Produtores – Anos 80 – 1a Parte

Anos 80. Considerada por tantos como a década perfeita, esse período deixou um legado que até hoje mantém sua força sobre a música Pop ou o Rock. A música passou a ser mais visual, com a chegada da MTV, e as produções de discos olharam para esse aspecto. Essa é a primeira parte em que falaremos de alguns dos principais produtores desse período, sendo que a maioria prossegue apresentando novas ideias, novos caminhos…

ALEX PERIALAS

Passado o levante da NWOBHM, uma nova e furiosa onda se erguia no território do Metal. Uma massa bruta que assim deveria permanecer, sem refinamento, e Alex Perialas foi um dos que ajudaram a estabelecer os alicerces do que viria a se chamar Thrash Metal.

Alex foi um produtor e engenheiro de som que teve os anos mais prolíficos de sua atuação durante o decorrer da década de 80. Seu diferencial foi perceber que aquela nova maneira de tocar, de palhetar e gerar acordes, não poderia ser captada pelas formas até então tradicionais. Isso credenciou-o para atuar como engenheiro em discos históricos como “Live at the Inferno” (Raven), “Fistful of Metal” (Anthrax) e “Violence & Force” (Exciter), passando depois a assumir a produção efetiva em trabalhos de bandas como Testament, Carnivore, Nuclear Assault, Flotsam & Jetsam, Holy Moses e, mais recentemente, ícones do Punk Hardcore como Bad Religion e Pro-Pain.

Foi justamente na área do Hardcore que Alex colaborou com a criação de um clássico absoluto, quando prestou atenção nos riffs que Scott Ian produzia durante os intervalos de gravação de “Spreading the Disease”. Com o aval de Johnny Zazula, Perialas e Ian trabalharam em cima daquele material e partiram para a gravação, que levou o tempo limitado de três dias e veio ao mundo com o nome de “Speak English Or Die”, da banda/projeto S.O.D.

O produtor é dono do Pyramid Sound Studios, que fica em Ithaca, New York, além de ser também o diretor do programa de Tecnologia de Gravação de Som no Ithaca College. Isso, porém, não lhe poupou dos transtornos que vem passando em relação a preservação do local, pois as obras de uma ponte, nas proximidades do estúdio, tem levado engenheiros municipais a condenarem o prédio do Pyramid. Perialas entrou numa disputa judicial com a Prefeitura, alegando que não lhe foram concedidos relatórios e prazos condizentes, impedindo-o de tomar as providências necessárias para ajuste e o litígio ainda prossegue. Nesse ínterim, deixou de realizar produções por conta da sensibilidade dos equipamentos que não podem operar sem monitoramento das condições climáticas do estúdio. Espera-se que uma solução seja logo encontrada, pois não são apenas paredes e aparelhos eletrônicos. É um local de contexto histórico e cultural, que ressoou para além daquelas portas e dominou o mundo.

 

MUTT LANGE

A maior dificuldade de falar sobre Mutt Lange é o fato de que o próprio não fala sobre si. Mutt Lange não dá entrevistas. É uma pena, pois quanto não poderíamos absorver deste sul-africano, nascido em 1948, responsável por alguns dos mais bem sucedidos álbuns de Rock já concebidos. Robert John “Mutt” Lange é descrito por Trevor Rabin, ex-guitarrista do Yes, como um perfeccionista. Decerto que ele é e, também, alguém com talento e segurança suficiente para não se dobrar as tentativas de intimidação sofridas quando trabalhou com o AC/DC. Em qualquer momento que fosse desafiado, naquela linha de “você sabe mesmo o que está fazendo?”, Lange virava o jogo a seu favor e mostrava o acerto de suas posições.

Antes de chegar ao AC/DC, ele já tinha conseguido alguns hits com a banda de Bob Geldof, The Boomtown Rats, e o que lhe trouxe até os australianos foi o interesse destes em ampliar seu alcance na América do Norte. Por mais que Bon Scott fosse um ícone, haviam alguns executivos que discutiam se aquele tipo de voz não era o entrave que impedia a banda de crescer mais. Lange trabalhou individualmente com Scott, em sua forma de cantar e opinando um pouco sobre as letras, e obteve, não apenas do vocalista, mas de toda a banda, a performance em estúdio que consagrou-se no álbum “Highway to Hell”.

