Por diversas vezes desde que este redator começou sua vida metálica, ele ouviu falar de músicos que, por algum motivo ou outro, encerraram seus projetos musicais, se dedicaram a outras prioridades e voltaram a fazer música. E, quando a vontade e o comichão da música atacam forte no tato, não importa o tempo já que perdure o hiato. É chegada a hora de empunhar a arma e voltar a guerra.

Mesmo que o hiato já dure três décadas.

Considerada uma das pioneiras do Heavy Metal cearense (alguns defendem que esta banda é realmente a primeira do Metal do estado), o Asmodeus iniciou suas atividades em 1984 por alguns jovens amigos que tinham várias coisas em comum, incluindo aí o gosto pelo Heavy Metal. Em época de “tradetapes” e influenciados por Venom e Celtic Frost, o grupo chegou a compor e tocar alguns covers, incluindo uma apresentação no festival “Tempestade Metálica”, o primeiro evento de Heavy Metal realizado em Fortaleza, em 1985. Após o precoce fim em 1987, cada integrante do Asmodeus seguiu e construiu suas próprias vidas. Até que em 2015 foi levantada a iniciativa de comemorar os 30 anos da realização do Tempestade Metálica. A reencarnação do evento ensejou fortemente a ressureição de Asmodeus. Ensejo este que foi prontamente atendido.

Já que a banda ressurgiu para os palcos, por que não entrar em estúdio e perpetuar suas composições antes que outro acaso do destino dê um novo fim à banda? Somente com o baixista Anderson Frota da formação original, a nova encarnação do Asmodeus conta agora com o vocalista Elineudo Morais (Flagelo), o guitarrista Fábio Morcego e o baterista Acácio Vidal. Em 2017, o Asmodeus entrou em estúdio para gravar seu primeiro registro oficial, que foi lançado recentemente, 34 anos após a fundação da banda, o full-length Parabellum.

Em pouco mais que suficientes 28 minutos, o grupo apresenta seu Death/Thrash Metal old school. Old school mesmo! Nada de “blast-beat” ou subterfúgios técnicos que acabam por descaracterizar a essência e até a maldade do estilo. A coisa aqui foi ensinada por Venom e Celtic Frost! A lei aqui é o ritmo acelerado do Hardcore/Punk com o peso e a agressividade do ainda incipiente Death Metal oitentista. As letras vociferadas por Elineudo, já bastante conhecido na cena cearense graças ao seu trabalho a frente do Flagelo, tratam sobre as desgraças das guerras e das injustiças da humanidade, tudo bem explícito em português.

E é Guerra que dá nome a faixa de abertura; fique certo que o refrão de Guerra ficará grudado em sua mente e que você sairá solfejando o riff de Guerra a todo instante. A Guerra foi tão bem premeditada que o solo de Fábio Morcego foi praticamente soterrado pelo baixo pesado e distorcido do fundador Anderson Frota. E esta saudável Guerra (?) entre guitarra e baixo perdura por todo o álbum. Nada de múltiplas trilhas de guitarra fazendo a base para os solos de Morcego. O baixo de Frota dá conta da Guerra sozinho. É a Guerra pela Guerra, justificada pela Guerra através da Guerra.

Ao ouvir o álbum, tive duas nítidas impressões: a primeira metade é avassaladora como uma batalha travada a pleno vapor. O impiedoso panzer do Asmodeus destrói em Escravos Do Mal e na maldosa e variada Sangue De Minhas Mãos, intercaladas por uma ponte instrumental chamada PNCDBA (especule com sua mente torpe o que isto pode significar). Já a segunda metade é mais cadenciada e não tão urgente, apesar de manter o peso e agressividade dar as caras em alguns momentos. Cria-se na mente uma imagem de desolação e desespero, consequência da batalha travada na primeira metade do álbum. Ilusão, um dos grandes destaques do disco, é a responsável por inspirar a tal visão desoladora. Segue a Hardcore Tortura Mental (dona de um final frenético!) e a pesadíssima Poder Fracassado. O fim, como não poderia deixar de ser, é apocalíptico. Pobre Diabo é um quasi-Doom: lento em seu esqueleto, impiedoso em sua metade e mortal em sua completude.

Impossível um soldado voltar incólume física e mentalmente desta guerra. No mínimo, o pescoço ficará danificado e a mente reverberará cada riff maldoso, cada condução “crasheada” da bateria, cada explosão vinda do baixo do decano Frota e cada berro de Elineudo Morais por um bom tempo. Para quem esperou mais de três décadas, 28 minutos foram mais que suficientes para anunciar fortemente que Asmodeus voltou a caminhar na Terra com autoridade. Mas a banda não precisa ficar inerte por mais 30 anos para lançar mais um álbum. O som de Asmodeus agora é um mal necessário.

Recomecem a Guerra!

Parabellum – Asmodeus (independente, 2018)

Tracklist:
01. Guerra
02. Escravos do Mal
03. PNCDBA
04. Sangue De Minhas Mãos
05. Ilusão
06. Tortura Mental
07. Poder Fracassado
08. Pobre Diabo

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