A cena de Hardcore da cidade de New York tem um quê diferenciado dentro desse estilo. Pode-se até dizer que é um sotaque próprio para proferir seu discurso tão próprio. A força desse cenário foi tão intensa que gerou uma imensa proliferação de bandas, sendo que, dentre todas, uma das mais importantes e relevantes é o Agnostic Front.
Sem desmerecer a importância de cada músico que passou por suas fileiras, o Agnostic Front ergueu-se, e se sustenta até os dias de hoje, apoiado em dois pilares: o vocalista Roger Miret e o guitarrista Vinnie Stigma. Dois sujeitos incansáveis que já vivenciaram todos os percalços de um modo de vida longe da qualquer glamour, tendo inclusive enfrentado prisões. Sua música, da mesma forma, não se estagnou, tendo percorrido as diversas expressões do estilo, passando pelo Oi, pelo Crossover oitentista, ou pela forma mais contemporânea do NYHC. “Cause For Alarm”, lançado em 1986, é um dos clássicos de sua carreira, e é seu terceiro trabalho, se contarmos com o EP de estreia, “United Blood”.
1986 era o ano de “Master Of Puppets” (Metallica), “Peace Sells” (Megadeth), “Game Over” (Nuclear Assault) e “Reign In Blood” (Slayer), mostrando que o Thrash Metal estava em alta! No ano anterior, 1985, já tinham saído os discos “Speak English Or Die” (S.O.D.) e “Dealing With It” (D.R.I.), evidenciando que o Crossover já era uma realidade. Foi sob essa perspectiva que o Agnostic Front realinhou o seu direcionamento e gerou uma pérola do estilo. A capa caótica combina a contento com o conteúdo, que não alivia no peso e na velocidade. Em “The Eliminator”, a primeira música, tornam-se explícitos os motivos que fizeram a banda acrescentar, a partir desse álbum, uma segunda guitarra. A energia direta dos instrumentos, atacando acordes em uníssono, gera o efeito maciço que se espera de um Crossover violento. E violenta é a letra dessa faixa, que não estaria deslocada em algum disco do Slayer.
Letras, por sinal, são um caso à parte, pois a banda sofreu diversas críticas pelo teor lírico da faixa “Public Assistance”, que traz a assinatura do conterrâneo Peter Steele, em seus tempos de Carnivore. Em uma comparação genérica, seria como se alguma banda hoje, no Brasil, fizesse uma canção criticando – ou talvez ironizando – o benefício do bolsa-família, chamando-o de assistencialista. Polêmicas à parte, “Growing Concern” representa o outro lado, com crítica social mais apurada e contundente contra o establishment.
Essa última é também uma das melhores faixas do disco, junto com “Toxic Shock” e com “Out For Blood”, onde o baixista Rob Kabula inicia sua execução com aquelas tradicionais levadas que apresentam logo o riff, utilizando os timbres mais agudos do instrumento. O Agnostic Front tornou-se um dos sinônimos do estilo e hoje é mencionado como referência por uma infinidade de bandas, tais quais Biohazard, Hatebreed, Fear Factory, Napalm Death ou mesmo a brasileira Korzus, que dividiu o palco com eles, quando tocaram na América do Norte. É por isso que a audição de um disco como esse “Cause For Alarm” pode soar tão familiar, pois você provavelmente já terá ouvido os elementos que aqui foram utilizados em diversas gravações por aí. E ainda irá ouvir por muito tempo!
Formação
Roger Miret – Vocal
Vinnie Stigma – Guitarra
Alex Kinon – Guitarra
Rob Kabula – Baixo
Louie Beatto – Bateria
Músicas
01.The Eliminator
02.Existence of Hate
03.Time Will Come
04.Growing Concern
05.Your Mistake
06.Out for Blood
07.Toxic Shock
08.Bomber Zee
09.Public Assistance
10.Shoot His Load