Um dos fenômenos mais fascinantes do cenário de Heavy Metal brasileiro é a interiorização do estilo. Ela sempre existiu, claro, mas era, até certo tempo atrás, algo meio incipiente, estando as capitais sempre em destaque na revelação de bandas. Ao longo dos anos, porém, essa descentralização foi ganhando mais e mais força e, hoje, surgem bandas de todos os cantos do país, apresentando trabalhos cada vez mais bem produzidos.
O Apple Sin vem da cidade de Barroso, em Minas Gerais, que dista 197 km de Belo Horizonte e possui uma modesta população de cerca de 21.000 habitantes. Passando a margem da tradição estabelecida na capital de seu estado, a banda escapa dos extremismos musicais, fincando o pé na levada mais tradicional do estilo, resvalando um pouco no Prog Metal, como se fosse um Symphony X mais direto. Essa percepção advém da riqueza dos arranjos presentes em seu autointitulado disco de estréia, lançado neste ano de 2017, mas, de longe, a influência mais notória no trabalho, é a do Iron Maiden, muito nítida nas linhas de baixo de Raul Ganso, inspiradas por Steve Harris, e no vocal de Patric Belchior, cujo timbre remete a um jovem e agressivo Bruce Dickinson.
O grupo inglês tem tanta presença na musicalidade do Apple Sin que, em alguns trechos, alguém desavisado poderia titubear ao nomear que banda está ouvindo, como em algumas progressões e harmonias da faixa “Darkness Of World”, mas, na maior parte da audição, o que transparece com mais evidência é a personalidade dos mineiros, seja nas divisões das funções dos guitarristas Beto Carlos e Tainan Vilela, que se destacam sobremaneira em “Sea Of Sorrow”, seja nas melodias de baixo que ornamentam alguns refrões, quase soando como uma outra voz, em dueto com Patric, ou no impecável trabalho de bumbos conduzido pelo baterista Eduardo Rodrigues, que ainda acumulou com competência a função de produtor do álbum.
O disco, no todo, é bastante homogêneo, sofrendo algumas variações em direções opostas, como no peso que surge na introdução de “Another Day” e prossegue presente até o seu final, numa linha bem próxima ao Megadeth, ou na sonoridade mais emotiva de “Respect”, colocada na posição intermediária entre as faixas, quase como se fosse para conceder um momento de recuperação entre o impacto das que lhe precedem e a dinâmica que conduz para o final do disco.
Contando ainda com a participação especial do tecladista Phillippe Belchior, o álbum é um bem realizado cartão de apresentação de uma banda que está despontando. Embora o desempenho de Patric Belchior não seja alvo de críticas, devo dizer que gostaria de futuramente vê-lo experimentando outras texturas vocais, pois parece por vezes que ele está sempre nos tons altos, sendo que algumas linhas mais graves poderiam abrir mais possibilidades de composição, as quais tenho certeza de que a banda tem talento suficiente para explorar as possibilidades que daí surgiriam.
Na capa do disco, o vermelho da maçã é o vermelho do sangue, espalhado pela serpente, que oferece o prazer e entrega a morte. Nas fotos internas, a banda surge oferecendo a maçã ao ouvinte. Pecado é um conceito relativo que você pode considerar ou não, mas aqui, o que será lhe dado em troca, é o Heavy Metal. Heavy Metal de qualidade.
Receba a maçã…
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8.5/10