se misturam a um vocal limpo grave, conferindo ao momento uma dose a mais de melancolia. Um dos grandes destaques do álbum (se é que é fácil dar esse título a alguma faixa) surge em Fornication Be Thy Name e sua alternância entre momentos rápidos com outros soturnos e aterrorizantes. A veia Cirith-Ungoriana retorna com força em The Blasphematorium e aqui é a vez do baterista se destacar com suas levadas nos tons da bateria que se alternam com contratempos no bumbo. O álbum se encerra com toda a aura negra e estranguladora de The Dark Council, tão assombrosa que tenho certeza que deixará uma semente em seus pensamentos que germinará em seus piores pesadelos.

28 minutos! Tempo mais que suficiente para que o Blasphematorium exibisse ao underground o melhor de seu Heavy Metal negro e blasfemo. Não precisa mais do que isso. Que este álbum sirva de paradigma para que o Blasphematorium continue no futuro a enlouquecer até mesmo demônios com composições simples, diretas, sucintas, mas ao mesmo tempo bem elaboradas, eficientes e monstruosas. Os agouros que mencionei que vinham de calabouços infernais alguns parágrafos acima se tornaram na verdade uma besta poderosa que fugiu de lá e que agora apavora e amaldiçoa o underground. Vida longa ao Blasphematorium.

P.S.: que capa genial e ousada a deste álbum, heim? Só quem não gostou foi o Facebook.

Blasphematorium – Blasphematorium (Tales From the Pit, Your Poison, Violent, Steel Swords, Tevas Nascemos, Underground Voice, Totem, 2019)

Tracklist:
01. The Four Horsemen
02. Monolith to Foolishness
03. Decay Of Man
04. Found In The Dark
05. Fornication be thy Name
06. The Blasphematorium
07. The Dark Council

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