Alice Cooper tem uma carreira muito extensa, do tipo que se permite a existência de um ou mais tropeços no meio do percurso. Se analisarmos de forma superficial, saberemos que, realmente, existem muitos trabalhos dignos de críticas espalhados em sua discografia, principalmente se focarmos com precisão no que foi lançado entre os anos de 1980 a 1983.
Porém, mesmo os discos que sairam nesse período, não são merecedores da indiferença do público. Inquestionavelmente, são discos diferentes, voltados para um outro tipo de ouvinte, mas não são ruins. De qualquer forma, a partir de “Constrictor”, lançado em 1986, Alice voltou a ser o nosso psicótico favorito e não se desviou mais do papel. Lançou alguns disco direcionados para experimentações, como “The Last Temptation” e “Brutal Planet”, mas nunca mais se afastou essencialmente da persona que encarna tão bem. Nesse viés, percebe-se que, desde “Constrictor”, Alice tem mantido uma qualidade irretocável, tendo tido mais resultados comerciais em álbuns como “Trash” ou “Hey Stoopid”, mas nada essencialmente distante do que viria a surgir posteriormente, e é aí que enquadramos “Paranormal”
Trata-se de um disco maravilhoso, cativante, mas que acomoda-se nas nossas expectativas da música de Alice Cooper. E convenhamos que, à essa altura da carreira, Alice não está interessado em reinventar a roda, apenas em entregar boas composições, que divirtam e satisfaçam o seu público. É um equilíbrio delicado, pois necessita demonstrar tradição e modernidade em equivalência de peso na mesma balança. A faixa titulo abre o disco com a condução insidiosa que caracteriza tantas canções da obra do cantor, e que traz o acompanhamento luxuoso de Roger Glover, do Deep Purple, no baixo. A música exibe a estrutura de componente teatral que é tão peculiar ao artista, mas que fica em desvantagem quando as duas seguintes, “Dead Flies” e “Fireball”, surgem, como se fossem idéias recuperadas – e melhoradas – dos períodos de ampliada inspiração na década de setenta.
“Paranoic Personality” já tinha se apresentado como a ótima música de promoção do álbum, mas o riff que abre a canção seguinte não deve lhe levar a pensar que o disco foi inadvertidamente substituído por algum do ZZ Top. É que a pegada do guitarrista Billy Gibbons é inconfundível, e sua participação em “Fallen In Love” só poderia nos conduzir a esse tpo de blues estradeiro irresistível. “Dynamite Road” e “Private Public Breakdow” mantém a diversidade do disco, enquanto “Holy Water”, com seus acompanhamentos de metais, surge como um dos melhores momentos de “Paranormal”, ao tempo em que “Rats” coloca o Hard Rock de volta ao seu lugar.
“The Sound Of A” traz aquela aura clássica de canções como “Dead Babies”, que transitam entre o sinistro e o hodierno, mas representa também um falso final para o álbum, que reserva um momento extremamente especial para os fãs da Alice Cooper Band, com duas canções, “Genuine American Girl” e “You And All Of Your Friends”, onde os membros originais, Michael Bruce, na guitarra, Dennis Dunaway, no baixo, e Neal Smith, na bateria, se reúnem para, mais uma vez, sob a batuta do produtor Bob Ezrin, mostrar que velhas formações possuem uma magia impossível de ser replicada.
É essa magia que faz com que Alice não se afaste dos holofotes, pois ele sempre tem boas histórias para contar. Histórias assustadoras, violentas, sem final feliz, onde a única certeza de seu final é de que Alice sobrevive, Alice sempre estará por aí, como um ser de duas cabeças, encarando o passado e o futuro ao mesmo tempo…
Mas sem tirar os olhos de você.