A Madras é uma editora nacional que possui um catálogo de publicações bem variado, mas com um foco mais voltado para obras sobre esoterismo, religiões, coisas afins. Entre um ou outro livro, ela tem disponibilizado no mercado algumas publicações voltadas para os fãs de música, abrangendo desde livros sobre artistas Pop como Madonna até ícones do Rock como Alice Cooper, Iron Maiden, Metallica, Ramones ou Guns ‘n’ Roses.
Em 2016, as prateleiras de nossas livrarias receberam este livro sobre o Van Halen, escrito por Greg Renoff e lançado originalmente, no exterior, no ano de 2015. Se pudéssemos julgar um livro pela capa, minha primeira impressão foi a de resistência para adquiri-lo, pois de fato acho que a editora realmente pecou na arte da capa da edição brasileira. A montagem ali estampada me lembrou mais aquelas revistas ou pôsteres de bandas Pop, publicadas por subeditoras que ficam amontoados nos cantos das bancas de revistas. A capa do livro original também é feita baseada em uma colagem de fotos, mas com um efeito mais bem acabado.
De sorte, esse parece ser o único porém. Ainda não é o livro do Van Halen que eu espero um dia poder adquirir, com a história completa do conjunto, mas superou bastante minha expectativa em seu objetivo de cobrir os primeiros anos de formação da banda. Aquele período de tempo que, na maioria das biografias, é meio corrido, muito em parte pela falta de pesquisa suficiente para detalhar os primórdios de uma época em que os músicos ainda sobrevivem na casa de seus pais. Renoff conseguiu realizar um trabalho brilhante, detalhando com riqueza o início da vida musical dos integrantes do Van Halen, seus encontros e sua busca pelo reconhecimento, tendo como base um extenso rol de entrevistados, sendo que, do Van Halen, apenas o baixista Michael Anthony conversou com o autor. As declarações de David Lee Roth, Eddie Van Halen e Alex Van Halen foram obtidas, em sua maioria, de trechos extraídos de entrevistas concedidas para outros veículos ou de pesquisa em outros livros publicados tendo a banda como tema.
No decorrer da leitura, você verá que Eddie Van Halen, apesar de ser um virtuoso, dono de um indiscutível talento natural, praticou exaustivamente e estudou a fundo seu instrumento – além de amplificadores e efeitos – até que pudesse alcançar o som que almejava. Também poderá se divertir com a narração de todas as apresentações que a banda fez em festas de colégio ou na beira de piscinas, fazendo a imediata associação com centenas de filmes de comédia que provavelmente deve ter assistido, com adolescentes destruindo casas, participando de concursos de camisetas molhadas, e vai se surpreender em descobrir o quanto daqueles filmes é, de fato, baseado na realidade.
Em determinado momento, um executivo de gravadora admite que ter recusado um contrato para o Van Halen foi o maior erro de sua carreira, pois ele não entendia o que Eddie estava fazendo. Era muito inovador. Essas recusas foram uma constante para aquela banda que colocava fogo na plateia, mas não conseguia sensibilizar as gravadoras. Em nenhum momento, porém, a banda refreou a sua determinação ou a força de suas performances e, nesses trechos, sempre fica bastante claro o papel fundamental que David Lee Roth teve para a banda. Dave era constantemente criticado por conta de sua voz ou de suas limitadas habilidades como cantor, mas foi ele quem formatou o elemento de espetáculo do Van Halen, casando o seu lado showman com o talento dos dois virtuosos irmãos holandeses. O Van Halen poderia ter se tornado uma banda baseada em longas jams, na linha Led Zeppelin ou Ten Years After, mas a interação entre seus integrantes gerou um grupo que conseguiu compactar a musicalidade rebuscada em canções rockeiras de maior apelo radiofônico, que duravam no máximo três minutos e meio.
O livro cobre até o final da turnê do primeiro álbum e tem um epílogo com um breve resumo do que veio depois e da influência do Van Halen sobre o cenário Hard Rock americano e mundial. Se fica um gosto de quero mais por conta dos anos que a publicação não cobre, tenha certeza de que isso ocorre porque você realmente irá se envolver com toda a narrativa. Merece ser comprado, ser lido e, depois, guardado em um local de destaque em sua prateleira.
