Queen: 40 Anos de “News Of The World”

A imprensa adora apelar para o exagero: “O maior isso…”, “O melhor aquilo…”, “O fim de nãoseioquê…”. Em alguns casos pontuais, pode ter acertado, mas muitas dessas previsões bombásticas revelaram-se plenamente equivocadas.

Em 1977, a profecia apocalíptica mais repetida era a de que o Punk Rock veio para promover a derrocada dos dinossauros do Rock. Bandas como Led Zeppelin, Pink Floyd e Yes iriam sucumbir aos três acordes que traziam o Rock de volta para a sua essência. O que aconteceu foi o que acontece a cada vez que uma “nova onda” surge. Há um período transitório, em que parece não se falar de outra coisa, até que a terra remexida vai aos poucos se acomodando e tudo acaba por retornar ao status quo anterior, apenas com a diferença de novos elementos que passam a integrar a nova ordem.

Após cinco discos, o Queen já era uma força consolidada no Art Rock e, portanto, era um dos alvos do Punk Rock. Como bons profissionais do meio artístico, eles não estavam alheios ao que acontecia, mas também não viam motivos para preocupação. A música do Queen já era um caleidoscópio de tantas vertentes que, absorver algo do Punk seria apenas a inclusão de mais um ingrediente na receita. “News Of The World” veio ao mundo com arranjos um pouco mais simplificados do que costumavam apresentar e isso foi motivo para serem acusados de estarem tentando se acomodar junto ao Punk Rock. Há, de fato, acenos para a tendência, mas esse não foi o único motivo pelo qual o álbum soou mais direto.

Naquele período, o Queen vivenciava uma rotina extenuantemente intensa. Shows, entrevistas, programas de TV… Cansaço! Essa condição foi basilar para que as músicas viessem ao mundo como se apresentam. Resolvia-se logo a gravação, com menos overdubs, menos experimentações e pronto. Após dois meses de trabalho, o disco já estava pronto para ser liberado. A essência de sua música ainda estava lá, apenas com os elementos de crueza proporcionados por uma produção mais enxuta.

E o Queen tinha a habilidade para reconstruir qualquer coisa que lhes caísse nas mãos. O Punk era minimalista? Bom, não se poderia ser mais minimalista do que “We Will Rock You”! O disco abria com uma faixa em que não havia nenhum instrumento musical, apenas palmas e quatro pares de pés batendo em sincronia na madeira do tablado sobre a qual repousava a bateria de Roger Taylor. Apenas nos segundos finais surge um solo de Brian May, com efeitos de phase.

Só por “We Will Rock You” o disco já poderia ser considerado histórico, afinal trata-se de uma daquelas músicas que ampliaram a sua existência para além da banda, sendo repetida intermitentemente em grandes eventos, principalmente aqueles ligados aos esportes, mas a faixa seguinte revela-se com as mesmas intenções e com a mesma natureza de sobrevida. Embora “We Are The Champions” seja mais melódica e emocional, ela também veio a se tornar um hino das massas populares. Pode-se até definir que “We Will Rock You” é a música que antecede o evento, para aquecer o sangue, e “We Are The Champions” vem ao final, para celebrar a vitória.

Na sequência do álbum vem “Sheer Heart Attack”, que teve que aguardar três discos para ser lançada, pois não teve tempo de ser finalizada para entrar no disco homônimo de 1974 e, tampouco, caberia nos álbuns que lhe sucederam. Tanto ela, como “Fight From The Inside”, já estavam programadas para entrar em um futuro disco solo de Roger Taylor, pois esse achava que elas não se adequariam no que o Queen estava fazendo, mas encontraram seu devido lugar nesse disco. Essa última apresenta uma levada mais funkeada e não apenas é cantada por Taylor, como todos os instrumentos são tocados por ele, inclusive a guitarra, apesar de May também participar.

May, por sinal, além de cantar no madrigal de “All Dead, All Dead” e no Blues pegajoso de “Sleeping On The Sidewalk” – com linhas de walking bass de John Deacon –, pôde se divertir com as inserções de guitarra de “Get Down, Make Love”, cujos arranjos sofreram inspiração de “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin, e com os tappings feitos em “It´s Late”, bem antes de Eddie Van Halen popularizar a técnica. Deacon, por outro lado, larga o Fender Precision somente na hora de assumir o fretless em “My Melancholy Blues” e o violão, juntamente com May, na alegre balada “Who Needs You”, que é de sua autoria. Da mesma forma, saiu de suas mãos o remanescente clássico desse álbum, a semi-épica “Spread Your Wings”, cuja letra otimista harmoniza-se com os temas característicos das canções de Deacon e cresce em impacto graças a interpretação de Freddie Mercury.

Se era desejo do Punk vitimar o Queen, tal qual o fez o gigante da capa ilustrada por Frank Kelly, ele falhou miseravelmente. “News Of The World” tornou-se um de seus discos mais vendidos e o Queen cresceu como nunca, ampliando a legião de súditos ao serviço de Sua Majestade.

Formação

Freddie Mercury – vocal, piano

Brian May – guitarra, vocal em “All Dead, All Dead” e “Sleeping on the Sidewalk”

Roger Taylor – bateria, vocal em “Fight from the Inside”

John Deacon – baixo

Músicas

1.We Will Rock You

2.We Are the Champions

3.Sheer Heart Attack

4.All Dead, All Dead

5.Spread Your Wings

6.Fight from the Inside

7.Get Down, Make Love

8.Sleeping on the Sidewalk

9.Who Needs You

10.It’s Late

11.My Melancholy Blues

 

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