O Hard Rock e com ele todas as suas vertentes é um estilo dentro do Rock que tem se reinventado ao longo dos anos, e na verdade nunca sai de moda. No final dos anos 70, quando se tornou mais evidente e relevante, as guitarras ácidas, riffs marcantes, solos eletrizantes, deram as cartas e nos trouxeram, a partir de então, nomes que se consagraram e se tornaram icônicos, flertando com a desordem, contra os bons costumes, subversivos, lascivos, e por aí vai. O Glam Metal, espalhafatoso, imoral, chocante passou a “subverter” as mentes jovens, livres, que abraçaram a causa do “Sexo, Drogas e Rock’n’Roll. Com o passar dos anos, no entanto, o estilo começou a buscar novos ares, novas ideologias, nova temática, mais pensativa e até introspectiva, trazendo à tona uma temática lírica mais adulta e responsável, por assim dizer. Assuntos sobre festas, sexo, drogas, diversões libidinosas cederam espaço para coisa como amor, família, dores da alma, reflexões da vida, como um recheio mais elaborado para dançar sobre riffs cortantes, solos inspirados, baterias cativantes. Nos últimos anos, um grande número de bandas abraçaram esse lado, digamos mais comportado do Hard Rock, mesmo que num todo não tenham se esquecido dos prazeres da vida.
Um desses exemplos, vem do interior de São Paulo, uma banda de amigos, que resolveram levar à sério o hastear da bandeira do Hard Rock. Estamos falando da 5th Machine, que acaba de lançar seu álbum de estreia, intitulado “Back in Time”, pela gravadora dinamarquesa Lions Pride Music, produzido por Thiago Bianchi. O objetivo aqui é mostrar que o Hard Rock ainda é atrativo, relevante; e por que não, sério e responsável?! Sim, tem guitarras afiadas com ótimos riffs e solos grandiosos? Claro, que tem, afinal estamos falando de Hard Rock. E isso, não falta neste álbum. Os arranjos são muito bem executados, com maestria. Ao ouvir, não há a impressão de que se trata de um debut, tamanha a qualidade dos músicos.
Os trabalhos são abertos com a faixa que dá nome à banda “5th Machine”, que em breve ganhará um clipe. A Quinta Máquina é uma edificação que se relaciona com a manufatura de locomotivas, bem como coisas relacionadas a elas. E já que o trem vai iniciar sua louca viagem, um som de uma locomotiva abre a audição, pedindo passagem. O que se ouve é um Hard Rock eufórico, pegando fogo e raivoso. A música tem um riff marcante, vocais rasgados e grandiosos, nos fazendo sacudir cada osso do esqueleto, logo de cara. Eis que surge o som do teclado, quase fantasmagórico, deixando-a mais bela.
“The Wind”, a segunda faixa, que acabou de ganhar um clipe, sendo esta o segundo single a ser lançado, tem um andamento mais cadenciado, mas com ótimo riff, com a guitarra em destaque, bem como as linhas de bateria e as vocalizações. Sua temática lírica nos remete ao amor incondicional, inalcançável, mesmo que temamos pelo futuro dos que amamos e que não podemos controlar.
“The Song of a Beggar”, o primeiro single lançado. Uma balada maravilhosa, que inicia com uma linda linha de teclados e traz vocais melodiosos e um belo refrão. Baseia-se nas experiências do guitarrista, que trabalha e reside Berlin, onde ele observa, que um mendigo, mesmo com parcos recursos é mais livre e feliz que um rico, que vive preso em suas tradições impostas pela sociedade.
A quarta faixa, “Mirrors and Bones” também inicia ao som dos teclados, porém, as guitarras comando o show. Os vocais são agudos, rasgados e cadenciados. O que se ouve é uma semi-balada grandiosa, uma das melhores do play. De repente, a melodia quebra o ritmo e entra um solo limpo, gigantesco, quase pinkfloydiano, de tirar o fôlego, de forma quase mágica.
“Until the End of Time”, também uma semi-balada, é iniciada ao som dos teclados. O andamento mais lento nos ajuda a recuperar o fôlego. A cozinha está muito bem entrosada. Um ótimo instrumental.
“Say no to Time” é uma faixa rápida, intensa e cheia de energia, com sua abertura ao som do baixo, de cair o queixo. Tem um ótimo refrão seguido de um solo floreado e grandioso, trazendo a sensação de um carro desgovernado. Ufffaaa!!!
“Home”, a sétima faixa é também forte e intensa, com vocais raivosos, numa levada mais Hard N’Heavy. Tem um entrosamento instrumental maravilhoso e um solo de guitarra sensacional. Outro grande destaque.
E a ‘bateção’ de cabeça não para com a oitava faixa “Take me Away”, um ótimo Hard Rock Clássico, nos levando de volta aos Anos 80. A faixa tem vocais mais agudos e rasgados, riff marcante por toda a sua extensão. E pra não ficar devendo, tem um solo grandioso e uma ótima linha de bateria.
A audição vai chegando ao fim, com mais três faixas. “Dreaming Nights” começa com um riff e uma ótima linha de baixo. É um Hard Clássico, com andamento divertido, que nos remete aos clássicos filmes oitentistas com temáticas do cotidiano. Tem um refrão alegre, pra cima, boas dobras vocais e backings. Instrumental grandioso, solo arrebatador e uma quebra no andamento ao final da canção.
“For All the Young”, a penúltima faixa traz uma abertura guitarrística. Ótimo sincronismo entre baixo e bateria, bem evidente. A faixa é um pouco menos intensa, porém forte e pesada. O solo é curto e floreado, na medida certa.
A faixa que dá nome ao disco “Back in Time” encerra o play. É uma canção intensa, pra cima, com as guitarras e a bateria botando pra quebrar, incendiando. Antes dos vocais iniciarem bem altos e intensos, há uma quebra na intensidade, provocando uma catarse. Uma faixa apoteótica, em todos os sentidos, com ótimo instrumental, solo grandioso e uma linha de baixo perfeita.
Após ouvir esta obra inicial, dessa banda fantástica, fica a sensação de que a locomotiva não foi posta nos trilhos à toa!!!! O álbum já está disponível nas principais plataformas digitais. Em breve será lançado também em formato físico.
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10/10