Ratos de Porão: 26 anos de “Just Another Crime… In Massacreland”

Em 20 de abril de 1994, o RATOS DE PORÃO lançava o seu sexto álbum, o primeiro gravado (quase que) exclusivamente em inglês (os três lançamentos anteriores, “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo“, “Brasil” e “Anarkophobia“, tiveram versões em inglês, mas são originalmente, álbuns concebidos na língua portuguesa).

Honestamente eu não sabia da data e fui informado pelo próprio João Gordo, no show em que a banda realizou aqui na cidade do Rio de Janeiro, no ano passado. O show fez parte da turnê que a banda faz tocando na íntegra o maravilhoso “Brasil” , que completou 30 anos em 2019 . Apesar de a maioria dos sites pesquisados por este redator apontar o lançamento do álbum ter sido em 1993, vamos respeitar o que o vocalista da banda afirmou na apresentação ao vivo, pois, ninguém melhor do que ele para falar sobre os discos de sua banda.

O disco. que é bem subestimado por muitos, pode não ser o melhor da vasta carreira da banda, mas tem o seu valor. Na época, o RATOS estava no auge de sua amizade com o SEPULTURA, abrindo shows para a banda dos irmãos Cavalera e isso se mostrou bem latente em “Just Another Crime…” A começar pela produção, que ficou a cargo de Alex Newport, líder do FUDGE TUNNEL e com quem Max Cavalera havia gravado o projeto NAILBOMB. E o cara influenciou muito o som das “ratazanas”.

Just Another Crime…” marca a estreia do baixista Walter Bart, que não ficou muito tempo no posto. A banda teve problemas com baixistas, até o início dos anos 2000, onde Juninho assumiu o posto que continua dono dele até hoje. Também marca a estreia do baterista Boka em estúdio. Ele já havia gravado o disco ao vivo (1991).

A bolacha foi gravada em dois estúdios: o famoso e extinto “Be Bop” em São Paulo e também no “Chaton Recordings”, em Phoenix, Arizona. Vamos então destrinchar cada uma das treze faixas do aniversariante do dia.

A música que abre a bolacha, “Money“, é bem densa, pesada e bastante sombria, uma coisa que o fã de RATOS DE PORÃO estranhará de cara. Mas tudo isso com uma pitada de Metal Industrial caiu bem e essa música dá uma excelente ideia do que há por vir.

Massacreland” mantém o clima industrial, com uma pequena adição do velho Hardcore da banda em seu refrão. Outra música bem interessante.

Em “Diet Paranoia“, encontraremos um RDP praticamente inconcebível, pelo menos para o fã cabeça fechada. Mas aqui a banda mostra uma pegada podemos dizer, mais Hard Rock, ainda que os guturais de Gordo sejam quase que incompatível com o termo. Em uma letra bem-humorada que critica a galera que faz das dietas uma coisa obsessiva. Vejam bem, é uma letra escrita em 1993 e que em 2019 permanece bem atual.

Satanic Bullshit” chega como uma das melhores músicas do disco e repleta de sarcasmo, desde a intro, com a famosa música “Não se Reprima”, dos Menudos, tocada de trás para frente, passando pela letra que ridiculariza os satanistas de plantão, até o som, que tem partes grooveadas, rápidas, é pesado, raivoso. Sensacional. Aqui eu destaco a bateria de Boka, com suas viradas insanas na intro.

Breaking All the Rules” faz uma honesta homenagem ao gênio PETER FRAMPTON, uma versão bem punk. Ficou muito legal essa versão.

C.R.A.C.K. (Criminals Rats Are Children Killrs)” mantém a linha moderna que a banda se propôs a fazer neste álbum, que não ficou ruim, não, pelo contrário. Uma excelente música. Lembro-me que na época do lançamento, a banda concedeu uma entrevista à extinta revista “Top Rock” (Quem tem mais de 35 anos, como este redator que vos escreve, vai se lembrar), em que as iniciais do título da música, que dão nome à droga pesada, foi a razão da saída do baixista Jabá, o que anos mais tarde fora relatado na autobiografia de João Gordo.

Videomacumba” é uma pancadaria sonora, que lembra o Hardcore praticado pela banda, mas com influências de Metal, que eles carregam desde o álbum “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo“. A letra, segundo Gordo contou na já citada “Top Rock“, trata de um vídeo com cenas bizarras em que Mike Patton (FAITH NO MORE) havia passado para Max Cavalera (SEPULTURA, SOULFLY, CAVALERA’S CONSPIRACY) e este passou para o vocalista do RDP, que transformou em letra. Outro som sensacional.

The Right Side of Wrong Life” tem riffs bem interessantes, pesados, que combinam com a bateria insana de Boka, enquanto que “Suposicollor” traz uma crítica ácida e sarcástica contra o ex-presidente Fernando Collor de Mello, em que Gordo sugere que ele cheire cocaína pelo âmago do seu ser, vamos dizer assim. O som é aquele Crossover com muito peso, a única letra cantada em português.

Real Enemies” é um som que tem partes mais cadenciadas, alternando com partes mais rápidas, moldando o som que hoje o RDP pratica. Já “Quando Ci Vuole, Ci Vuole!” traz além do som raivoso da banda, uma letra linda, em crítica ao fascismo (frase tão em voga atualmente, principalmente em países como o nosso Brasil). Essa faixa também é outra que foge do inglês como língua, aqui os caras cantam em italiano. O curioso é que no encarte, há uma foto de Benito Mussolini, criança.

“Bad Trip” chega como a melhor faixa do disco, uma música bem rápida, típica do RATOS DE PORÃO, que desafia o banger a entrar no mosh. Ela é curta e grossa. Anos mais tarde, esse som maravilhoso seria regravado no álbum “Carniceria Tropical“, sob o título “Bad Cake“. A explicação: Gordo gravou suas partes com pedaços de bolo na boca, ficando praticamente impossível entender o que ele canta.

O final se dá com a engraçada “Ultra Seven no Utra“, uma versão dos caras para a música-tema do seriado do estilo “Tokusatsu“, o clássico Ultraseven. Gordo conta em sua biografia que era fã deste tipo de seriado. Em 42 minutos temos uma banda fazendo um som bem cru e embora tenha flertes com um som mais moderno, o resultado é muito bom.

Minha relação com este álbum é ótima. Foi o primeiro álbum de músicas inéditas do RDP que eu adquiri (eu já tinha comprado o “Feijoada Acidente? – Brasil” antes e tinha em fita cassete ao álbum “Vivo”) e apesar de este ser um disco bem diferente de tudo que o RDP fez na sua vasta carreira, é um disco muito bom e não deve ser relegado a segundo plano. Vamos torcer para que João Gordo fique 100% logo e volte a se apresentar com a banda tão logo essa pandemia do novo Coronavírus chegue ao seu final. Longa vida ao RDP. Um ótimo disco para se ouvir hoje e não se esqueça, siga as recomendações da OMS e fique em casa.

Just Another Crime… In Massacreland – Ratos de Porão
Data de lançamento: 20/04/1994
Gravadora: Roadrunner

Tracklisting:
01 – Money
02 – Massacreland
03 – Diet Paranoia
04 – Satanic Bullshit
05 – Breaking All the Rules
06 – C.R.A.C.K. (Criminals Rats Are Children Killers)
07 – Videomacumba
08 – The Right Side of  a Wrong Life
09 – Suposicollor
10 – Real Enemies
11 – Cuando Ci Voule, Ci Voule!
12 – Bad Trip
13 – Ultra Seven no Uta

Lineup:
João Gordo – Vocal
Jão – Guitarra
Walter Bart – Baixo
Boka – Bateria

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