Foi empolgante receber o livro. Acabamento de luxo em material de qualidade, gerando uma ótima primeira impressão… Guardei-o por alguns dias, pois iria fazer uma viagem demorada e pretendia levá-lo para me ocupar nos momentos de descanso durante os dias em que estivesse fora.
Bom… não foi bem assim que aconteceu. Os primeiros sinais indicativos, de que aquela seria uma leitura breve, surgiram logo no início do texto, pela forma como esse se desenvolvia. A verdade é que aquela obra apresenta um teor mais resumido do que a minha expectativa imaginava. Enfim, as páginas passaram logo, o livro terminou e o restante de minha viagem ficou órfã desse tipo de lazer.
“A Bíblia da Carnificina”, lançado pela Editora Estética Torta, é um trabalho biográfico, mas o autor, Joel McIver, que escreveu a ótima bio “O Reino Sangrento do Slayer”, optou por fazer, aqui, um compêndio mais almanáquico, de rápida degustação. Inicia por cada um dos atuais integrantes tendo um capítulo para si, onde falam de suas próprias trajetórias “Eu nasci na cidade tal, meus pais eram assim, gostava da escola/não gostava da escola…”. Nessa primeira parte, me pareceu haver um equívoco na forma como o livro foi organizado, pois, se a intenção era contar a história da banda, então os primeiros capítulos deveriam ter sido os de Alex Webster ou de Paul Mazurkiewicz, que estão na formação desde o princípio. Ao contrário, o capítulo inicial foi dedicado ao vocalista George “Corpsegrinder” Fisher, que entrou no Cannibal seis anos depois de sua estreia fonográfica.
Intercalando esses capítulos, há várias páginas com algumas letras de músicas selecionadas, em inglês e em português, sendo que uma ou outra vem acompanhada de comentários dos integrantes e de convidados como Randy Blythe, do Lamb of God. Essa é uma parte bem divertida do livro, pois podemos apreciar melhor o exagero sanguinolento dos compositores e dar algumas risadas nervosas com tanta imaginação doentia.
A biografia propriamente dita vem na sequência, e esta é apresentada em forma de resposta dos integrantes para algumas bolas levantadas pelo autor. Aqui, podemos também ouvir declarações de personalidades como Brian Slagel, sobre como conheceu e contratou o Cannibal Corpse, mas também é onde reside aquele que eu considero ser o maior defeito do livro. São cerca de trinta e seis páginas, mas não temos nenhuma palavra de Chris Barnes ou de Jack Owen. O texto é bom, mas acaba por manifestar-se incompleto em sua essência, por não ter dado voz aos vários lados da história efetiva da banda.
Vale a pena, então, o fã adquirir o trabalho? Sim, vale, pois, como dito acima, o livro é uma bela peça de coleção. Capa dura com detalhes, páginas coloridas, muitas fotos e discografia completa. É bom para ter e guardar, enquanto alguma obra mais aprofundada não é disponibilizada. Há algumas histórias de festas e bebedeiras na estrada, mas muito pouco, ou, melhor dizendo, quase nada, sobre a dinâmica interna. Talvez, algum dia, possamos ter acesso a algum material onde – para entrarmos no clima proposto pela banda – suas entranhas sejam dissecadas com mais profundidade. Eles merecem isso e os fãs igualmente, afinal, como disse Mazurkiewicz, em uma das páginas, “o mundo é um lugar melhor com o Cannibal Corpse”.