É um grande prazer, para mim, resenhar um álbum de uma de minhas bandas favoritas, o Avenged Sevenfold. Mais que isso, é incrível ter a oportunidade de resenhar o relançamento de um dos melhores álbuns da carreira da banda (cujo original tenho uma cópia física), o “Diamonds in the Rough”

O Avenged Sevenfold surgiu em 1999 quando os membros ainda eram adolescentes, tendo um total de 7 álbuns de inéditas em sua carreira, desde “Sounding the Seventh Trumpet” (2001) até “The Stage” (2016), além de um álbum de covers e B-sides, “Diamonds in the Rough” (2008/2020), que é o objetivo de nossa resenha de hoje. Em sua história a banda transitou por diversas influências, sendo os dois primeiros álbuns (“Sounding the Seventh Trumpet” – 2001 e “Waking the Fallen” – 2003) classificados dentro do Metalcore, o terceiro (“City of Evil” – 2005) ainda com influências do metalcore, mas bem mais guiado para o heavy metal mais clássico, o quarto (“Avenged Sevenfold” – 2007) guiado para o hard rock com várias influências, o quinto (“Nightmare” – 2010) novamente voltado para o heavy metal, porém com uma atmosfera mais pesada e obscura, o sexto ( “Hail to the King” – 2013) uma completa homenagem ao metal clássico, tendo algumas músicas comparadas a artistas como Metallica e Megadeth e o último (“The Stage” – 2016), sendo um álbum totalmente diferenciado com diversas influências de metal progressivo e rock psicodélico.
Originalmente, o álbum “Diamonds in the Rough” foi lançado no ano de 2008, entre o quarto álbum da banda ( “Avenged Sevenfold” – 2007) e o quinto (“Nightmare” – 2010), junto com o DVD “Live In the LBC”, único lançamento no formato live da banda, que ganhou o disco de platina nos EUA. O álbum continha 11 faixas, sendo elas músicas lado B de álbuns anteriores, covers de Pantera (“Walk“) e Iron Maiden (“Flash of the Blade“), além de uma mixagem alternativa para “Almost Easy” (do álbum “Avenged Sevenfold”, 2007) e uma versão alternativa para “Afterlife“, do mesmo álbum.
O relançamento se deu este ano com objetivo de disponibilizar digitalmente o álbum, pois até então não o estava. Porém, o Avenged Sevenfold, em uma jogada muito astuta, complementou o material incluindo 5 novas faixas, sendo 2 faixas extras de discos posteriores ao “Diamonds in the Rough” original ( “Lost it All“, da versão japonesa e versão Deluxe do iTunes do álbum “Nightmare” de 2010 e “St. James“, da versão Deluxe do álbum “Hail to the King” de 2013), uma faixa chamada “4:00 AM” do EP “Welcome to the Family” (2010) (que na verdade é o lado B da faixa de mesmo nome do álbum “Nightmare”), um cover de Black Sabbath (“Paranoid“, até então só disponível na polêmica coletânea de sucessos feita pela Warner) e uma faixa inédita chamada “Set Me Free“, que havia vazado há um tempo atrás na internet, mas não se havia certeza se era verdadeira.
Está programado para dia 06 de Março deste ano o relançamento em formato digital do DVD “Live in the LBC”, que provavelmente também acompanhará novidades.
Tirando “Set Me Free“, nenhuma das faixas adicionadas ao álbum é uma novidade para mim. Porém, para esta resenha, me dediquei a ouvir novamente o álbum completo para fazer uma boa avaliação (inclusive porque algumas faixas foram remasterizadas para o lançamento).

Capa exclusiva da versão digital de “Diamonds in the Rough”

