Existem tantas histórias legais de quando as pessoas começaram a ouvir Rock, de como descobriram discos na coleção de parentes, etc e tal… A minha poderia ser uma dessas, poderia ter iniciado mais cedo do que de fato aconteceu, mas ficou mais para o tipo “já que não foi da primeira, vamos tentar de novo”… Explico: em 1981 eu tinha doze anos e não possuía nenhum contato com nosso estilo musical preferido. A diversão dos finais de semana era a família ficar na casa de praia de um tio, no litoral de Fortaleza. Em um daqueles dias, um primo mais velho me disse que à noite seria transmitido o show do Queen no Brasil, pela televisão. Não fazia a menor ideia do que ele falava. Creio que perguntei o que era Queen e ele deve ter explicado alguma coisa. Quando chegou a hora, a minha única lembrança é de ter visto um pouco de relance o tal show, em uma minúscula televisão preto-e-branco, com imagem péssima e som pior, incapaz de animar muito qualquer pessoa. Ficou na memória apenas a presença do vocalista da banda, jogando de volta na plateia as coisas que atiravam em cima do palco, sem parar de cantar…
Um pouco frustrante, como se vê. Vou botar a culpa na pequena televisão, que na praia não tinha grande qualidade de recepção, e na sempre desestimulante transmissão de shows por tv (que se hoje ainda não é grande coisa, imagine na época), por terem sabotado em pelo menos um par de anos o que poderia ter sido meu começo de vida no Rock´n´Roll.
E que começo seria! O Queen estava, naquele ano, fazendo a turnê de um de seus melhores e mais bem-sucedidos álbuns: “The Game”. Tendo sido sempre multifacetado, a ponto de hoje não ter sucessores com legitimidade, o grupo vinha com um disco mais homogêneo do que costumava apresentar. Rock e Pop, basicamente, sem Ópera, Vaudeville, ou qualquer outra das sonoridades que a banda conseguia, com incomparável talento, inserir em sua música sem parecer dispersa e sem perder a identidade. A abertura e o encerramento do álbum eram representados por “Play the Game” e “Save Me”, duas daquelas canções bombásticas, carregadas de emoção, que eles faziam como ninguém. No recheio, tinha pérolas Pop como “Need Your Loving Tonight”, “Dragon Attack” e “Sail Away Sweet Sister”, lastreando hits mastodônticos do quilate do Heavy Funk “Another One Bites the Dust”, conduzido por uma das linhas de baixo mais facilmente reconhecíveis da história do Rock, e o espetacular Rockabilly “Crazy Little Thing Called Love”, canção que me traz lembranças fraternas, além de evocar um sentimento de época não vivido.
A capa do disco foi meio qualquer-nota. Uma foto tirada das sessões de gravação do clip de “Crazy Little Thing…”, mas esse foi um ínfimo detalhe, devidamente desconsiderado pelo público consumidor, que fez com que o álbum explodisse nas paradas. Aliás, o sucesso foi tanto que, controversialmente, afetou a banda no futuro, quando, na tentativa de repetir a pegada de “Another One Bite The Dust”, quiseram funkear ainda mais o som, no malsucedido álbum “Hot Space”.
“The Game” não é o melhor disco do grupo, é claro, mas representa o ápice da habilidade do Queen em ser elaborado e acessível ao mesmo. Até chegar nele, foram sete anos e sete discos. A lenda já estava consolidada. O jogo já estava ganho.
The Game – Queen
Data de Lançamento: 30/06/1980
Gravadora: EMI
Tracklist:
01 Play the Game
02 Dragon Attack
03 Another One Bites the Dust
04 Need Your Loving Tonight
05 Crazy Little Thing Called Love
06 Rock It (Prime Jive)
07 Don’t Try Suicide
08 Sail Away Sweet Sister
09 Coming Soon
10 Save Me
Formação:
Freddie Mercury – vocal
Brian May – guitarra
Roger Taylor – bateria
John Deacon – baixo