Da mesma forma que as pequenas gravadoras disponibilizavam, para o mundo, o som das bandas underground, as pequenas editoras fazem com que chegue, para o público interessado, os livros que abordam aquelas bandas ou artistas que não estariam no radar das editoras maiores.

Nem sempre uma edição luxuosa, com capa dura e trocentas páginas coloridas, alcançará os resultados que costumamos esperar. A conclusão indiscutível é que, por vezes, tudo que o leitor quer é um texto bem escrito e, nesse ponto, ninguém questionará o talento de Martin Popoff para entregá-lo.

O escritor canadense lançou, em janeiro de 2020, a sua biografia da banda dinamarquesa Mercyful Fate e a editora brasileira cuidou para que tivéssemos acesso a esta obra com toda a sua atualidade. Desde a origem até a recente reformulação, todas as fases são analisadas e detalhadas com informações obtidas através de entrevistas com quase todos os integrantes que já passaram pela formação, mas estabelecendo um foco maior no trio formado pelo vocalista King Diamond e pelos guitarristas Hank Shermann e Michael Denner.

A espessura do livro pode enganar os desavisados, pois o conteúdo é bastante completo. O material fotográfico é reduzido, mas bem ilustrativo, e os capítulos são divididos de acordo com a ordem dos álbuns gravados. A melhor parte aqui é perceber que todas as músicas, de cada disco, são comentadas com detalhes sobre sua composição, sua letra ou as circunstâncias em que foram gravadas.

No meio de toda a explosão criativa que foram os anos 80, o Mercyful Fate precisou ser absorvido com mais atenção pelos fãs. O discurso satanista era muito claro e impactante e, por vezes, pode ter eclipsado, perante os menos atentos, a forma como aquela música era dinâmica e elaborada. Tendo sido profundamente influenciado por Uriah Heep e pelo Judas Priest dos anos 70, o som dos dinamarqueses era variado e executado de forma que o autor, acertadamente, classificou como Metal Progressivo, onde a grande maioria enxergava apenas um dos pilares do Black Metal.

E ser uma das grandes referências desse estilo, pelo menos em sua parte filosófica, é um assunto que não poderia jamais ser deixado de lado. King sempre expõe os seus pensamentos e convicções sobre o satanismo de forma serena e moderada, com uma acuidade lógica invejável. Seu lado musical também se revela como o de um indivíduo com amplo domínio de suas habilidades e que sabe precisamente o resultado que pretende atingir e os meios para fazê-lo. Nenhuma interferência pode obstruir o processo de criação do Mercyful Fate ou criar empecilhos para os rituais e procedimentos que seu vocalista realiza para desenvolver seu trabalho.

A leitura de “Black Funeral” fornecerá muitas informações e curiosidades para os fãs mais novos e, para os mais velhos, trará as mesmas sensações que trazem o manuseio de antigos álbuns de fotografias, onde lembramos de fatos e revemos velhos conhecidos. O Mercyful Fate foi – e continua sendo – aquela banda fora da curva, que destacou-se numa época em que destaques surgiam quase todos os dias. Popoff nos mostra exatamente porquê.

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