A primeira faixa do álbum é “Demons“, que segue o mesmo estilo de som mostrado nos álbuns “City of Evil” (2005) e “Avenged Sevenfold” (2007), um metalcore bem puxado para o heavy metal mais clássico e com elementos sinfônicos. Na faixa, o vocalista M. Shadows exibe seu clássico vocal anasalado que foi marca do vocalista nos três primeiros álbuns. É uma faixa bem sólida, com bons riffs, um refrão bem potente, solos muito bons e um bridge limpo que ajuda a dar uma boa variada na música. O final da música é levemente repetitivo, pois repete-se o mesmo verso da música vezes demais, deixando a música com quase 6 minutos.
Em seguida temos “Girl I Know“, uma faixa que está com uma pegada muito mais heavy metal (inclusive em sua temática, que é clássica de sons de hard rock e heavy metal). É uma das melhores e mais marcantes faixas do álbum. Sua estrutura relativamente simples (mas incrementadas pelo talentoso guitarrista Synyster Gates) faz com que a música grude facilmente na sua cabeça. É uma música que poderia tranquilamente ter sido lançada no álbum “Hail to the King” de 2013, e seria melhor do que boa parte das músicas que estiveram na versão final do álbum (que particularmente é o que menos gosto da discografia da banda, mas não vem ao caso).
A terceira faixa, “Crossroads” é, indiscutivelmente a melhor faixa do álbum (pelo menos das 11 faixas originais). É uma faixa rápida, com um riff principal muito bem trabalhado, com velocidade e ainda com backing vocals do incrível The Rev, finado baterista da banda. A estrutura melódica da faixa é muito bem trabalhada. Essa faixa realmente merece um destaque neste álbum.
A seguir, “Flash of the Blade“, cover de Iron Maiden. O timbre mais médio e sujo dos instrumentos da banda com a voz mais rasgada de M. Shadows em cima da composição dá um ar moderno à música sem perder o respeito à original. É uma versão que tem potencial de agradar tanto o fã de Iron Maiden quanto o de Avenged Sevenfold. Algo que acho interessante na escolha de “Flash of the Blade” para a gravação, é que esta música pode ser considerada um “lado B” do Iron Maiden, ainda mais sendo do álbum “Powerslave” de 1984, que trouxe ao mundo “Aces High” e “2 Minutes to Midnight“, dois hits absurdos da carreira da banda.
Until the End” é a balada do álbum, iniciada com um belo solo de Synyster Gates, cheio de feeling. Durante os versos da músicas vemos algo que é um tanto raro na obra da banda ( e remete a clássicos como “Warmness On the Soul“, do primeiro álbum da banda): a voz de M. Shadows acompanhada somente de piano, bateria e elementos orquestrais, com os instrumentos elétricos aparecendo na música somente nos refrões e na ponte da música. É uma música muito bonita e talvez uma das mais emocionantes da carreira da banda.
A próxima faixa, “Tension” é um tanto curiosa. É uma faixa que encaixaria totalmente no álbum “The Stage”, de 2016, onde a banda experimentou com elementos diferentes. Nesta música temos uma vibe progressiva muito forte, com um destaque no baixo, piano e em um sintetizador totalmente diferenciado que aparece nos versos da música. Essa faixa pode muito bem ter sido o estopim para as influências que apareceram 8 anos depois em “The Stage”, e foi jogada para este álbum justamente por não caber em outros lançamentos. Para quem gostou do último álbum, vale muito a pena checar essa pérola. A faixa também lembra em alguns momentos faixas como “Victim” e “Tonight the World Dies“, do álbum Nightmare.
Em seguida, um dos maiores destaques do álbum desde seu lançamento, o cover de “Walk” da banda Pantera. Neste caso, a banda escolheu um cover um tanto quanto clichê, mas não foi uma má escolha. A voz de M. Shadows dá uma melodia a mais na música (pois o cantor não berra, somente usa de drives durante a música), e o instrumental segue bem a linha do original. Um cover bem fiel e bem válido para a obra.
The Fight” vem a seguir com uma pegada bem próxima à sonoridade comum da banda nas faixas menos conhecidas de “City of Evil” e “Avenged Sevenfold”. É uma faixa bem composta, mas não tem nenhum destaque por si só que já não seja reconhecível em outras músicas da banda.
A última faixa original que pertencia ao lançamento original, “Dancing Dead” é um destaque assim como “Girl I Know” e “Crossroads“. Aqui, a banda tenta uma pegada mais próxima ao heavy metal mais clássico também, com riffs bem simples, porém bem interessantes. O refrão é bem pegajoso (no bom sentido). Essa faixa tem a peculiaridade de ter seus solo sexecutado pelo guitarrista base da banda, Zacky Vengeance, sendo esses solos muito bem introduzidos na música. Essa faixa somente sofre de um problema que ocorreu muito no álbum “Avenged Sevenfold” de 2007, músicas que são desnecessariamente longas com objetivo de ter outros melódicas que terminam em fade, mas que tornam a música um tanto quanto maçantes no final.
A nova mixagem para “Almost Easy“, apelidada de “CLA Mix”, por ter sido feita por Chris Lord-Alge não tem uma diferença tão absurda da versão original. O vocal é colocado de uma maneira menos “seca” e com menos ênfase nos agudos, com um efeito que encaixa muito bem na música, e a guitarra parece estar um pouco mais alta no geral, tendo um destaque um pouco maior. As partes onde aparecem instrumentos como piano também receberam um destaque muito maior, inclusive no solo, melhorando muito a parte melódica da música, assim como o mesmo ocorre com os backing vocals. Não saberia dizer se esta versão é melhor ou pior que a original, e creio que nem seja esta a intenção. As duas versões têm seus destaques e valem a pena serem ouvidas.
A última faixa do lançamento original é uma versão alternativa para o hitAfterlife“. Esta também não apresenta diferenças gritantes da sua versão original, tendo somente um trabalho maior nos arranjos orquestrais presentes na música. Na música original as cordas somente se destacam na introdução e em poucas outras partes, já nesta versão temos pequenas frases de violino e e violoncelo em quase todas as partes da música, principalmente nos refrões que ficam muito mais emotivos. A ponte após o segundo refrão é a parte que mais se altera devido aos novos arranjos, e fica bem mais bonita por sinal. De mesma forma que a faixa anterior, não é melhor ou pior que a versão original, só dá destaque em elementos que a original não dá, tornando-a uma versão bem interessante para quem já gosta da original ouvir.
Iniciamos as novidades no álbum com a faixa “St. James“, uma homenagem ao falecido baterista The Rev que foi incluída como faixa bônus do infame “Hail to the King” de 2013. Conheci essa música na época do lançamento do álbum original e sempre me perguntei por que essa música não estava na versão normal do álbum, pois mesmo mantendo a mesma pegada clássica que o álbum todo tenta passar, é uma música bem melhor composta, que não tem riffs tão sem sal quanto algumas das músicas do álbum original e não parece uma música copiada de outro artista dos anos 80. Essa música vale muito a pena ser ouvida, porque é realmente o que um fã esperaria de uma música do Avenged Sevenfold com pegada mais clássica. Há algo que não tem como negar, todas as músicas feitas em homenagem ao baterista falecido são músicas incríveis, pois são feitas com o sentimento mais puro.
Finalmente chegamos na novidade, a faixa “Set Me Free“, que é a única realmente inédita do álbum, mas foi gravada junto com o álbum “Hail to the King”. A faixa é uma balada com uma pegada bem oitentista, que combina com o que a banda trouxe nas faixas mais calmas do álbum “The Stage” (2016) e na pegada dos covers da versão deluxe do álbum. É uma faixa bem agradável de ouvir, chamativa, não fica maçante e é bem melódica, uma ótima recomendação para os fãs de baladas. Inclusive, é interessante como essa faixa não fica cansativa apesar de seus 6 minutos.
Em seguida temos “4:00 AM“, faixa que foi lançada no EP “Welcome to the Family”, que foi lançado poucos meses depois do álbum “Nightmare” contendo a faixa que o nomeou, esta e uma versão ao vivo de “Seize the Day“. Não se sabe qual foi a razão exata do lançamento deste EP, pois o single havia sido lançado 2 meses antes. Provavelmente foi com único intuito de lançar a música “4:00 AM” sem deixá-la para outro álbum e sem ser um lançamento isolado. Mas quanto à música, ela consegue mesclar bem algumas influências antigas da banda visíveis principalmente no álbum “City of Evil” (2005) e as influências do álbum (na época) mais recente, “Nightmare” (2010). É uma música muito bem composta que mistura peso e velocidade com a melodia do piano no início. Assim como o resto do álbum “Nightmare”, essa música teve a bateria composta e gravada por Mike Portnoy, lendário baterista do Dream Theater que assumiu a gravação de todo o álbum e a turnê do mesmo após o falecimento de The Rev. É uma faixa bem interessante e que mereceria o lugar que algumas outras faixas tiveram no álbum original.
Na reta final do álbum temos “Lost It All“, que pertencia originalmente à versão Deluxe do iTunes (e a versão japonesa) do álbum “Nightmare” (2010). É uma música muito boa que tem a mesma proposta que as músicas deste álbum. Ela por si só não se destaca por nada em especial, apesar de ter um refrão bem pegajoso também.
Encerramos o álbum com “Paranoid“, cover da banda Black Sabbath. Essa foi a maneira da banda incluir esta versão de uma maneira “legítima” em uma obra sua. “Legítima” pois, originalmente, essa versão foi lançada na coletânea “Covered: A Revolution in Sound” (2009), que era uma coletânea de covers gravados por artistas da Warner Bros. Records, e posteriormente “Best of 2005-2013” (2016), desta vez somente do Avenged Sevenfold, também da Warner Bros. Records, a qual foi alvo de uma grande polêmica na época. Isso porque a banda tinha um contrato com a Warner desde 2004 e a máxima da indústria do entretenimento chamada “seven-years rule” indicava que a banda poderia deixar a Warner após o lançamento de “Hail to the King”, em 2013 se fosse de sua vontade, mas a Warner afirmou que a banda ainda tinha que lançar mais um álbum (e uma coletânea) para encerrar seu contrato, e que o contrato permanecia, e a coletânea foi lançada após a banda já ter mudado para a Capitol Records, sendo considerado por fãs (e pela banda) como uma obra não legítima. Desta forma, o lançamento “oficial” desta versão de “Paranoid” para a banda é neste álbum. A música em si realmente não tem nada demais. Enquanto os outros covers do álbum tiveram um maior destaque por serem releituras muito boas ou por ser uma ótima mescla do estilo da banda com o original, este não tem nada a adicionar à música original. Ficou bom, mas é só isso mesmo. Eu particularmente não achei muito legal por ser uma música com uma pegada muito clássica (e muito simples) tocada por uma banda que trabalha num estilo muito distante (mesmo que estejam se aproximando do heavy metal mais clássico). Mas ela encaixa bem com a proposta da versão Deluxe do álbum “The Stage” (2016), que apresenta covers que não tem nada a ver com a proposta original da banda, mas são bem executados pela mesma.