Indo além desse resultado, o produtor auxiliou a banda em seu momento mais difícil, após a morte de Scott e entrada de Brian Johnson, e transformou aquela fase de transição no segundo disco mais vendido da história: “Back in Black”! Sua parceria com o AC/DC ainda renderia o disco “For Those About to Rock”, mas seu nome viria a ficar perenemente vinculado ao de uma iniciante banda inglesa que, tentando se afastar da pecha de ser considerada Heavy Metal, com a qual não se sentiam à vontade, tiveram em Lange o mentor para estourarem nos Estados Unidos, conforme sonhavam. Ainda hoje, os álbuns “Pyromania” e “Hysteria” são os referenciais quando se fala em Def Leppard.

Lange foi o produtor responsável por alguns dos maiores hits de nomes como Foreigner, The Cars, Bryan Adams, Michael Bolton e da cantora Shania Twain, com quem esteve casado por certo tempo. Se hoje, o mercado de música não repete mais os números astronômicos do passado, Lange não se ressente disso, pois seu legado já está sedimentado, mas ele permanece ativo, produzindo artistas de renome dentro do cenário de Rock/Pop atual, como Nickelback, Maroon 5 e Muse, com quem realizou seu último álbum, intitulado “Drones”.

 

CHRIS TSANGARIDES

Chris Tsangarides tem uma visão realista dos passos que cumpriu para que o Heavy Metal progredisse da forma como aconteceu. O garoto que aprendeu a tocar piano na infância, começou sua carreira de produtor colocando seu nome nos créditos de um clássico, como engenheiro de som no álbum “Sad Wings of Destiny”, lançado pelo Judas Priest em 1974.

Pouco tempo depois, seria convidado por Gary Moore para a produção do álbum “Back On The Streets”, que colocou seu nome no mapa e, por essa razão, é considerado um de seus principais trabalhos, ao lado de outros como o disco “Metal On Metal”, do canadense Anvil. Tsangarides considera que esse álbum foi o modelo para que as emergentes bandas de Thrash fossem orientadas para a velocidade, sendo que esse era um conceito cuja aceitação foi sendo descoberta posteriormente e, eventualmente, replicada e aperfeiçoada na próxima parceria com o mesmo Anvil, no disco “Forged in Fire”.

Na sequência de discos que lhe foram fundamentais, Chris ainda menciona “Thunder and Lightning”, do Thin Lizzy, que teria se tornado uma referência para o cenário metálico inglês e, finalmente, “Painkiller”, seu reencontro com o Judas Priest, que lhe proporcionou uma indicação ao Grammy e consolidou-se como a mais emblemática peça representativa da virada de século para o Heavy Metal mundial.

Tsangarides investiu em sua própria empresa, denominada Rainmaker Music, que possuía um estúdio próprio em Londres e, posteriormente, abriu o estúdio The Dump, que manteve até 2006. Sua última investida nessa área foi o Ecology Room Studios, em Kent, na Inglaterra. O local fica em uma área de cinquenta hectares e dispõe de hospedagem para os artristas, que podem relaxar entre as sessões, desfrutando da tranquilidade e do isolamento. No documentário “The Story of Anvil” é possível vislumbrar como são as acomodações e os arredores, podendo-se constatar que realmente é um ambiente diferenciado.

Trazendo em seu currículo a assinatura de trabalhos com artistas do naipe de Ian Gillan, Yngwie Malmsteen, Loudness, Angra (“Fireworks”) e Bruce Dickinson, em seu primeiro disco solo, “Tattoed Millionaire”, pode parecer que o produtor atue exclusivamente no campo do Metal, mas ele já efetivou colaborações com bandas de estilos diversos, como Depeche Mode, Killing Joke, Concrete Blonde e Human League, fazendo questão de afirmar que seus critérios para realizar uma produção são apenas sua avaliação se aquilo é bom e se poderá trazer algo que possa acrescentar, enriquecer o resultado a ser obtido.

Entre suas técnicas de gravação, a mais conhecida é a denominada “the vortex”, que gera um efeito semelhante ao reverb, mas que é obtido através do posicionamento dos microfones. Isso confirma suas inúmeras declarações onde ressalta o apreço pelos métodos mais artesanais de captação de som, com fitas analógicas e repetição de sessões até que se obtenha o tempo correto, em detrimento de modernidades como Pro Tools e afins, embora tenha plena ciência que os orçamentos atuais, em voga no mundo da música, buscam as soluções mais rápidas e econômicas, forçando que práticas mais tradicionais tenham que ser postas em escanteio.

Consagrado em sua profissão, ele revela que Metallica, Muse, Slayer, Them Crooked Vultures e ZZ Top são alguns dos artistas com os quais ainda gostaria de trabalhar. Conhecendo seu histórico, é difícil não se empolgar com a possibilidade de que alguns desses projetos ainda não venham a acontecer. Quem sabe se, quando terminar a autobiografia que está escrevendo, algumas dessas expectativas já não tenham se tornado realidade?

 

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