Resenha: Anvil – Forged In Fire (1983)

Quantos discos você já escutou em sua vida que foram engavetados depois de uma audição? E quantos discos você já escutou que, por anos e anos, sentiu-se impelido a repetir a experiência, sendo que, a cada vez, parece ser a primeira? A cada vez é descoberto algum detalhe da música que você não tinha percebido antes?

“Forged in Fire”, clássico-mor do Anvil e do Heavy Metal em geral. Disco lançado numa época em que a banda possuía tanta evidência quanto as demais que surgiram em sua geração. Disco que veio logo após outro grande clássico, “Metal on Metal”, superando-o por pouco, mas compondo junto com ele o que viria a ser a base do repertório das apresentações dos canadenses a partir de então.

A faixa título inicia o disco com pancadas tão contundentes quanto as de um martelo, vencido pela resistência da bigorna. Lenta – sem ser arrastada – e ameaçadora, com o grunhido dramático de Lips, carregado de vibrato, e com um de seus melhores solos, culminando em um crescendo sincronizado em perfeição com a base. Lips é um guitarrista de mão cheia e tem um estilo inconfundível de tocar. Nessa época ele estava no auge de sua performance e criatividade, com uma assinatura tão personalizada em seus solos que é possível identificá-lo em poucas notas. Sempre que ele intervem, é carregado de feeling absoluto. Não poderia ser de outra forma: Lips era – e é até hoje – um garoto no corpo de um adulto. Um fã que conquistou o direito de usufruir desse espaço chamado palco, por onde todos os seus ídolos passaram. Daí toda a sua empolgação e perseverança, que nunca desvanecem.

Não dá pra deixar de mencionar também Robb Reiner, um dos melhores bateristas de todos os tempos, tão talentoso quanto injustiçado. Imenso é o prazer de escutar o disco inteiro prestando atenção apenas em seus acompanhamentos, suas viradas e vibrar com a mesma intensidade. Posso dizer, sem exagero, que Robb é o baterista de Metal que mais se aproxima do legado de Keith Moon. Para comprovar, basta ouvir o que ele faz em “Shadow Zone”. É redundante dizer que esta é uma das melhores do álbum, pois todas têm um padrão tão elevado quanto a qualidade de vida no Canadá. “Shadow Zone” traz a velocidade para o disco e dá a deixa para a melhor música da banda – e uma das melhores já feitas no Metal – a faixa seguinte, que é…

“Free as the Wind”! Um riff simples, direto e empolgante, uma letra carregada de paixão pelo estilo. Um hino. Um épico. Um clássico. A principal faixa da trilha sonora de minha jornada nessa existência. Para a maioria, talvez, seja uma música boa e nada mais. Eu compreendo, mas para mim foi algo como os rompantes de paixão que permeiam a literatura. Ouvi a primeira vez e nunca mais a tirei da cabeça. “Never Deceive Me”, cantada pelo guitarrista Dave Allison, poderia ser considerada o momento comercial do disco, mas o peso das guitarristas fazem o devido contraponto com a voz mais suave de Dave. É a música mais diferente do álbum, mas cai com perfeição entre “Free as the Wind” e o ritmo empolgante da próxima, “Butter-Bust Jerky”.

O que seria o lado B, começa com “Future Wars”. Outro clássico maravilhoso, outro momento antológico, uma faixa de Metal tradicional de um disco que transita por todos os climas, desde o Metal clássico de “Future Wars”, passando pelo Hard Metal de “Hard Times Fast Ladies”, o Hard Rock de “Make it Up to You”, até chegar ao Thrash porrada de “Motormount”, onde praticamente não há variações de ritmo, não há espaço para respirar. É um disparo certeiro tocado em um fôlego só. A audição encerra com “Winged Assassins”, com uma boa entrada de baixo de Ian Dickson, que hoje se dedica a confeção de action figures. A música transmite a perfeita sensação de submissão perante um ataque aéreo indefensável, conforme descrito na letra.

Esse é “Forged in Fire”. Não é um mero título, não é apenas um simples jogo de palavras. O filme que resgatou a carreira do Anvil foi fundamental, é claro, mas a banda teria prosseguido independente dele, pois o Anvil foi realmente forjado no fogo! E todos que foram atingidos por esse fogo carregam, para sempre, a marca deixada por ele. Eu sei disso porque, desde que escutei esse álbum, há cerca de trinta e cinco anos atrás, bate no meu peito um coração em formato de bigorna…

Formação

Steve “Lips” Kudlow – vocal, guitarra

Dave Allison – guitarra, vocal em “Never Deceive Me”

Ian Dickson – baixo

Robb Reiner – bateria

Músicas

01 Forged in Fire

02 Shadow Zone

03 Free as the Wind

04 Never Deceive Me

05 Butter-Bust Jerky

06 Future Wars

07 Hard Times – Fast Ladies

08 Make It Up to You

09 Motormount

10 Winged Assassins

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