Resenha: A Última Tentação (2016)

Não faltam, na mitologia do rock´n´roll, músicos que tornaram-se verdadeiros personagens. A lista é grande e eu nem vou citar exemplos para não ser redundante, mas esse artista aí, esse mesmo que você pensou agora, se enquadra com perfeição nessa definição.

Alice Cooper é, de longe, um dos personagens mais representativos que podemos lembrar e, o grande truque que seu criador, o cantor Vincent Furnier, teve, foi o de nunca ter definido quem Alice era de fato. Um deliquente? Um fantasma? Um demônio? Um psicopata? Um serial killer? Todas essas opções? Ou nenhuma delas? Alice será, sempre, aquilo que você mais temer.

Seria, portanto, questão de tempo até que Alice colocasse os pés nessa mídia denominada de histórias em quadrinhos. Não foi a primeira vez, claro, visto que a Marvel Comics já havia lançado uma revista do cantor/personagem em tempos passados, mas dessa vez o jogo foi bem mais elevado, pois Alice, quando iniciou o processo de criação de seu álbum The Last Temptation, recorreu a ninguém menos que Neil Gaiman.

Quem é conhecedor do mercado de quadrinhos, sabe que, no finalzinho da década de 80, houve um fenômeno nesse meio que ficou conhecido como Invasão Britânica. Escritores como Alan Moore (V de Vingança, Watchmen), Peter Milligan (O Extremista, Alvo Humano), Warren Ellis (Planetary) e Grant Morrison (Asilo Arkham, Homem Animal) tomaram de assalto a América trazendo uma proposta de renovação das histórias, com alto teor de violência, sexo e política, modificando definitivamente os quadrinhos com reflexos sendo percebidos até os dias de hoje. Neil Gaiman foi um dos que mais se destacaram, gerando uma imensa legião de fãs com o sucesso estrondoso da série Sandman.

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Quem vê alguma foto de Gaiman, imagina-o de imediato como integrante de alguma banda no estilo Systers of Mercy ou Bauhaus. Invariavelmente vestido de preto e sempre abordando, em seus roteiros, temas como morte e fantasia, parecia questão de tempo até que ele se envolvesse com mais proximidade em algo que tivesse haver com o rock.

Partiu de Alice o convite para trabalharem juntos e uma história em quadrinhos não estava na ideia original do projeto. Alice chamou Gaiman para ajudá-lo a desenvolver os temas para o disco, mas a parceria foi tão frutífera que sobraram ideias e, portanto, Gaiman sugeriu utilizar alguns dos conceitos não utilizados para lança-los numa HQ e, além de recorrer ao artista Michael Zulli para fazer as ilustrações, não deixou também de buscar a colaboração do antigo parceiro Dave McKean, consagrado capista da série Sandman e que também assinou a capa do álbum.

Na estória do livro, que foi recentemente relançado no Brasil pela Mythos Editora, em uma belíssima edição de capa dura e carregada de extras, acompanhamos a interação entre o garoto Steven, cujo nome praticamente grita a primeira referência para quem lembra do álbum Welcome to My Nightmare, e o showman, personagem que tem o rosto de Alice Cooper. Durante a festividade do dia das bruxas, em uma cidadezinha americana indefinida, haverá o encontro entre os dois e o showman fará uma proposta para Steven e, de antemão, já posso dizer que não, não é a alma de Steven que ele quer…

Mais do que isso não posso revelar, para não estragar o prazer da leitura de ninguém, mas talvez uma lida nas letras do álbum The Last Temptation possa dar algumas dicas, já que a HQ faz bastantes referências ao teor das canções daquele disco. Portanto, divirta-se com a leitura e com a experiência de ver um de nossos mais queridos mitos tão bem retratado em sua ambiguidade de sedução/malignitude e, por favor, nem arrisque me falar que HQ é coisa de criança. Não é! Não é tanto quanto não o são qualquer forma de expressão artística, como a música, o cinema, os vídeo games…

Video games? Alice já encarnou no games???? Hmm…

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