Fazer Metal extremo com elementos sinfônicos não é para qualquer um. É preciso, além de criatividade, ter noção de balanço. Fazer músicas com foco nas orquestrações pode encobrir e amansar a agressividade pétrea do Metal extremo. Aqui, refiro-me tanto ao Death quanto ao Black Metal. É necessário ainda que as guitarras tenham sua posição de destaque garantidas, para que a pomposidade das orquestrações não quebre a força das cordas distorcidas e tornem as músicas enfadonhas.
Do Rio de Janeiro vem uma banda que segue essa cartilha direitinho: criatividade e balanço guitarras-teclados. Mas o As Dramatic Homage já é uma banda veterana. Fundada em 1999, o grupo já acumulou experiência e bagagem suficientes para moldar sua sonoridade com identidade e sabendo alternar momentos agressivos com outros mais atmosféricos. Liderado pelo vocalista e guitarrista Alexandre Pontes, o As Dramatic Homage tem como seu mais recente trabalho de estúdio o EP Enlighten. Montado com cinco músicas, o EP traz o Metal da banda carioca moldado no Black Metal sinfônico, com influências da escola grega do estilo, e também com momentos Prog. Se for para se basear em uma referência, misture Septicflesh com Opeth. Essa mistura de influências é tão bem trabalhada que o ouvinte absorve bem cada composição, que fluem lisas e sem interrupções rumo a compreensão, como sangue bombeado através de uma veia desentupida.
Produzido pela própria banda, gravado e mixado nos estúdios HCS no Rio de Janeiro, Enlighten traz três novas composições (sendo uma intro) que mostram como o As Dramatic Homage sabe combinar elementos de Metal extremo, Sinfônico e Progressivo, talvez os credenciando como expoentes do estilo no Brasil. Após a intro Advert, surge a regravação da música Astral Infernal, lançada originalmente na demo Atmosphere of Pain / Anthems of Hate, de 2005, exibindo um Black Metal sinfônico agressivo e imponente. Logo após, eis que surge um momento de mansidão com Praxis, toda conduzida por timbres limpos e orquestrações introspectivas, nada de peso.
Depois da calma e dos sonhos, a hecatombe acontece com a agressiva faixa-título, alternando vocais limpos com guturais agudos, é uma faixa completa, que traz todos os elementos da musicalidade do As Dramatic Homage. Após o começo tempestuoso, um momento “PinkFloydiano” toma conta do ambiente. O melhor de tudo é que estas variações fluem naturalmente, sem parecerem forçadas. Sem se notar, as bases em tremolo voltam com tudo. Por fim, a banda nos apresenta o cover para a música Full Moon Madness, clássico do Moonspell que foi bem homenageado pelos cariocas, onde a banda respeitou os arranjos originais, sem deixar de imprimir suas digitais. Originalmente, o cover foi lançado no tributo brasileiro ao Moonspell Em Nome Do Medo, lançado em 2014.
A bela arte de capa apresenta uma dualidade, que metaforiza as decisões do ser e suas consequências. Parece que, sob esse ponto de vista, o As Dramatic Homage escolheu ficar em cima do muro, musicalmente falando, sem saber se pula para o lado extremo ou se cai para o lado Progressivo. Mas isto acaba se tornando um ponto positivo, pois a banda se equilibra com maestria sobre esse muro. O guitarrista Alexandre Carreiro e o baixista Fabiano Medeiros deixaram a banda após as gravações de Enlighten. Permanecem na banda, além de Alexandre Pontes, o baterista Vinícius Rodrigues e o tecladista Leonardo Silva.
Com este direcionamento musical, o As Dramatic Homage se destaca no cenário de Metal extremo em nosso país. Que a banda de Alexandre Pontes não perca a inspiração e lance um novo full-length o quanto antes, pois este EP deixou uma sensação de “quero mais”. Aguardemos.
Enlighten – As Dramatic Homage (independente, 2016)
Tracklist:
01. Advert
02. Astral Infernal
03. Praxis
04. Enlighten
05. Full Moon Madness (Moonspell cover)
Line-up:
Alexandre Pontes – vocais, guitarras, programação
Alexandre Carreiro – guitarras
Fabiano Medeiros – contrabaixo
Leonardo Silva – teclados
Vinícius Rodrigues – bateria