Para concluir esta resenha, acho melhor analisar três quesitos: a remasterização das faixas originais e o quanto elas permaneceram relevantes em 12 anos; a inclusão de músicas novas e se elas foram bem aproveitadas; e por último a relevância geral do álbum para a obra da banda.
Quanto às 11 faixas originais, como citei lá no início, sempre considerei um álbum com muito potencial que infelizmente foi ofuscado como um “brinde” para quem comprasse o DVD do “Live in the LBC”. Achei de fato muito bom a banda dar um destaque isolado para essas faixas antigas e dar uma oportunidade delas serem remasterizadas e melhor valorizadas. Pensando somente nestas faixas, continua sendo um álbum muito bom dentro da discografia da banda, que não perde em nada para os álbuns de maior sucesso.
As músicas novas foram bem escolhidas, afinal, o acesso oficial a estas faixas anteriormente era bem difícil, a menos que você tivesse uma das versões Deluxe dos álbuns, mas considerando que em geral estas versões eram vendidas somente no mercado japonês, não era uma tarefa muito simples. Então estas músicas ficaram perdidas em contas não-oficiais do Youtube para quem lembrava que elas existiam. A adição de uma faixa inédita, mesmo que não seja realmente uma composição nova, ajuda a chamar atenção para o álbum, pois nem todos se interessam por relançamentos (principalmente quem não acompanha a banda). Foi uma boa surpresa para os fãs. A organização destas novas faixas também foi bem feita, alternando músicas calmas e músicas pesadas, não somente seguindo a ordem cronológica.
Quanto ao álbum no geral, como já citei acima, é muito bom ver um álbum com um potencial enorme ganhando um destaque próprio. Infelizmente, por não ser álbum de inéditas, provavelmente não vai contar como um álbum “canônico” da banda, mas quem sabe este lançamento digital concede ao álbum o seu lugar merecido na obra geral da banda. Realmente, para mim, foi uma escolha inesperada, porém totalmente certa da banda.
Curiosamente o álbum foi lançado originalmente pela Warner Bros. e está sendo relançado pela mesma, indicando que talvez essa possa ter sido a saída que ambas as partes encontraram para resolver o processo de maneira pacífica, afinal, sendo este álbum relançado digitalmente, a gravadora colhe uma porcentagem dos lucros do mesmo, podendo desta forma (devido ao tamanho do Avenged Sevenfold atualmente) obter um valor aproximado que poderia ser calculado de lucro para um álbum de inéditas da banda. Ao menos parece que tudo foi resolvido e de uma forma que beneficia e muito os fãs.

