Bandas que passam por processos de gênese como o Rainbow são pontos fora da curva. Não precisam atravessar a via crucis de tantos outros artistas, pois já debutam com um selo de interesse. Ser o novo projeto de um guitarrista como Ritchie Blackmore é uma queima de etapas automática.
Esse status prévio foi também o que permitiu que a banda rapidamente se tornasse um playground de gênios, através das mudanças de integrantes ocorridas em seu processo adaptativo. Esse, porém, foi um benefício tênue, pois as mudanças não pararam, seja pelos egos, vaidades ou motivadas pelo desejo de retorno financeiro rápido, onde sucesso artístico se confunde com sucesso comercial. Todas essas situações estavam refletidas no momento vivido pelo Rainbow na época de “Long Live Rock’n’Roll”.
Estando a comemorar o apagar de quarenta velinhas, pode-se dizer que o tempo tem sido generoso com o disco. Ele não transparece claramente a sua idade, não tem rugas, parece ser mais novo do que o transcurso cronológico denuncia. Uma parte dessa impressão deve-se ao fato da ampla influência exercida pelo conjunto no Metal atual, precipuamente nas bandas e artistas que colocam a fantasia e a melodia em primeiro plano, sintonizando-se com o imaginário de tantos fãs que acreditam ser esta a expressão mais autêntica do que é Heavy Metal. Embora a imagem da capa dê algumas falsas pistas, os méritos da obra são mais justos quando divididos por três do que por cinco.
Não é pelo fato do nome de Cozy Powell ser creditado como co-compositor de apenas duas faixas que ele terá menos influência sobre os resultados do disco do que Dio ou Blackmore, que assinam todas as demais. Powell era um baterista cuja personalidade não era passível de contenção e o que ele fazia gerava reflexos nos demais tal qual as ondulações de uma pedra jogada na água. O posto de tecladista foi alterado no decorrer da produção do disco, enquanto que as partes de baixo seriam realizadas pelo próprio Blackmore. O repertório por pouco não descambou para a inconsistência que poderia advir da incompatibilidade de opiniões entre Blackmore, que queria mais acessibilidade e menos magia, e Dio, que desejava prosseguir na linha pela qual a banda já vinha trafegando, aprofundando uma identidade. Ao contrário das exuberantes peças que fizeram de “Rising”, o disco anterior, um divisor de águas, o terceiro disco caracterizava-se pela presença de faixas mais curtas.
Foi fundamental a atuação de um produtor seguro como Martin Birch, que também vinha de “Rising”, para estabelecer o equilíbrio e evitar que tudo se encaminhasse para uma colcha de retalhos. Deve se dizer que ele obteve sucesso, pois embora menos grandioso que seu antecessor, “Long Live Rock’n’Roll” mantém o nível em alta, e entra para a história como um clássico da discografia do Rainbow e do Rock pesado em geral. Desde os tons épicos da magnífica “Gates of Babylon” ao clima mais descontraído de “Sensitive to Light”, o álbum percorria diversas searas e encerrava seu trajeto com a elevação de ânimos. A última música, a belíssima balada “Rainbow Eyes”, ornamentada pelo acompanhamento orquestral, encerra simbolicamente uma fase. Quando ela termina, é necessário o transcurso de alguns instantes de silêncio respeitoso. Ali acabava o Rainbow. Outro Rainbow surgiria. Outros Rainbows surgiriam, melhor dizendo. Mas a magia luminosa dos reflexos de um arco-íris não teriam o mesmo significado refletido na primeira fase.
Formação
Ronnie James Dio – vocal
Ritchie Blackmore – guitarra, baixo
Cozy Powell – bateria
Bob Daisley – baixo em “Gates of Babylon”, “Kill the King” e “Sensitive to Light”
David Stone – teclado em “Gates of Babylon”, “Kill the King” e “The Shed”
Tony Carey – teclado em “Long Live Rock’n’Roll”, “Lady of the Lake” e “Rainbow Eyes”
Músicas
1.Long Live Rock’n’Roll
2.Lady of the Lake
3.L.A. Connection
4.Gates of Babylon
5.Kill the King
6.The Shed (Subtle)
7.Sensitive to Light
8.Rainbow Eyes