Apesar de eu considerar este um passo obrigatório para qualquer banda, a busca por uma identidade musical é uma das atitudes que considero extremamente louvável dentre as quais uma banda pode tomar. Não quero dizer que necessariamente uma banda precise chegar ao ponto de tentar criar um novo gênero musical, todavia, só o fato de o grupo em questão não querer soar como uma xérox malfeita de outro grupo já é por si só uma ideia bacana.
Os belgas do Bark não reinventaram a roda com seu Metal extremo, mas é fato que com seu novo álbum, Written In Stone, lançado no último dia 10 de dezembro, o grupo dá um passo além em sua proposta sonora que mescla várias influências reduzidas a um denominador comum. O Bark foi fundado em 2014 na cidade de Antuérpia e sua sonoridade transita de modo competente desde o Hardcore até o Death n’ Roll, passando neste caminho pelo Groove “panteriano”, o Thrash Metal e aquele Metal de aura negra ensinado pelo Venom. Tentar enquadrar o Bark em um rótulo ou mesmo em uma combinação de dois deles é tarefa complicada. E eu adoro bandas assim!
“Infiltrado” em meio aos belgas Ron Bruynseels (vocais), Toon Huet (guitarras), Jorn Van der Straeten (contrabaixo) e Ward Van der Straeten (bateria), está um “hermano” argentino. Trata-se de Martin Furia, guitarrista e produtor cujo currículo inclui passagens por JesusMartyr e The Killing e que desde meados dos anos 2010 habita o “Be” do Benelux. Dentre seus trampos como produtor, se destaca para nós brasileiros o seu trabalho junto ao Nervosa, banda a qual ele produziu seus dois últimos álbuns. Obviamente que Furia também assumiu a responsabilidade da parte técnica de Written In Stone, compartilhando-a com seu companheiro de guitarra Toon Huet e, nesse ponto, seus serviços resultaram em algo estupendo, pois a qualidade sonora no geral é ótima e cristalina no sentido de que conseguimos ouvir bem os detalhes da performance individual de cada integrante, mas aquela sujeira essencial em trabalhos do estilo ficou mantida em doses friamente calculadas. A arte de capa foi criada pelo conceituado artista brasileiro Alcides Burn, que com sua mistura de vários elementos com cores quentes e frias conseguiu plastificar bem o caos sonoro e as diferentes atmosferas com as quais nos deparamos dentro do álbum.
As 13 faixas (sim, também achei muito) são curtas e suscintas, entretanto cada uma delas é muito bem trabalhada e o balanço entre as faixas mais rápidas em meio as cadenciadas ficou perfeito, assim não existem buracos de empolgação ou, pelo contrário, longos “stints” de músicas velozes. De qualquer forma, as 13 músicas totalizam quase 43 minutos, portanto não é um álbum longo. I’m Wrecked dá início aos trabalhos derrubando portas com um ritmo frenético, enquanto sua sucessora, Hitman, coloca um pé no freio na velocidade, mas reforça a faceta pesada e esmagadora do quinteto. Outros destaques ficam por conta do D-Beat Devil Inside, da faixa-título, que parece mais o Accept tocando com afinações baixas, The Count Of Monte Fisto e seu groove moderno, o Death Metal old-school de The Spirit Of The Streets, It Won’t Lass Forever e seus bem encaixados licks de guitarra e o surpreendente encerramento com To The Grave, uma música lenta, densa e de trabalho diferenciado que se encaixou como uma luva no fim do disco.
Como este Escriba mencionou anteriormente, a produção e o ótimo trabalho de mixagem fizeram o favor de deixarem todos os instrumentos bem audíveis com ótima equalização, de modo que conseguimos identificar bem cada detalhe da performance individual dos membros, desde cada elemento melódico e de complemento feito pela dupla de guitarras Furia/Huet, passando pela cozinha forte e precisa dos irmãos Van der Straeten até chegar na raivosa abordagem vocal de Roy Bruynssels. Written In Stone é recomendado para todos aqueles que curtem um bom Metal pesado e agressivo. A receita não é nova, mas sua execução é criativa e agradará os mais diversos paladares metálicos. Aprecie sem moderação.
WRITTEN IN STONE – BARK
Data de lançamento: 10 de dezembro de 2020
Gravadora: independente
Tracklist:
01. I’m Wreck
02. Hitman
03. They Are All Dead
04. Mass Lobotomy
05. Devil Inside
06. Written In Stone
07. The Count Of Monte Fisto
08. Fistful Of Diamonds
09. The Spirit Of The Streets
10. Chain Reaction
11. It Won’t Last Forever
12. Last Breath
13. To The Grave
Line-up:
Roy Bruynseels – vocais
Martin Furia – guitarras
Toon Huet – guitarras
Jorn Van der Straeten – guitarras
Ward Van der Straeten – bateria