Resenha: Baroness – Purple (2015)

De duas uma: ou eu sou bastante incompetente ou o dinheiro sempre vence a arte. Fato é que, até o início desse ano, as bandas de metal que chegavam até mim eram sempre as mesmas. Não vou citar pela polêmica, mas em algum momento vi que devia realizar uma busca ativa ou terminaria meus dias vendo o Megadeth na minha timeline (ops!). E quão feliz não fiquei pela maravilhosa surpresa! Em meio a Sumac, Oathbreaker, Ustalost, Vektor e Oranssi Pazuzu, me surgiu esse Baroness, que nem me pegou de primeira, mas quando pegou foi pra passar o dia ouvindo.

Sem mais delongas, Baroness é uma banda de heavy metal (também associada ao subgênero sludge) formada em 2003 em Savannah, Georgia, nos Estados Unidos. Lançaram até hoje quatro álbuns: Red (2007), Blue (2009), o duplo Yellow & Green (2012) e nosso alvo de análise, Purple (2015). Passaram por várias mudanças de formação ao longo do tempo, sendo que neste disco a banda era composta por John Baizley nos vocais, guitarras e artes gráficas (todas as capas do Baroness, e mesmo de outras bandas, foram ilustradas por Baizley), Pete Adams, guitarras e backing vocals (substituído recentemente pela guitarrista Gina Gleason), Nick Jost no baixo e sintetizadores e Sebastian Thomson na bateria.

Purple (2015) figurou em diversas listas de melhores do ano na época de seu lançamento, tendo sido uma espécie de redenção do trágico acidente que marcou a história da banda. Em 2012, na Inglaterra, o ônibus em que viajavam caiu de um viaduto a uma altura de 9 metros. Alan Blickle e Matt Maggioni, respectivamente baterista e baixista do Baroness na época, sofreram traumas na coluna – o que ocasionou suas saídas da banda –, enquanto Baizley fraturou braço e perna esquerdos. Tanto o acidente quanto sua recuperação foram bastante traumáticos, como podemos observar pelas entrevistas e reportagens com os integrantes à época, e evidentemente, muitos dos temas e imagens pincelados nas letras de Purple fazem referência a este ocorrido.


Indo à música, o som deste disco traz muitas referências a elementos do rock n’ roll: as guitarras são sujas de fuzz, realizam belos duetos a la Pink Floyd e os solos mais se importam em ser belas melodias cantáveis pelo público do que o momento de o guitarrista se mostrar como ás em seu ofício; a bateria é equalizada com ênfase nos graves, quase sem os clicks tradicionais em estilos mais comprimidos de heavy metal; os vocais são melodiosos, rasgados e cantados com muito entusiasmo, acompanhados por belos coros em momentos oportunos. Mas não se engane, há muito peso e energia nesse disco, como um roqueiro dos mais tradicionais jamais poderia imaginar!

Morningstar abre o set com um riff pesado e complexo, referências progressivas de bateria e um grandioso refrão, articulados por pensamentos acerca de um arrependimento que tende a um martírio quase religioso. Em seguida, Shock Me aparece com o refrão mais chiclete que você vai ouvir no metal por esses tempos! Econômico, simples e matador! Um pedido por surpresas? Espero que sim!

Try to Disappear grudou na minha cabeça e não sai mais! A bela melodia do início acompanhada apenas pelas guitarras oferece uma textura menos carregada que as de suas frenéticas antecessoras, e calha de ser um muito bem programado descanso aos ouvidos. É quase uma balada, sobre um coração que se aquece em um jogo possessivo de esconde-esconde. Que atire a primeira pedra quem nunca passou por isso!

Das pesadas, Kerosene é a minha favorita! Belos diálogos guitarrísticos que se desenvolvem para um riff rock n’ roll pegado, vocais melodiosos e, mais uma vez, um refrão que pegaria qualquer tiozão daqueles que diz que a música boa está no passado. Na letra, cenas de um cotidiano desgastado, um “I’m never coming back” resignado após uma bebedeira, o amor afogado em querosene. E quando tudo estiver terminado, deite-se aliviado sob o sol e tudo vai ficar bem!

Em mais um momento de descanso aos ouvidos, a faixa instrumental Fugue traz belas melodias e duetos de guitarra que se encontram entre Any Colour You Like e Dogs, do Pink Floyd. A meu ver, cumpre a função estrutural de preparar o terreno para a maior e mais epopeica faixa de Purple, Chlorine & Wine. Lançada antes mesmo do disco completo, ela nos apresenta o flerte resistente e apreensivo com a morte, embebido na entorpecência hospitalar sentida por Baizley e seus companheiros de banda na época do acidente. Mas o clima é de esperança sentida, marcada pelos desenvolvimentos mais lentos do disco e ápices desejosos de vida acompanhados por coros de anjos no estilo das guitarras de Brian May. Quem não gostar dessa música, bom sujeito não é!

A próxima dupla The Iron Bell / Desperation Burns traz o disco de volta à energia, mas pra retratar, em minha opinião (talvez pouco confiável), dois diferentes sintomas depressivos: o tédio e o desespero, respectivamente. Na primeira, um pedido de mais, pois nada é capaz de nos livrar do vazio, e um belíssimo dueto que mais uma vez evoca Pink Floyd. Na segunda, uma energia amargamente resignada em relação aos acontecimentos – “Odeio dizer, mas havíamos vislumbrado dias melhores” – aponta para uma visão melancólica em relação ao sentimento do título.

If I Have to Wake Up (Would You Stop the Rain) é um agradecimento a todos os que ajudaram no processo de recuperação da banda após o acidente, pessoas capazes de qualquer coisa, de parar a chuva, de chamar para a vida os enfermos e deixar que eles desabassem sobre seus corpos. A sonoridade é de uma dor que, é certo, já vai passar; uma contemplação esperançosa do futuro, montada num belíssimo arranjo e com refrão afetuoso. Obrigado, Baroness!

            O disco se encerra na vinheta Crossroads of Infinity, e a coisa certa a se fazer a partir daqui é voltar para a faixa 1, repetindo o processo umas duas vezes ao dia. Boa escuta!

 

Formação:

John Baizley – Vocal, Guitarras, Arte

Pete Adams – Guitarras, backing vocals

Nick Jost – Baixo, sintetizadores

Sebastian Thomson – Bateria

Faixas:

01 – Morningstar

02 – Shock Me

03 – Try to Disappear

04 – Kerosene

05 – Fugue

06 – Chlorine & Wine

07 – The Iron Bell

08 – Desperation Burns

09 – If I Have to Wake Up (Would You Stop the Rain)

10 – Crossroads of Infinity

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