Em geral, o álbum “Diamonds in the Rough” é um álbum extremamente recomendável para fãs, ouvintes casuais e até pessoas que estejam buscando conhecer melhor a banda. Vale completamente ser ouvido com todas as suas novidades.

“Set Me Free”, faixa inédita do relançamento de “Diamonds in the Rough”
diamonds in the rough
Avenged Sevenfold – Diamonds in the Rough
Data de lançamento: 16 de setembro de 2008/07 de fevereiro de 2020
Gravadora: Warner Records

Tracklist:
01. Demons
02. Girl I Know
03. Crossroads
04. Flash Of The Blade (Iron Maiden Cover)
05. Until The End
06. Tension
07. Walk (Pantera Cover)
08. The Fight
09. Dancing Dead
10. Almost Easy (CLA Mix)
11. Afterlife (Alternate Version)
12. St. James (Bonus track da edição limitada de “Hail to the King”)
13. Set Me Free (Inédita; gravada durante as gravações de “Hail To The King”)
14. 4:00 AM (B-side presente no EP “Welcome to the Family” )
15. Lost It All (Bonus track na edição japonesa de “Nightmare”)
16. Paranoid (Black Sabbath cover)

Formação:
– M. Shadows (vocal)
– Zacky Vengeance (guitarra)
– Synyster Gates (guitarra)
– Johnny Christ (baixo)
– The Rev (11 faixas originais e “Paranoid”) (bateria)
– Mike Portnoy ( “4:00 AM” e “Lost It All”) (bateria)
– Arin Ilejay (“St. James” e “Set Me Free”) (bateria)